Muito antes de trabalhar com Michael Jackson ou Will Smith, produtor lendário quase veio a óbito por conta de dois aneurismas
Quincy Jones chegou há pouco no céu. Diferentes religiões divergem sobre o tempo de voo, que partiu dos Estados Unidos no último domingo, dia 31 de outubro. Chegando lá, obviamente teve de cumprir todos os trâmites burocráticos para entrar no resort eterno ao qual todas as boas almas estão dedicadas. Apresentou atestado de óbito, assinou papelada, pegou a chave do quarto, desfez as malas e só então pode ligar para parceiros da música como Ray Charles, Marvin Gaye e Cannonball Adderley.
Devidamente assentado na mesa dos grandes gênios, tomando suas biritas cósmicas, era hora de colocar o papo em dia, matar a saudade e contar as novidades da Terra. E, certamente, no momento clássico das histórias de bebum, o novato Quincy Jones se virou paras os parças e falou: “galera, morte para mim não é novidade! Lembram do dia em que eu fui no meu próprio funeral?”. Todos na mesa caíram na gargalhada.
Os parágrafos ficcionais (ou sensitivos, se preferir) terminam por aqui. O que você lerá a seguir é a mais pura verdade. Quincy Jones foi em seu próprio funeral, em 1974.
Ainda um astro do jazz, muito antes de ter se envolvido na produção dos álbuns de Michael Jackson ou se enveredado na produção televisiva com a série Um Maluco No Pedaço, Jones foi internado às pressas com um aneurisma cerebral. Os médicos chamaram a família e deram a triste notícia. O artista tinha apenas 1% de chance de sobrevivência. Como má notícia pouca é bobagem, foram novamente chamados para conversar com o médico, após quase oito horas de cirurgia. A equipe detectou um segundo aneurisma.
Não tinha mais o que fazer. Os profissionais que trabalham com Jones passaram a mão no telefone para todas as tratativas referentes à sua morte. Incluindo um show em sua homenagem, que ficou marcado para o Shrine Auditorium, em Los Angeles. Além dos três colegas de boteco celestial, vivos na época, o show ainda contaria com Sarah Vaughan e Billy Eckstine, todos com um papelzinho à mão onde estaria escrito um emocionante discurso de despedida para a lenda Quincy Jones.
Quando o artista abriu os olhos e notou que ainda não tinha sido a sua vez de partir, ficou sabendo de todos os arranjos para seu funeral. “Mantenham o show!”, ordenou. O médico, claro, não gostou da ideia. “Você teve dois aneurismas e vai ter de voltar para a sala de cirurgia em dois meses. Se quiser ir a este show vá, mas não pode se expor a fortes emoções!”
A resposta de Jones foi hilária: “Doutor, como não sentir fortes emoções vendo Ray Charles, Marvin Gaye e Billy Ecsktine?”. A solução foi convidar o médico, que ficou em sua cola durante todo o show, certificando-se de que ele “não se meteria em confusão”.
O evento aconteceu e foi um sucesso. Quincy Jones se recuperou não só das oito horas de cirurgia, mas também à experiência de ter encarado um show com monstros do jazz cantando em sua homenagem. E ganhou, com isso, a possibilidade de contar a todos que foi o único artista da história da música a ter dois funerais. Um, testemunhou em corpo, outro em espírito!