Diva colombiana hipnotiza a capital paulista com espetáculo de pura energia, emoção e mensagens poderosas; confira o review de Camilo Rocha!
“The hips never ever lie” (os quadris nunca, nunca mentem), diz a mensagem no telão. No caso dos quadris de Shakira, as verdades são muito bem articuladas. Eles se projetam em ângulos que levariam o desalongado cidadão comum direto pro ortopedista. Giram, requebram, parece que são feitos de partes independentes. Depois dos seus shows em São Paulo e no Rio de Janeiro, a cantora merece seu CPF. E os quadris merecem um CPF só para eles.
A colombiana fez no Morumbis, na quinta-feira (13), um espetáculo pop de primeira grandeza. Apesar da chuva do começo da noite e do atraso de uma hora, os céus se abriram e o estádio lotado até a tampa brilhou feito constelação graças aos braceletes de LED usados pelo público. Ela pediu desculpas pela demora, alegando dificuldades técnicas decorrentes da chuva.
O que há para não gostar nesse show? O repertório é gigante, a banda é de alto nível, as coreografias são precisas e dinâmicas e a direção de arte produziu um espetáculo exuberante para os olhos. Acima de tudo, reina Shakira com seu vozeirão e sorriso fácil e espontâneo. Ela sorri, a gente sorri junto.
A maestrina das emoções transita por diversas etapas em uma apresentação de quase duas horas e meia. As pessoas cantam sucessos como Hips Don’t Lie e Estoy Aquí aos berros, enquanto momentos emocionados como Antologia fazem as lágrimas escorrerem pelo rosto de homens barbados.
Foto: Iris Alves/Divulgação
O show tem o momento dance, a hora do rock de guitarra esguelando, o fervor da salsa e do merengue, o sacolejo do reggaeton, as introspectivas com luz baixa e uma impressionante fusão de flamenco e sonoridades árabes (que são influências-chave do estilo espanhol). São três décadas de hits, nada menos. Perto do fim, Waka Waka consagra o espetáculo provocando uma comovente cantoria coletiva.
O público é em sua maioria composto de mulheres, de muitas idades. Muitas vieram em turmas de 10 a 12. “As mulheres já não choram, as mulheres faturam”, diz a letra de BZRP Music Sessions #53, em que trata do fim de seu relacionamento com o ex-jogador de futebol Gerard Piqué.
“Nos últimos anos, tive alguns desafios, né? Mas, se aprendi algo, é que as quedas não são o fim, mas o começo de um voo mais alto. E nós, mulheres, depois de cada queda, nos levantamos um pouco mais fortes, mais sábias”, afirmou a cantora no show.
Lembrei de Nina Simone, que dizia que o artista tinha obrigação de refletir seus tempos. E se os tempos são de fortalecimento da autoconfiança das mulheres, de valorização da sua independência emocional e financeira, de desvincular casamento de ideal de felicidade. Shakira está fazendo arte grande a partir desses sentimentos.