As fortes chuvas prejudicaram a experiência do primeiro dia e levaram ao cancelamento do segundo
Este não está sendo um ano fácil para os festivais de música no Brasil. Depois das chuvas no The Town, em setembro, a nova vítima das águas foi o Tomorrowland Brasil. Marcado para rolar entre 12 e 14 de outubro, o primeiro dia transcorreu sob forte tempestade, enquanto o segundo foi sabiamente cancelado devido ao mau tempo, que danificou estacionamentos e vias de acesso, além da estrutura dos palcos.
De acordo com a organização, a festa está mantida para este sábado (14), quando ocorre, no Parque Maeda, em Itu/SP, o encerramento desta terceira edição brasileira.
Com portões abertos ao público às 14h, a edição teve início de maneira tranquila nessa quinta-feira (12). Mas, com o passar do tempo, a chuva foi uma das grandes protagonistas do line-up. Ela esteve presente em quase todas as apresentações e ditou a forma como se deram as primeiras 12 horas de duração.
“A chuva prejudicou o chão no espaço geral. Não prejudicou som nem luz, mas virou barro em praticamente todos os espaços”, relata Alexandre Chang, fotógrafo, que está no DreamVille, o acampamento oficial, desde quarta-feira.
“Choveu o tempo inteiro, e 90% do lugar era lama. E lama funda, até quase o joelho. As pessoas pisavam, escorregavam, caiam, eu vi gente torcendo o pé. Mal tinha onde se abrigar. Os cenários estavam muito bonitos, mas a chuva atrapalhou demais e não tinha muito o que fazer”, complementou o produtor de TV Márcio Miguel, que considera a edição principal de 2022 o melhor festival que foi na vida.
Até mesmo os looks megaelaborados ficaram em segundo plano, pois deram lugar às capas de chuva que identificavam aqueles que já conhecem os itens essenciais para qualquer festival, além da cor marrom de barro, a mais vista em todos os sapatos.
“A gente sabia da chuva, mas não imaginava que chegaria a esse ponto. Por causa do lamaçal, só dava pra descer pra mais perto do Mainstage deslizando sentado. Eu tava feliz, mas o som não chegava direito. Além da lama, pouca gente pra atender nos caixas. Eu levei quase uma hora pra pegar duas águas. A gente tenta se divertir ao máximo, mas dava pra ver o desgaste no semblante das pessoas”, relata o massoterapeuta Tiago Casagrande, que alugou uma casa em Itu com três amigos de Porto Alegre — e mesmo assim, não está arrependido.
“Arrependimento? Não, longe disso. A gente veio de corpo e alma pra cá, se entregou muito, mesmo com os perrengues, e curtiu do jeito que deu. É o Tomorrowland. Nossa esperança é que amanhã tenha mais um último dia. Só sinto muito por quem comprou ingresso só pra hoje”, complementou.
Os cinco lindos palcos, com estruturas impecáveis de se admirar, foram visitados por cerca de 60 mil frequentadores, que se deslocavam em meio à grama molhada e a lama que surgia conforme a movimentação do público. Afinal, num rolê de música eletrônica, o que mais se faz é justamente dançar.
A organização do Tomorrowland Brasil veiculou avisos sobre as atualizações climáticas, tanto no aplicativo oficial — com notificações sobre risco de tempestade nos celulares do público, pedindo para que todos se protegessem por conta das rajadas de vento e chuva —, quanto nos telões indicativos internos.
Trânsito
É claro que se deslocar a um evento com um público tão extenso ocasionaria problemas no trânsito, afinal, automóveis próprios, transporte por aplicativo e excursões de vans e ônibus se dirigem todos ao mesmo local — e geralmente no mesmo horário. Isso ocasionou um congestionamento nos arredores do Parque Maeda.
Com vias de acesso danificadas, a entrada e saída não estava fácil. Por conta do mau tempo, foram presenciados acidentes, que ajudaram ainda mais a formar um longo tempo de espera para se deslocar na cidade (cerca de cinco horas para aqueles que tiveram o azar de presenciar o horário de pico).
O congestionamento também ocorreu devido a problemas no estacionamento, que foi tomado pela lama. O próprio festival informou por meio de aplicativo que uma das rotas para saída havia sido bloqueada, fazendo com o que fluxo de carros fosse direcionado a outra rota, que acumulou insuficientemente outras demandas.
Shows
Nem mesmo os artistas escaparam da situação. A belga Amber Broos, uma das revelações atuais do techno, não conseguiu chegar a tempo de sua apresentação no Mainstage. Entretanto, ainda foi possível curtir os mais de 50 artistas que se apresentaram no feriado nacional.
O palco Essence by Beck’s foi um dos mais frequentados. Único coberto, o local era cercado por LEDs e contou com grandes figuras do cenário nacional (Alex Stein, Anderson Noise, Eli Iwasa, Renato Ratier, Silvio Soul, Valentina Luz, Victor Ruiz e Waltervelt) e internacional (Nicole Moudaber e Layton Giordani) em sua programação. Conforme comentamos, ele foi a casa para os B2Bs, sendo encerrado por um dos nomes mais comentados, a brasileira ANNA em parceria com a sueca Ida Engberg.
Bem próximo a ele, o Youphoria recebeu ZAC, Fancy Inc, Scorz, Miss Monique, Gui Boratto e Franky Wah. Além deles, os grandes destaques do local foram Aname e Joris Voorn.
Ao lado, o Tulip recebeu uma curadoria da gravadora Monstercat, tendo Scorsi, Urbandawn, Nostalgix, DJ Marky, Andromedik, Barely Alive B2B Kompany, Jessica Audiffred e NGHTMRE.
Por fim, o palco CORE brilhou com sua conhecidíssima cenografia, abrigando os sons de Davis, Trajano, Dana Montana, Badsista, DJ Boring, TSHA e Nina Kraviz.
O Mainstage é um fenômeno à parte. Com cerimônia de abertura às 17h30, embora já estivesse abrigando performances de DJs desde o início do festival, o tom da magia do tema Reflection of Love pairou entre raios e trovões.
Malifoo, Ashibah, Henri PFR, Öwnboss, Mattn, Sunnery James & Ryan Marciano, Afrojack, Kölsh, Martin Garrix e Tiësto comandaram o palco principal com maestria, mesmo envoltos de adversidades.
Saldo do dia
Com uma entrega dificultosa em serviços gerais e falta de informações claras para os participantes, a decisão de cancelar este segundo dia foi sensata, afinal, se não é possível oferecer um serviço de qualidade em meio ao que é esperado do perfil belga, a palavra de ordem deve ser: cuidado.
Pensando na segurança de todos os participantes, que aguardavam por sete anos o retorno do Tomorrowland ao país, ao tomar essa decisão impopular, a produção mostrou consideração pela integridade do “povo do amanhã”. Por outro lado, difícil imaginar que ela não pudesse ter se precavido melhor para esse cenário.
ATUALIZAÇÃO: Em contato com o Music Non Stop, Debby Wilmsen, porta-voz global do Tomorrowland, deu a versão do festival sobre o cancelamento. Leia aqui.