8.5/10
Comecei a ouvir o novo álbum da dupla D-Nox & Beckers cheio de ranço e má vontade. Caramba, final de 2024, ter de resenhar mais um disco de house progressivo? Eu, que já vi John Digweed, Sasha, Paul Oakenfold… Mas enfim, às vezes trabalho tem de ser mesmo trabalho, precisa ser feito.
O que era para ser mais uma tarefa a ser cumprida, no entanto, virou um presente de fim de ano. DAB, terceiro disco da dupla com origem na Alemanha e radicada no Brasil (bem, pelo menos metade dela, já que D-Nox mora por aqui há muitos anos) é muito bom. E presta alguns serviços ao planeta dançante que só mesmo o “prog house” consegue.
Hipnótico, obviamente progressivo e com raízes na aurora do movimento acid house inglês, o house progressivo foi o primeiro encontro da música eletrônica com as grandes arenas, na década de 90. Presta-se a diversas funções diferentes. Funciona em uma boa festa sem excessos, na casa de praia com os amigos, como trilha sonora para o trabalho… Tudo graças a um gostoso equilíbrio entre psicodelia, urbanidade e tribalismo. Não incomoda, como o lado mais pesado e rasgado da música eletrônica, e não apela, como os breaks intermináveis e os vocais diabéticos da EDM. D-Nox & Beckers manjam muito bem destes conceitos, e conseguem aplicá-los à sua música com maestria. Que tesão.
Aos pilotos com mais horas de voo, DAB é um momento nostálgico. Uma droga que bate bem e não deixa ressaca. A dosagem de beats e sintetizadores é excitante. A sonoridade, um passeio pela história do house progressivo em seus 30 anos (mas fundado em algo que já vinha sido construído desde o final dos anos 80 em Ibiza, também pelas mãos do saudoso Alfredo Fiorito). Para os ouvintes mais jovens, uma lição de equilíbrio e maturidade, tanto musical quanto festeira. É assim que se dança voltando-se para dentro — não com uma mão dando tapinhas no ar e a outra segurando um copo de vodca com energético.
Ao final da audição das 12 faixas, me senti ridículo e envergonhado. Estes são os álbuns mais legais, capazes de transformar um velho reclamão em um cara cheio de vida. Se a intenção da dupla, como contaram no release de imprensa, foi mesmo a de revisitar a carreira e suas influências, então podem se dar por satisfeitos. Mandaram muito bem.