music non stop

Cultura do paredão invade o CCBB Rio de Janeiro

Paredão

Aparelhagem Crocodilo. Foto: Divulgação

Com três dias de programação gratuita, Festival Paredão Ocupa o Museu traz paredões de som do Maranhão, do Rio e do Pará

O movimento de colocar as caixas de som na frente de casa é muito mais simbólico do que muitos imaginam. É comum em comunidades de todo o mundo e se trata, na verdade, de uma resistência à falta de opções de entretenimento em bairros mais pobres. Quando os bares, clubes e casas noturnas são inacessíveis para uma determinada população, a solução natural é fazer a própria festa, botando o som no meio da calçada e lascando a mão no volume, transmitindo a música para os vizinhos. É uma opção de lazer, um sentido de compartilhamento e um grito de resistência. É como se as caixas de som fossem canhões, e a música, os mísseis destruidores disparados contras as muralhas sociais.

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O movimento de tirar o aparelho de som da sala e meter na calçada rapidamente evoluiu para algo maior. Se o bairro não tem um salão de baile para juntar a comunidade, a solução é fazer a festa na rua. Grupos de amigos passaram a se reunir e “juntar as caixas”, empilhando-as em becos e terrenos baldios para ganhar potência e reunir mais gente. Assim surgiu o hip-hop, com as chamadas bloc parties” (festas de bairro) no Bronx, bairro pobre de Nova Iorque, nos anos 70.

Não foi inventada ali. A ideia foi levada aos Estados Unidos por imigrantes jamaicanos, já experientes nesse tipo de rolê. Enquanto isso, no Brasil, as radiolas maranhenses faziam a mesma coisa, sem qualquer conexão ou troca de informações com a ilha caribenha. Um movimento encantador e absolutamente orgânico, surgido como resposta ao esquecimento do poder público em relação às necessidades das comunidades carentes.

Conforme o movimento cultural foi se fortalecendo, os organizadores foram transformando seu sistema de som em paredões, enormes torres de caixas nômades, construídas por eles mesmos. Se havia um espaço livre, o pessoal chegava, montava a estrutura e soltava a música. Assim surgiu o soundsystem jamaicano e as poderosas equipes de baile como Chic Show, em São Paulo e Furacão 2000, no Rio de Janeiro, entre centenas de outras.

Esse é o tema do sensacional Festival Paredão Ocupa o Museuevento que acontece neste final de semana (26 a 28 de setembro) no CCBB Rio de Janeiro. O projeto reunirá palestras, documentários e a presença de paredões de som do Maranhão, do Rio de Janeiro e do Pará, berço de um gigantesco movimento batizado de “Aparelhagens”, réplicas dos paredões de outros lugares do mundo animadas pelo gênero musical tecnobrega. Uma bela seleção de DJs será responsável por não deixar o povo parado.

A curadoria do festival, a cargo de Barbara Vida, Jasmine Giovannini e Lisa Brito, também incluiu no evento uma transmutação da cultura dos paredões, a dos veículos sonorizados, responsáveis pelos encontros ilegais chamados de batidões, muito comuns nos dias atuais. Engloba, portando, décadas de história de resistência e lazer gratuito para as comunidades onde vivem. Uma praça de alimentação com comidas típicas paraenses, maranhenses e cariocas completa o festival. 

Serviço

Festival Paredão Ocupa o Museu

Data: De 26 a 28 de setembro de 2024 (quinta a sábado)
Local: CCBB Rio de Janeiro: R. Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro/RJ
Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 20h; fechado às terças-feiras. Apresentações musicais: das 20h às 02h; ciclo de debates + exibição de filmes: das 16h às 19h30
Entrada: Gratuita
Classificação indicativa: Acima de 18 anos
Mais informações: No site oficial
Programação completa:

26/09 – Quinta-feira

16h  | Debate:
Reggae & Radiola na Jamaica Brasileira
Convidados: Ademar Danilo (MA), Nayra (MA), Célia Sampaio (MA), equipe Freedom FM (MA)

18h30  | Mostra de Filmes:
Ginga Reggae na Jamaica Brasileira
Direção: Naýra Albuquerque | Maranhão | 2024 | 50′

20h | Shows:
Palco Paredão:

Radiola Freedom (MA)

DJ Ademar Danilo (MA)

Célia Sampaio (MA)

Núbia (MA)

Palco Automotivo:

Paredão do Hulk (RJ)

Digital Dubs (RJ)

VJs:

VJ Nay Albuquerque

VJ Guigga Tomaz

18h – 02h | Feira Gastronômica

27/09 – Sexta-feira

16h | Debate:
É Tudo Sobre Funk
Convidados: Tássia Seabra (PE), equipe A Coisona (RJ), Rayssa Dias (PE), Gabi Nas (MG), Maíra Neiva Gomes (MG), Taisa Machado (RJ)

18:30 | Mostra de Filmes:

Proibidão
Direção: Ludmila Curi e Guilherme Arruda | Rio de Janeiro | 2015 | 13′

DJ Rennan da Penha no Baile da Disney
Direção: Na Favela | Rio de Janeiro | 2021 | 10′

The Beat Diáspora – Brega Funk
Direção: Roguan | Pernambuco – São Paulo | 2022 | 29′

20h  | Shows:
Palco Paredão:

A Coisona (RJ)

Rayssa Dias (PE)

Palco Automotivo:

Paredão do Hulk (RJ)

DJ Gabi Nas (MG)

Baile do Ademar (RJ)

VJs:

VJ Flavinho JF

VJ Andressa Núbia

MC: Taisa Machado

18h – 02h | Feira Gastronômica

28/09 – Sábado

16h – 18h | Debate:
Do Sonoro às Aparelhagens: Cultura de Paredão na Amazônia Paraense
Convidados: Aparelhagem Crocodilo (PA), Maderito (PA), Kauã (PA), Chico Sidou (PA), Sonoro Paraense (PA)

18h30 | Mostra de Filmes:

Os Mistérios da Boa Vista
Direção: Kauê Bentes e Mhorgana | Castanhal (PA) | 2024 | 22′

Hoje Estamos Aqui: Breve História de um Sound System Amazônico
Direção: Darien Lamen | EUA/Brasil | 2021 | 20’

20h | Shows:
Palco Paredão:

Aparelhagem Crocodilo (PA)

Palco Automotivo:

Paredão do Hulk (RJ)

Sonoro Paraense (PA)

Maderito feat Leona Vingativa (PA)

VJs:

VJ Astigma

VJ da Aparelhagem Crocodilo

MCs: Leona Vingativa e Maderito

18h – 02h | Feira Gastronômica

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