9.5/10
Mais um grupo em visita ao Brasil aproveitou a viagem para botar em jogo uma colaboração com artistas do país. A exemplo do que fizeram os californianos do Suicidal Tendencies, que lançaram pouco antes de sua chegada ao país o single Família, com participação de vários representantes do punk e hardcore nacional, o BADBADNOTGOOD, responsável por um dos melhores shows do Balaclava Fest, também carimbou seu visto brasileiro.
Os canadenses lançaram nas plataformas digitais, dia 07 de novembro — três dias antes do show —, o single Poeira Cósmica, ao lado de Tim Bernardes e o pianista e arranjador Arthur Verocai, gênio dos anos 60, com trabalhos ao lado de nomes do gabarito de Ivan Lins, Marcos Valle e Gal Costa.
Para ilustrar o som, seria mais justo alterar o parágrafo anterior. Arthur Verocai lançou uma música com participação de Tim Bernardes e de BADBADNOTGOOD. É a sua arte que está ali, reverenciada pela turma de jovens à sua volta, como se tivessem chegado ao estúdio e perguntado: “seu Arthur, e aí? O que a gente faz?”.
Poeira Cósmica é um registro sofisticado, saboroso, do quanto o soul brasileiro dos anos 60 e 70 influencia novos artistas de todo o mundo, através da obra de bambas como Cassiano, Lins, Marcos Valle e, claro, o próprio Verocai. Da banda canandense, sentimos “apenas” a excelente execução dos instrumentos (incluindo aí o fulgurante saxofone de Leland Whitty) e, de Bernardes, aquele amado timbre vocal que nos dá vontade de convidá-lo para jantar em casa.
A canção é irretocável, exceto pelo fato de ser curta de mais. Quatro minutos é pouco para tanta energia, e dá saudade logo que termina. Podia ser duas vezes maior. Ou melhor, podia ser um álbum inteiro. Uma mostra que Verocai surfa na mais alta onda, do alto de seus 79 anos. O encontro dos três projetos artísticos tem um encaixe perfeito.
Além de uma bela massagem na autoestima da música brasileira (afinal, nós ainda buscamos, o tempo todo, validação dos gringos sobre o nosso passado e presente musical), Poeira Cósmica nos mostra uma nova trilha, cercada por matas mágicas e borboletas cintilantes, e nos convida a seguir por ela, aspirando sons que comovem e um encontro de gerações, influências e culturas musicais.