O cinema como arte reflete indagações sociais. Nesta edição do Oscar alguns filmes são protagonizados por mulheres que estão vivendo algum tipo de violência, seja física ou simbólica.
Àquelas e àqueles que podem se sensibilizar deixamos um alerta de gatilho, pois as três personagens escolhidas passam por situações de vulnerabilidade. Aos que não sofreram algum trauma ou se sentem confortáveis em aprofundar um pouco nessa discussão, deixamos o convite para conhecer um pouco mais das personagens interpretadas por Andra Day, Vanessa Kirby e Carrey Mulligan. As três atrizes concorrem ao prêmio de melhor atriz no Oscar 2021 e entregaram interpretações memoráveis em filmes que discutem as relações sociais, raciais, culturais e afetivas quando as observamos do ponto de vista das mulheres.
Billie Holiday em The United States vs. Billie Holiday
O diretor Lee Daniels fez em seu último filme um recorte da vida da cantora Billie Holiday. Com foco em um período marcado pelo desgaste emocional da Lady Day, The US vs. Billie Holiday aborda tanto o racismo quanto a dependência afetiva da compositora.
No filme Holiday (Andra Day) é alvo de uma investigação do FBI por estar se manifestando contra a desigualdade racial. Após compor e cantar Strange Fruit a cantora vira uma pedra no sapato do governo que a coloca sob a vigilância de um de seus agentes. Dessa maneira, em meio às tensões do momento a mulher se envolve emocionalmente com o investigador.
A saber, a vida de Billie foi recheada de relacionamentos nos quais ela foi vítima de violência emocional, física e patrimonial. Seus parceiros são relatados na história como uma sucessão de namoros, casos e casamentos que levaram um das grandes compositoras de músicas românticas a nunca encontrar o verdadeiro amor.
Marta Weiss em Pieces Of Woman
Cada pessoa enlutada vive a sua perda de acordo com suas particularidades. Entretanto, em Pieces Of Woman roteiro e direção escolheram abordar o desolamento profundo de uma mãe que perde seu filho. O filme não poupa o espectador de ser colocado no lugar de Marta Weiss (Vanessa Kirby). Dessa maneira o filme explora a cena do parto, com duração de aproximadamente 20 minutos.
A sequência que normalmente em filmes representa um momento sublime, nessa situação, foi substituído pelo cansaço, desgaste, medo e morte. A partir da morte de seu bebê, durante o parto, o longa desenvolve a vida de Marta após o fato.
O filme não apenas mostra o desgaste emocional da mulher, como também as reações biológicas de seu corpo. Da mesma maneira ele atenta para as relações interpessoais e como a sociedade lida com mulheres que sofreram aborto.
Cassandra Thomas em Bela Vingança
Em um filme que não cita a palavra estupro, mas a posiciona em tela ao longo de suas quase duas horas de projeção. A britânica Emerald Fennel não usa da nudez, não apresenta homens monstruosos e brutamontes e não fetichiza uma cena de estupro. Em sua escolha o que vemos em cena são homens comuns, mulheres em sua rotina e o senso comum de que a vítima sempre será a responsável pela culpa.
Cassie (Carrey Mulligan) perdeu sua melhor amiga que foi estuprada por um colega de universidade. Decidida a honrar, ou melhor, a resgatar a memória da amiga a mulher passa a sair na noite e “atacar” homens. Ela finge estar bêbada e vulnerável para provar para si mesma que o estupro é causado por um consenso cultural de que o corpo de uma mulher pode ser violado caso elas esteja vulnerável.
A violência sexual deixa marcas incuráveis nas vítimas e em quem está ao seu redor. No caso de Cassandra isso afeta suas relações com amigos, família, carreira e trabalho e também seu desenvolvimento pessoal. Bela Vingança é um filme que se propõe elucidar que existe na sociedade uma cultura que ainda não aprendeu a proteger mulheres das violências de gênero.