Funk São Paulo Lançamento do projeto “Pega Visão”. Foto: Gustavo Gonçalves/Divulgação

Secretaria de SP mostra como funk começa a ser entendido como cultura e economia

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Via Coordenação de Políticas Públicas do Funk, a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa divulgou ações para promover o gênero

No atual 2025, o funk brasileiro, cujo dia comemorativo é 12 de julho, tem algumas sólidas conquistas para celebrar. A batalha de seus artistas cravou o movimento cultural brasileiro na cabeça dos gringos, consolidou-se finalmente como um gênero de música eletrônico genuinamente nacional e, mais importante, apresentou-se como um projeto de vida de muitas garotas e garotos da quebrada.

Essa é a visão que, aos poucos, vai tomando conta das secretarias de cultura de diversas cidades brasileiras. O movimento do funk é uma saída econômica para muita gente: de artistas a técnicos, passando por donos de bares periféricos até vendedores ambulantes que colam na frente do rolê para fazer comércio.

“A gente não pode negar o que é o movimento do funk. Economicamente, é de mudança de vida e, também, importante para a saúde mental dessa galera muito jovem que, do dia para a noite, está com sua voz em todas as plataformas de streaming do mundo, ganhando dinheiro com uma música rodando por aí. Esse fluxo tem uma vertente financeira, econômica, que só quem está dentro dele sabe que existe, e que é muito forte”, nos contou Aline Torres em outubro de 2023, quando ainda era Secretária de Cultura da cidade.

Pensando no fomento a essa economia, a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, hoje nas mãos de Totó Parente, divulgou algumas ações específicas para o movimento funk paulistano na semana em que celebramos o Dia Nacional do Funk (12 de julho). Vale lembrar que São Paulo também tem o Dia Estadual Do Funk, comemorado todo dia 07 do mesmo mês. Há anos, a prefeitura mantém a Coordenação de Políticas Públicas do Funk dentro da secretaria.

A coordenação começa a mapear o cenário funk paulistano através de um cadastro que inclui artistas, dançarinos e produtores de audiovisual. Se você trabalha para o funk, basta se cadastrar em um formulário criado exclusivamente para este gênero musical. Os dados serão usados para futuras contratações da prefeitura, além de ajudar a estudar estatisticamente o rolê.

Na Biblioteca Mário de Andrade, a coordenação promoveu uma consulta pública na última terça-feira para falar do edital municipal exclusivo para o cenário funk, capaz de ajudar a financiar a gravação de álbuns, circulação de artistas em shows, festivais e produções audiovisuais. Realizado em parceria com as produtoras KondZilla e GR6, foi lançado o projeto Pega Visão, que promove uma série de encontros presenciais com entrada gratuita, com rodas de conversa entre artistas do funk, trap e rap com jovens moradores das periferias paulistanas.

A primeira parada do projeto foi em Heliópolis, no final de junho. Um dos maiores nomes da cena, MC Livinho, marcou presença e contou para os presentes sobre como o funk mudou sua vida. “Ações como essa são muito importantes, elas fazem a diferença. Eu espero sempre conseguir motivar os jovens da periferia com a minha história”, disse o cantor no dia do evento.

Compreender a importância econômica do mercado cultural é uma lacuna na administração pública brasileira. Falta muito para o grande público entender que, além de diversão, o setor gera muito mais renda e impostos do que recebe através das ações de fomento. Trabalhar sua produção como “produto de exportação” também é algo novo para o país. Em velocidade de tartaruga, vamos recebendo ações estratégicas nesse sentido, todas bem-vindas. Os anúncios da Secretaria de São Paulo são algumas delas.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.