Karaokê Foto: ComicSans/iStockphoto/Getty Images

A história de Shigeichi Negishi, o inventor do Karaokê

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Engenheiro japonês faleceu em janeiro, aos cem anos de idade

Shigeichi Negishi, o inventor do tão amado aparelho de Karaokê, nos deixou em 26 de janeiro, aos cem anos de idade, de causas naturais. A notícia veio à tona na última quinta-feira (14), através do The Wall Street Journal.

Os bares de Karaokê são um dos maiores sucessos de entretenimento da cultura japonesa, exportada para todo o mundo. Pretensos cantores lotam pequenos estabelecimentos em grandes cidades, com seus microfones prateados nas mãos e caras cheias de goró. Afinal, para matar a vergonha na cara que lhe impede de subir em um palquinho e cantar para desconhecidos, só mesmo com altas dose do elixir etílico na cabeça, o que garante ser este um dos mais lucrativos empreendimentos do ramo.

Parece que acordar de ressaca com um Evidências (o maior hit brasileiro dos karaokês) martelando na cabeça é uma situação que já nos acompanha há gerações. Mas a moda é muito mais recente do que imaginamos. Segundo o portal Cultura Japonesa, o primeiro bar de Karaokê brasileiro foi aberto apenas em 1984, há 40 anos, no bairro da Liberdade, epicentro da imigração japonesa de São Paulo.

No Japão, o primeiro Karaoke Box surgiu em 1974, sete anos após Negishi ter mostrado à sua família sua grande invenção. Mas também por lá, a cultura de cantar breaco em barzinhos parece existir a milênios.

Shigeichi Negishi Karaokê

Shigeichi Negishi e seu protótipo do Karaokê. Foto: Reprodução

O engenheiro Shigeichi Negishi trabalhava em uma empresa de sistemas de som automotivos quando um amigo reclamou da sua voz “horrível” quando cantava. A ideia lhe veio na hora: se tivesse, pelo menos, um jeito de cantar sobre a base instrumental da música, poderia treinar suas aptidões vocais.

Eis que o cara desenvolveu um sistema bastante simples. Uma caixinha com microfone, na qual você colocava uma fita cassete com a parte instrumental da música. Nas caixas de som, tudo sairia misturado. Tratava-se de algo rudimentar porque, na verdade, já existia. Negishi teve a ideia genial de adaptá-lo para o formato caseiro em 1967.

No começo, a ideia do cantor frustrado não vingou muito. Para se ter um bom repertório, era preciso ter uma coleção enorme de fitas. Os músicos (a quem Negishi encomendaria as gravações instrumentais) ficaram putos. Uma maquininha daquelas iria tirar o emprego deles em botecos.

O hábito de subir no palco e atacar de vocalista sempre foi comum no Japão. Um momento em que as famílias se sentiam livres para se expressar, ainda que cantando mal. Grupos musicais e orquestras subiam ao palco já sabendo que, em determinado momento do show, teriam companhia. Não à toa, “karaokê” significa “orquestra vazia”, em português.

Porém, no que diz respeito à Terra do Sol Nascente, uma característica é fundamental para qualquer ideia ter sucesso: o espaço. Com o  metro quadrado mais disputado do mundo, ter uma caixinha que permitisse substituir uma banda inteira, e que fizesse com que os clientes fossem os próprios cantores, era fundamental.

Hoje, em Tóquio, existem milhares de salas de Kararokê, que se tornaram parte da cultura noturna. O sucesso comercial, no entanto, veio pelas mãos de outra pessoa — Daisuke Inoue, que lançou um equipamento concorrente mais prático para os bares, o 8 Juke, em 1971. Foi a praticidade do aparelho que conquistou os empreendedores japoneses.

A Negishi, fica o reconhecimento e o título de grande inventor de um dos mais queridos, despretensiosos e divertidos aparelhos de som da história.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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