Snoop Dogg Foto: Reprodução

Snoop Dogg se une a ONG LGBT+ para reparar comentário preconceituoso

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Rapper americano havia dito não se sentir confortável em explicar aos netos como duas mulheres poderiam ter filhos

Nós queremos amar Snoop Dogg. Um mano da quebrada que deu certo, evoluiu como ser humano, escolheu o amor ao ódio (após ter passado a juventude odiando bastante) e se tornou uma das figuras mais divertidas e leves do rap estadunidense. Maconheiro convicto, fez ponta em alguns filmes (com ótimos papéis) e ainda foi contratado para comentar as Olimpíadas de Paris. Sensacional.

Amá-lo, no entanto, ficou difícil nos últimos tempos, graças a alguns deslizes caquéticos protagonizados pelo cara que era conhecido por ser um tremendo boa onda. Dogg participou de um evento pró-Trump, uma figura política alinhada com a ala mais racista dos Estados Unidos. Piorou: em agosto último, deu uma entrevista ao podcast It’s Giving criticando personagens lésbicas no filme Lightyear, dizendo que não se sentia confortável em ir ao cinema e ter que explicar aos seus netos como um casal de mulheres poderia ter filhos. As duas atitudes foram um assombro para quem acompanha sua carreira.

Em relação a Donald Trump, o rapper tentou se justificar com declarações estapafúrdias. Disse que aceitou participar do evento como um agradecimento ao perdão da pena pena de seu antigo sócio de gravadora, Michael “Harry‑O” Harris, condenado a 33 anos por tentativa de assassinato, sequestro e tráfico de drogas. Trump concedeu o indulto em 2021, dias antes de entregar seu primeiro mandato. O rapper disse também que decidiu pelo apoio pensando somente nele, ignorando a gigantesca influência pública que acumulou ao longo dos anos, e que não tinha preferência política.

Já na questão do preconceito com a comunidade queer, parece que Snoop acabou encontrando o parafuso que caiu de sua cabeça. Tal qual nossas mamães, que não conseguem pedir desculpa verbalmente, mas cozinham seu prato predileto de surpresa como uma forma de dizer “foi mal”, ele reapareceu, menos de três meses após a infeliz bronca na Disney, com uma associação inédita com a ONG GLAAD, dedicada ao apoio da comunidade queer através de campanhas antibullying nas escolas, dentre ouras ações.

Snoop Dogg se uniu a Jeremy Beloate, artista que conheceu em uma das edições do programa de talentos The Voice, para lançar, em prol da GLAAD, o single Love is Love, dedicado ao público infantil e abordando justamente o tema que atacou quando assistiu ao filme Lightyear, ao lado dos netos, no cinema.

“É lindo que as crianças tenham pais com diversas caminhadas diferentes, capazes de amá-las e ensiná-las o que o amor significa. Se o ódio é ensinado, o amor também é… Não importa se são dois pais, duas mães, o amor é a chave. Acho que esses garotos estão sendo amados por grandes pais, um exemplo do que é uma família”, declarou o artista em seu programa de YouTube, ao lado de Jeremy, com quem conversou sobre os problemas que adolescentes LGBT+ enfrentam nas escolas.

Mandou bem, Snoop Dogg. A gente até te aceita de volta. Mas precisa continuar merecendo, ok?

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.