A América do Sul está perdendo tempo. Eventos anuais que premiam povos originários estão pipocando no mundo todo
Para que serve um evento de premiação anual? Para chamar a atenção, claro. Associações descobriram, há muito tempo, que uma das melhores formas de impulsionar cenários culturais é adicionar o charme e o glamour dos tapetes vermelhos, em festões cheios de convidados, atenção da mídia e troféus dourados. Os Estados Unidos, terra do Oscar e do Grammy, sacaram há muito tempo este poder. Na terra de Walt Disney, têm premiação para tudo. De quiroprata do ano a melhor cover do Elvis ou o “Oscar da pornografia”, o AVN Awards.
Em 1998, cabreira com a hegemonia branca dos indicados do Grammy Awards, a classe artística dos EUA criou o Native American Music Awards. Apesar de sua abreviação oficial ser NAMA, o prêmio ficou rapidamente conhecido, em explícita espetada, como Nannys. O evento premia discos de música feita por tribos nativas e também mantém um hall da fama com artistas de ascendência indígena que se destacaram. Não são poucos. Em sua galeria, há nomes como Jimi Hendrix, Hank Willians, Link Wray e Ritchie Valens.
O vizinho Canadá, com sua enorme nação indígena, não perdeu tempo. Desde 1999, o Indigenous Music Awards é realizado anualmente, se tornando o maior evento do mundo relacionado ao som feito pelos povos originários. Inicialmente criado para exaltar exclusivamente os aborígenes canadenses, a coisa se expandiu tanto que a associação incluiu a categoria International Artist Of The Year e, de cara, reconheceu o trabalho de uma artista brasileira em sua indicação. Em 2018, a amazonense Djuena Tikuna foi indicada.
Originalmente chamada de Aboriginal People’s Choice Music Awards, a premiação começou pequena, mas logo chamou a atenção de todo o país, renomado por compensar social e financeiramente os povos originários explorados no passado. Tanto que o prêmio é transmitido ao vivo na TV canadense, pelo canal Aboriginal TV.
Os exemplos norte-americanos chegaram ao outro lado do mundo cinco anos depois. Em 2004, a Austrália realizava a primeira edição de um prêmio que rapidamente se tornou bastante relevante em seu país: o NIMA – National Indigenous Music Awards. Nele, o foco é a presença de indígenas no mercado, e não a música tradicional, propriamente. Suas categorias premiam profissionais como “produtor indígena do ano” ou “compositor do ano”, além de álbuns de rap, country e pop feitos por descendentes de povos originários.
Enquanto isso, artistas indígenas brasileiros e latino-americanos têm feito bonito no mundo da música, aliando a tradição a outros ritmos de música urbana para expressar a história e, principalmente, os anseios de seu povo. Se prêmio é bom e alavanca tudo mundo, nada melhor do que importar um formato que tem potencial para chegar junto às iniciativas mais antigas feitas pelos irmãos do norte. O mais rápido possível, de preferência.