
9.8/10
Pela importância do lançamento, 80 Anos (Remixes), o disco de remixes dedicados à memória da lendária Orquestra Afro-Brasileira (gravadora Amor in Sound), mereceria nota 10, 11, 1000 em nosso ranking de reviews. O visionário projeto comandado pelo maestro Abigail Moura (1904–1970) nas décadas de 40, 50 e 60 resultou em dois discos seminais para a música brasileira, quase apagados da história graças ao preconceito de um interventor da Ditadura Militar que atuava na Rádio MEC e odiava o trabalho daquele povo que saudava a ancestralidade africana em nossa música.
A Orquestra Afro-Brasileira ensaiava na MEC, onde Abigail Moura trabalhava como copista. Com a intervenção militar na rádio, o grupo foi alvo de perseguição: instrumentos, partituras e registros foram depredados ou destruídos, apagando parte significativa de seu legado. O interventor da Ditadura no local inviabilizou as atividades do grupo, que já enfrentava dificuldades financeiras. A sabotagem foi além: Moura e seu grupo foram foram proibidos pelo regime militar de representar o Brasil no Festival de Artes Negras em Dacar (Senegal), um evento crucial para a diáspora africana. O veto foi justificado pela ditadura como parte da “paranoia anticomunista”, mas também refletia a política de silenciamento de expressões culturais negras que desafiavam o mito da democracia racial brasileira.
80 Anos (Remixes) é um absurdo em qualidade, e a lista de remixers reunidos pela label dá uma boa pinta do quão importante e louvada é a Orquestra Afro-Brasileira: Mixmaster Mike (o melhor DJ que já passou pelos Beastie Boys), Marcelo D2, Criolo, Tropkillaz, DJ Nuts, Emicida, Mexican Institute of Sound e muito mais gente de comparável quilate.
Eu poderia apostar que todas as 15 faixas do disco serão ouvidas constantemente em boas festas em bares e becos brasileiros dedicados à música latina. Demorou, mas todos saberão o quão importante foram os álbuns Obaluayê!, de 1957, e Orquestra Afro-Brasileira, de 1968. Um trabalho que faz uma espécie de homenagem cruzada entre passado e futuro, trazendo à superfície a importância da história, com a Orquestra, e o futuro, com seu time estrelado de remixers, bastante inspirados por sinal, ao meter a mão em material tão sagrado.

Um álbum como esse precisa ser ouvido. Vai lá, seja feliz e celebre Abigail Moura!