Justin Bieber - Swag

SWAG

Justin Bieber

Pop | 2025

2.5/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

Na última reunião de pauta, meu editor trouxe a ideia de resenhar o novo álbum de Justin Bieber, SWAG, lançado no dia 11 de julho. A justificativa seria a percepção de que o garoto responsável pela boyband de um boy só, ilustre líder da geração digital nas últimas décadas, havia crescido. Bem, vamos lá. Manda quem pode e obedece quem tem juízo. No mais, devo ter feito algo bem errado nas últimas semanas profissionais e aquilo poderia ser um teste, um castigo.

Poderia estar tomando um Tom Collins em uma casa em Bimini, no Caribe, ou procurando sessões de “cimema” para assistir ao lado do meu filhote, mas o dever deve ser cumprido. Me deparo, ao começar a audição, com um álbum de 21 músicas. Bastante coisa, para os padrões atuais, vindo de um artista cujo último disco havia sido lançado em 2021, chamado Justice. E, sendo justo mesmo, é legal ver alguém que por muito tempo repercutiu mais pela vida pessoal, relacionamentos, macacos de estimação e uma pecha pública de “esse aí não vai durar muito”, amadurecendo e seguindo com sua carreira musical. Antes do tão reticente “play”, dou uma sacada nas imagens do Bieber publicadas este ano. Eis, desde já, a chuva de clichês.

Porque existe um padrão para o jovem ídolo precoce galã estadunidense quando quer “crescer”. Primeiro, faz uma tatuagem bem aparente, no pescoço, para mostrar que é doidão, bad boy, superador de perrengues, maculando assim a pele de pêssego e a beleza purinha de anjo que Deus lhe deu. Em segundo lugar, inunda sua carreira com videoclipes cheios de recortes com carinha de triste em backstage de show lotado, pensativo em aeroportos ou solitário em corredores de hotel, para mostrar que a vida de famoso não é fácil. Finalmente, arruma um filho e o batiza com o nome mais excêntrico que encontrar, transformando-o em imediato alvo da curiosidade dos fãs e dando aquela pinta de que a paternidade é o carimbo final do amadurecimento pessoal. Neymar Jr. que o diga. Em agosto de 2024 nasceu Jack Blues Bieber. Normal. Se Narciso tivesse filhos, chamar-se-iam Espelhóide, Reflexus, ou algo do tipo, deixando claro não serem filhos de um “pai comum”.

SWAG é triste. Não no sentido sentimental, introspectivo ou depressivo. Triste de ouvir mesmo. Com exceção da música DEVOTION, a bastante boa décima segunda faixa (sim, precisei ouvir outras 11 antes dessa), gravada em parceria com Dijon, tudo permanece tão surpreendente quanto uma embalagem de fast food. A chuva de clichês vira uma tempestade tropical, incluindo até mesmo uma curiosa emulação de Peter Gabriel em FIRST PLACE. Algumas faixas claramente são como os arquivos work in progress, os rascunhos dos estúdios. Pedaços de música, restos de gravação incluídos no álbum, talvez, para adicionar algum valor de realidade ao que se está propondo ali. Caso de GLORY VOICE MEMO (que poderia se chamar GLORY VOICE DEMO), em que Bieber canta um pouco sobre uma guitarra bacana em uma gravação que pareceu ser feita com o microfone do celular Nokia de 2005. “Olha aí gente, eu também faço voz e violão.”

Bem no meio da tal tempestade, cai um trovão de arrebentar vidraça. SOULFUL é apenas a gravação de uma conversa entre o artista e Druski, rasgando-lhe elogios e exaltando que o amigo “tem pele branca, mas uma alma de negro”. Ao fundo, ouve-se vários falso modestos “thank you” vindos de Bieber. Corro para o Google e descubro que Druski é  um comediante, ator e influenciador americano. Tudo faz sentido. Mas seja forte, Jota. O álbum, precisa ser ouvido na íntegra e resenhado, conforme mandou seu editor.

Chega então a saideira, vigésima primeira “música” de SWAG. Escrevo entre aspas porque três faixas são recortes de diálogo entre Bieber e o comediante, e tantas outras os já citados restos de estúdio. FORGIVENESS (“perdão”, em nosso idioma) é um gospel cantado pelo cantor pastor Marvin Winans.

Assim, pedindo perdão a todos os resenhadores do planeta que por dever de ofício precisaram  ouvir SWAG, Justin Bieber se despede. Se eu vou perdoar ou não, é um assunto privado, entre eu e meu editor.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.