Marco Bosco no palco Marco Bosco – foto: divulgação / Daniel Lopes

“Meu maior produto fora do Brasil é ser brasileiro” – Marco Bosco, percussionista vencedor do Grammy, fala sobre os 40 anos de carreira e a parceria com nomes como Nina Simone

Adriana Arakake
Por Adriana Arakake

Percussionista brasileiro que já tocou com nomes como Nina Simone e Hank Jones celebra 40 anos de carreira com álbum repleto de convidados estelares.

 

A natureza transformada em música. é assim que sinto muitas das composições e sons criados pelo mestre Marco Bosco, com quem tivemos a honra de bater um papo muito legal sobre sua obra, carreira e essa deliciosa relação com a natureza vinda principalmente da origem dele, uma pequena e linda cidade do interior paulista.

Sentir, porque quando ouço a canção Sunset Colors, por exemplo, me sinto numa floresta tropical, com aqueles raios mornos de sol entrando pelas frestas da mata. Essa viagem faz parte do disco em parceria com Tsuyoshi Yamamoto, Live at Brazilian Embassy, Koala Record, 2014 e contem também standards do Jazz e da Bossa Nova, como Naima, Caravan, Amor em Paz, entre outras.

O músico se apaixonou por percussão depois de ouvir Fingers, álbum de Airto moreira, lançado pela gravadora CTI, em 1973. Começou profissionalmente nos anos 1970 e já tocou com gigantes da música como Sérgio Mendes, Hank Jones, Rita Lee, Nina Simone, Egberto Gismonti, Maestro Rogério Duprat, Raul de Souza, Nelson Ayres, Wanderléia, Raul Seixas, Baby do Brasil, Belchior, Adoniran Barbosa, Zé Geraldo, Pena Branca & Chavantinho, Zé Rodrix, Caetano Veloso, Elza Soares, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Maestro Moacir Santos , e muitos, muitos outros.

Em 2014, gravou o disco Tokyo Diary, com a participação de Airto, e ainda, Flora Purim, Oscar Castro Neves, Cesar Camargo Mariano, o pianista Paulo Calasans (com quem lançou o álbum 33, em comemoração aos 33 anos de parceria) e Jane Duboc.

No começo da carreira aprimorou sua arte com Paulo Simões Silva e José Ulisses Arroyo, músicos integrantes da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas/SP, entrou na orquestra dos Irmãos Pantera, que tocava em um bordel de Campinas.

“Surdo, congo, bongo, ganzá e nada mais, não precisava mais nada, só que a noite inteira música para dançar muito, uma baita escola”.  Depois foi para um lugar “que tinha que ter filme, chamava se O Cangaceiro, com o Roberto Luna, o Germano Matias e um grupão de samba” nos conta Bosco. Apenas o começo de uma longa carreira desse artista tão talentoso.

Versátil, o artista transita entre o pop e o jazz com naturalidade, músico do estúdio Vice-Versa já tocou com inúmeros músicos. RPM, banda que foi um grande sucesso pop nos anos 80/90, Raul Seixas, Wanderléa. O cantor e compositor de forró Genival Lacerda gravou uma faixa no disco Techno Roots, lançado em 2001, entre vários outros artistas, Genival emprestou seu gingado à Xote de Copacabana, canção de Jackson do Pandeiro, que também participa do disco.

Bosco nos contou sobre sua época no Japão, onde viveu por 20 anos. Foi morar lá meio por acaso, trabalhava na gravadora RCA e foi convidado para tocar numa turnê pelo país, gostou tanto que mais tarde acabou voltando e ficando.  A oferta de instrumentos musicais, na casa de alguns dos melhores fabricantes do mundo, como Yamaha, Korg e Roland, a tecnologia de ponta, o grande campo de trabalho que há para um artista no Japão, foram algumas das coisas que encantaram Bosco. O artista gravou várias propagandas, trilhas, discos, com a SYN Productions, a agência criativa, fundada em Tokyo por Simon Le Bon (Duran Duran), sua esposa Yasmin e Nick Wood. O primeiro grande trabalho, foi montar uma orquestra, a pedido de Nick Wood, para o lançamento de um carro, em uma importante feira de carros japonesa.

Em 1980, como líder do grupo Acaru, gravou em Tokyo o disco Live at Hot-Crocket” (RCAVictor) e Aqualouco, no Brasil, em 1981. Os primeiros solos vieram em 1983, Metalmadeira, e em 1986, Fragmentos da Casa, com a participação de Egberto Gismonti, Oswaldinho do Acordeom, entre outros.

Em 2009 recebeu o Grammy de melhor disco de jazz contemporâneo pela direção artística do álbum Randy in Brazil e em 2012, foi indicado ao Grammy Latino, com o disco Raiz, de Leila Pinheiro.

Não pude deixar de perguntar sobre a diva Nina Simone, com quem tocou numa tour na Europa e depois aqui no Brasil. Bosco nos conta que foi indicado pelo produtor Herbert Lucas, ela viu vídeos e topou, .

“Como foi com Supertramp, Duran Duran, o meu maior produto fora do Brasil é eu ser brasileiro, qualquer coisa que eu tocar vai ficar com meu jeito de andar, eu penso em 2 por 4, é natural, é o tropicalismo do nosso andar”.  O acaso e o enorme talento o levaram a tocar com Hank Jones também, enquanto gravava em um estúdio em Tokyo, um cara “todo arrumado, bonito, parecia um artista de Hollywood” o viu pela janela do estúdio, era o próprio Jones, que o convidou para participar de gravações.

Atualmente, Bosco finaliza o disco 40, um disco que fará a celebração com grandes parcerias antigas e novas, de sua riquíssima estrada na música. Todos os participantes de alguma maneira, participaram da trajetória do artista, Airto Moreira, André Mehmari, Cassio Poletto, Flora Purim, Luiz Carlos Sá ( Cantor da Dupla Sá & Guarabyra), Ruriá Duprat, Wilson Simoninha, são alguns dos nomes. O músico Luiz Wagner recebe uma homenagem Amigo querido de Bosco, gravaram a última música antes do recente falecimento de Wagner. Gravado remotamente, durante a pandemia, Bosco viu que podia usar a tecnologia a seu favor e com a visão perfeita de produtor que tem, a adaptação foi fácil, “já que a parada é essa, bem vindo ao clube”.

Com 14 álbuns próprios e diversas participações em estúdio e shows de outros músicos, Bosco, a arte e nós merecemos esse delicioso presente, um mergulho na música brasileira e do mundo, estamos ansiosos para que saia logo do forno, estará disponível em breve em plataformas digitais, no site do projeto e nas redes sociais.

 

Adriana Arakake

Adriana Ararake é DJ é especialista em Jazz, Soul e Blues do Music Non Stop.

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