The Smiths Imagem: Reprodução

Tábua de salvação para vítimas de bullying, “The Smiths” faz 40 anos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Autointitulado álbum de estreia do grupo britânico se consolidou como um dos mais expressivos dos anos 80

“É uma banda cujas referências são impossíveis de identificar.” Era assim que um dos maiores DJs de rádio do Reino Unido, John Peel, classificava o grupo que praticamente apadrinhou, durante o ano que antecedeu o lançamento do álbum de estreia The Smiths, em 20 de fevereiro de 1984.

Peel ficou tão encantado com as guitarras de Johnny Marr, a voz estranha de Morrissey, o baixo de Andy Rourke e a batera de Mike Joyce, que convidou a banda repetidas vezes para se apresentar ao vivo em seu programa Peel Sessions, transmitido durante as madrugadas da rádio BBC 1, onde era o principal DJ de música alternativa da ilha.

Os convites foram tantos que quando os Smiths, formados em Manchester há apenas um ano (1982), lançaram seu disco de estreia, apenas duas das dez canções não haviam sido previamente apresentadas (e gravada por milhares de garotos em fitas cassete) no programa de Peel.

The Smiths, o álbum, podia ser revolucionário, mas nem um pouco inédito.

Quem suporta as agruras ditas por Morrissey hoje em dia, na jaula dos 64 anos, não imagina a importância que os Smiths tiveram para a garotada em 1984. Ouvi-lo na Inglaterra daquela década era um ritual de salvação para os esquecidos, os sofredores de bullying, os desencaixados. As letras de Morrissey falavam sobre eles, e para eles.

A atenção de John Peel foi despertada pelo primeiro single da banda, Hand in Glove, lançado em maio de 1983, pela gravadora Rough Trade. O grupo ganhou notoriedade rapidamente no Reino Unido, graças às insistentes apresentações na BBC. Tanto que, quando The Smiths foi lançado, atingiu o segundo lugar em vendas nos charts britânicos.

Curiosamente, o grupo jamais “aconteceu” nos Estados Unidos, apesar de hoje ser considerado histórico para o rock alternativo por lá. Mesmo os maiores hits, como The Boy With the Thorn in His Side, jamais alcançaram a lista de top 40 da Billboard, principal referência de sucesso na era dos discos e CDs.

Mas não precisou da terra do Tio Sam para se consolidar mundialmente. No Brasil, ávido consumidor do pós-punk britânico, o LP era febre, rodando debaixo do braço das garotas e garotos mais descolados da escola.

A frustração de Morrissey com a falta de reconhecimento no mainstream — sua coletânea lançada em 1987 se chama The World Won’t Listen (o mundo não vai ouvir) — azedou o relacionamento da banda, e resultou em um pedido para “dar um tempo” por parte de Johnny Marr. Apenas cinco anos após sua criação, o The Smiths desaparecia, com quatro álbuns em sua discografia.

Aos fãs, restou acompanhar as carreiras solo de seus integrantes. Para os jovens inseguros e marginalizados, no entanto, somente juntos é que os Smiths um dia os representaram.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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