Ponyo Studio Ghibli

Studio Ghibli, papas das animações japonesas, libera mais de quatrocentas imagens de seus filmes icônicos

Yasmine Evaristo
Por Yasmine Evaristo

Se existe uma unanimidade no mundo da animação, certamente o Studio Ghibli leva esta medalha. O estúdio acaba de liberar mais de 400 imagens em alta qualidade de suas animações. Conheça um poco da história.

Cultuado no mundo todo por sua sensibilidade na construção dos cenários e paisagens, o estúdio liberou nesta semana mais de quatrocentas imagens icônicas de suas animações para delírio dos fãs de Hayao e sua trupe.

O estúdio já produziu 21 longas de animação, sendo o primeiro O Castelo no Céu, de 1986, e o último Aya e a Bruxa, deste ano. A identidade da empresa é a chinchila gigante Totoro, personagem do filme Meu Amigo Totoro (1988).

Os primeiros anos do Studio Ghibli

Miyazaki e Takahata se conheceram em meados dos anos 1974, durante a produção do anime Heidi. Conforme trabalhavam juntos percebiam ter o mesmo desejo, produzir animações de alta qualidade. Sobretudo em um tipo de mídia que permitisse maior tempo de planejamento e produção. Assim, foi gerado o embrião do Studio Ghibli.

Dessa forma os dois homens se uniram a Suzuki e Tokuma e mudaram a história da animação. Tokuma era um empresário que acreditava no potencial dos jovens animadores e, além do investimento financeiro, os deu liberdade para produzir.

Seu primeiro filme foi sucesso de bilheteria e crítica, levando cerca de 775 mil pessoas aos cinemas. Para Miyazaki o projeto poderia ser descrito como “O Quente Vento do Deserto do Saara”. Assim é o Studio. Em seus primeiro anos de vida, conseguiu lançar simultaneamente dois filmes. Estes filmes são reconhecidos até hoje como as melhores produções do Studio: Meu Amigo Totoro e Túmulo dos Vagalumes (1988).

Em seguida, em 1989, O Serviço de Entregas da Kiki também foi bem recebido nos cinemas como resultado da popularidade e credibilidade que seus antecessores trouxeram ao estúdio. Um dos reflexos desse sucesso foi a regularização dos funcionários e a contratação constante de novo animadores de acordo com as demandas de trabalho.

Túmulo dos vagalumes

A expansão do Studio Ghibli

Nos anos 1990 o filme Memórias de Ontem manteve o sucesso do Ghibli. Enquanto a animação era finalizada o projeto de Porco Rosso já havia sido iniciado. Diante da falta de espaço para tantos envolvidos nas produções os proprietários decidiram abrir uma nova sede. Entretanto Toru Hara se mostrou contra o que levou Miyazaki a trabalhar sozinho em Porco e na planta da construção de seu novo prédio. Ambos ficaram prontos em 1992, sendo a nova sede localizada na cidade de Koganei, no distrito de Tóquio.

Semelhantemente a seus predecessores a animação do porco piloto garantiu a maior bilheteria do ano. Foi superior, inclusive à de clássicos, do mesmo ano, como A Bela e a Fera, da Disney. Depois dessas mudanças uma série de investimentos foram feitos para que o estúdio se tornasse autônomo e pudesse realizar o máximo dos processos de criação em seus espaços.

Assim também o estúdio teve sua primeira produção não dirigida por Hayao ou Isao.  Eu Posso Ouvir o Oceano (1993), um especial para a TV, de Tomomi Mochizuki, foi bem recebido pelo público. Em 1994 o Studio usou a tecnologia de computação gráfica pela primeira vez em Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins. No ano seguinte Yoshifumi Kondo dirigiu Sussurros do Coração. Com o propósito de qualificar seus animadores, Miyazaki passou a dar à eles mais liberdades na execução de seus projetos.

Princesa Mononoke

Princesa Mononoke, o grande sucesso do Studio Ghibli

No ano de 1997 o Hayao conseguiu seu maior feito com o filme A Princesa Mononoke. Contando a história de San, uma moça criada por deuses-lobos, o diretor construiu uma obra que permanece atual e cativante. Em Mononoke humanos e entidades da floresta convivem em locais semelhantes. Ainda que nesse longa as relações entre natureza e tecnologia se encontrem estremecidas, devido ao avanço da exploração do meio ambiente, mais uma vez o texto aborda a possibilidade da vida harmônica entre essas partes.

A animação mostra que o embate entre narrativas míticas versus ciência não deveria existir, pois elas se complementam. Logo, naquele contexto, mito e fantasia são importantes para elaborar um entendimento da dor e da tristeza. Afinal levam os personagens, e espectador a repensar suas práticas buscando evitar as dolorosas consequências da vingança.

Essa animação apresenta características comuns à maior parte dos filmes do estúdio. Principalmente o realismo mágico no qual os personagens vivem inseridos.

A viagem de Chihiro

Aposentadoria, morte e retorno

Com o propósito de descansar dos desgastes provocados pelo excesso de trabalho, Miyazaki decidiu  se dedicar apenas a roteiros. Ocasionalmente o diretor também prestava assistência à equipe. Em contrapartida sua escolha permitiu que jovens animadores.

Porém, em 1998, Yoshifume Kondo veio a óbito o que abalou fãs e equipe de trabalho. Assim Miyazaki se afastou do estúdio voltando apenas no ano seguinte. Em seguida foi lançado Meus Vizinho Yamadas (1999), filme feito a partir de sketches aquarelados e computadorizados.

Em 2001, Hayao voltou a posição de diretor e lançou A Viagem de Chihiro. O filme foi um sucesso mundial, estreando também em cinemas brasileiros. Como resultado de tanto sucesso foi premiado com o  Urso de Ouro em Berlim e o Oscar de Melhor Animação. Ainda assim, Miyazaki insistiu em se aposentar novamente se afastando da direção por mais alguns anos.

Contos de Terramar

A família Miyazaki trabalha junta

O filme de 2002 foi O Reino dos Gatos e, em 2004,  O Castelo Animado, também indicado ao Oscar de Melhor Animação. Logo depois, em 2006,  Goro Miyazaki, filho de Hayao dirigiu seu próprio filme, Contos de Terramar. A animação esteve envolvido na polêmica de não se caracterizar como os demais filmes do estúdio. Sua história, apesar de falar das relações entre humanos e natureza, discute os impactos da ansiedade nas pessoas. Esse tema e a abordagem do diretor que escolheu iniciar o filme em meio ao caos e destruição provocou estranhamento, mas nada que desmereça a qualidade da obra. O diretor voltaria a dirigir um longa pelo estúdio em 2011. Da Colina Kokuriko fez as pazes do diretor com o público devido ao carisma dos personagens, dois jovens que tentam impedir que um prédio antigo seja derrubado.

Nesse meio tempo Miyazaki pai trabalhava em um projeto que ganhou vida em 2008. Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar não contou com nenhum tipo de computação gráfica. Projeto de anos, foi totalmente desenhado a mão. Animação de grande sucesso no mundo, só chegou ao Brasil no ano de 2010. Em contrapartida, nesse ano, O Mundo dos Pequeninos levou mais de 7 milhões de pessoas aos cinemas japoneses, um recorde para o estreante Hiromasa Yonebayashi.

O mundo dos pequeninos

A aposentadoria definitiva

Simultaneamente o Studio Ghibli lançou em 2012 Vidas ao VentoO Conto da Princesa Kaguya. O primeiro título marca a despedida de Hayao Miyazaki da direção de animações e o segundo o retorno de Isao Tajahata após 14 anos distante do lançamento dos longas-metragens. Os dois filmes foram indicados ao Oscar de Melhor Animação, respectivamente nos anos de 2013 e 2014. Ainda que não tenham vencido a premiação, a indicação bastou para aumentar sua visibilidade.

Ao mesmo tempo que essas produções eram realizadas foi feito um documentário sobre a rotina do estúdio. O Reino dos Sonhos e da Loucura foi lançando em 2013. Em 2014, Ronja, a Filha do Ladrão, primeira série de TV do estúdio conquistou um Emmy na categoria de animação. A série foi dirigida por Goro e baseado no livro de Astrid Lindgreen.

Contudo, tudo que é bom acaba. Nesse mesmo ano As Memórias de Marnie, último filme do estúdio foi anunciado e lançado. O diretor, Hiromasa Yonebayashi, chegou a se desligar da empresa diante do fechamento do estúdio.

O conto da princesa Kaguya

O novo ciclo Ghibli

Ainda que o setor de animação estivesse fechado o Studio Ghibli não paralisou suas atividades completamente. Hayao trabalhou durante o ano de  2015 em um projeto de curta metragem chamado Boro. Esse curta foi concebido cerca de 18 anos antes, durante a produção de Mononoke. Nesse ínterim Miyazaki trabalhava também em storyboards de um novo longa, projeto que levaria cerca de cinco anos para ficar pronto. O diretor apresentou publicamente esse projeto em 2016.

Isao Takahata, membro fundador,  faleceu em 2018, devido à um câncer de pulmão. Mesmo com a grande e recente perda o estúdio parece ter recebido um gás novo. Atualmente os fãs das obras aguarda as produções anunciadas. Um dos longas se chama Como Vocês Vivem? e marca mais um retorno de Hayao Miyazaki. O outro marca a introdução do Studio na era digital. O filme, dirigido por Goro, foi todo criado com CG Aya e a Bruxa será lançado na TV, devida a pandemia do novo coronavírus.

Com suas produções o Studio Ghibli demonstra que para gostar de filmes o espectador tem que estar disposto a se envolver com seus sentimentos. Ainda que tragam elementos que não são comuns a nossa cultura seus filmes nos arrebatam com sua sensibilidade e assuntos sobre sentimentos e humanidades. Hayao Miyazaki .

As Memórias de Marnie

Curiosidades

Entre novembro de 1984 e maio de 1985 uma série sobre Sherlock Holmes com cães antropomórficos como personagens foi produzida pela RAI e Tokyo Movie Shinsha. Hayao Miyazaki dirigiu seis dos 26 episódios da série.

Em 2001 um museu em homenagem ao estúdio foi inaugurado em Mitaka, Tóquio. O espaço se encontra fechado, no momento, como medida de precaução contra o coronavirus.

Quase toda a obra do Studio Ghibli se encontra disponível no catálogo da Netflix.

Clique aqui para fazer o download das imagens disponibilizadas no site do Studio Ghibli

Fontes:
Studio Ghibli Brasil
The Immersive Realism of Studio Ghibli

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, graduanda em Letras - Tecnologias da Edição. Membro Abraccine, votante do Globo de Ouro (Golden Globe Awards). Pesquisadora de cinema, principalmente do gênero fantástico, bem como representação e representatividade de pessoas negras no cinema. Devota da santíssima trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch.

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