
EITA, novo álbum de Lenine, chegou dia 28 de novembro e é seu álbum mais ousado, esteticamente. O motivo está dentro de casa: foi (muito bem) produzido pelo filho, Bruno Giorgi, que já havia cuidado — ao lado de outros produtores, porém — de Carbono, lançado dez anos antes e a última cartada do ícone brasileiro no mundo dos streamings até então. Mas se o disco de 2015 foi feito às pressas, levando apenas dois meses para ser concluído, este aqui teve todo o tempo e carinho que o brilhante compositor recifense merece.
Lenine é um dos “caras legais” da MPB. Escreve música regional com o pé no globo, agrada a tradicionalistas e moderninhos, une o cool e o pop. Coloca Recife no mundo e o mundo no meio da Rua do Bom Jesus. Giorgi compreendeu perfeitamente a missão e ajudou-o a criar um álbum ousado, torto e delicioso de ouvir, mantendo o papai mais atual do que nunca. “Sanguinho novo”, já dizia Arnaldo Baptista, é sempre bom.
EITA transcende gêneros. Em alguns momentos, sente-se a brisa de um blues (como em Eita). Em outras, a intensidade sonora dos áureos tempos da tropicália, caso das ótimas Boi Xambá e Deita e Dorme. Pai e filho trabalhando juntos por uma realidade musical melhor.
As canções abraçam também os instrumentos e processamentos eletrônicos de um jeito maduro. O compositor, que já ousou enfiar umas batidas de drum’n’bass no anterior, Carbono, desfila baixos e quebradeiras experimentais capazes de fazer Björk dizer: “Vá, hvað þetta er frábært fyrirkomulag!”.

Em um álbum bonito e instigante do começo ao fim, mesclando a tradição com o moderno, Lenine se deita na rede da criatividade. Ao músico, uma dica: capriche no presente de Natal de Bruno!



