Purple Rain Foto: Reprodução

40 anos de ‘Purple Rain’, um dos maiores álbuns de todos os tempos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

A história do disco que se tornou mais icônico do que o filme a que serviu de trilha sonora

O que dá a um álbum de música pop o privilégio de estar na prateleira dos maiores de todos os tempos? Bem, um dos motivos está diretamente relacionado com a questão do tempo, esta tão opressora medida que delimita nossa vida em caixinhas e nos avisa, a cada ano, que falta cada vez menos para o nosso inevitável destino: a morte.

Eis a sacada inicial. Os grandes álbuns não morrem. Vão se eternizando e, muitas vezes, crescendo quanto mais se distanciam da sua data de nascimento. Olhando para trás, o distanciamento vai nos mostrando o quanto aquela coleção de músicas apinhadas em uma bolacha rodante foi importante e revolucionária. E que se lembre aqui, o nome de banda de Prince, creditada em Purple Rain, é nada menos do que The Revolution. Hoje, 40 anos depois de seu lançamento, o sexto disco do multi-instrumentista, compositor, arranjador e produtor de Mineapolis segue se eternizando.

Algumas pérolas do mundo fonográfico, no entanto, já chegam com os dois pés na porta, dando pinta de que ali acabou de nascer uma gema que vai virar tudo de cabeça para baixo e se tornar referência. No ano de seu lançamento, em 1984, os grandes mercados musicais eram abarrotados de revistas e jornais com críticos que ouviam e resenhavam cada lançamento importante. Prince já estava na mira de todo mundo desde seu álbum de estreia, For You, de 1978. Chamava a atenção o fato de o garoto tocar todos instrumentos (além de ter uma tremenda intimidade com a guitarra), cantar e produzir seus próprios álbuns.

Quando Purple Rain saiu, choveram “cinco estrelas” para todo o lado. Kurt Loder, da revista Rolling Stone, comparou o músico a Jimi Hendrix, principalmente por sua capacidade em “fundir ritmos negros e brancos”. E lá estava mano Prince, brilhando ao lado de Michael Jackson e Madonna, as duas maiores estrelas da música estadunidense da época.

Purple Rain foi composto como trilha sonora do filme de mesmo nome, também estrelado por Prince, cuja história conta sobre a luta de um personagem músico que era, na verdade, Prince. Se existe algo que o artista jamais escondeu, foi o tamanho galáctico de seu ego. Instantaneamente, o álbum se tornou muito maior que o filme dirigido por Albert Magnoli.

Até o lançamento de seu sexto LP, o astro já havia lançado um disco por ano desde sua estreia, comportamento workaholic que se manteria em toda a sua carreira, com exceção de 1994, 1999 e 2009, quando o maluco lançou dois discos com músicas inéditas. Em 2004, bateu o recorde: foram três em um mesmo ano.

De olho no projeto do filme, Purple Rain foi inteiramente composto com a cabeça no roteiro cinematográfico, e realmente tem um aroma de trilha sonora. Escalou o topo das paradas de sucesso, de onde custou a sair. Let’s Go Crazy e When Doves Cry se tornaram hits principais na enorme coleção de composições do músico. Mas foi a faixa que deu nome ao disco, a última do lado B, responsável por ficar gravada nas mentes e corações de muita gente. Uma balada com oito minutos e meio de duração, absolutamente inesquecível.

Purple Rain (a música) foi pensada para ser uma colaboração com Stevie Nicks, a vocalista do Fleetwood Mac, de quem Prince era fã. O artista enviou uma fita para sua ídolo com uma versão de mais de dez minutos da música, pedindo que ela escrevesse uma letra. Quando a ouviu, Nicks ficou de queixo caído. Negou o job, respondendo por telefone: “Eu não posso fazer isso. Eu gostaria de poder, mas isso é demais para mim”.

Prince Rogers Nelson embarafustou-se de volta ao estúdio, com a cabeça sendo martelada por um dos poucos “nãos” que recebeu na vida. Reuniu sua banda, pediu ideias aos músicos que o acompanhavam e foi escrevendo, conforme tocavam, a letra da canção. O resto da história, nós já conhecemos.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

× Curta Music Non Stop no Facebook