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Tudo o que você dança passou pelo Japão. Como os instrumentos musicais japoneses mudaram o mundo da música a partir dos 80

mulher japonesa tocando teclado

Mostra de Instrumentos Japoneses - foto: reprodução youtube

A indústria japonesa de instrumentos musicais revolucionou a forma de fazer gravar música a partir da década de 80. Tudo o que você dançou por aí passou por um instrumento japonês.

Você dança música japonesa desde 1990 sem saber e eu não estou falando da música de abertura da série Cavaleiros do Zodíaco. Tudo bem que a versão brasileira da série na finada rede de TVManchete teve sua música tema regravada, mas ainda assim você ouviu, como em tantos outros temas, sons com muita “coisa do Japão” em sua gravação.

Se você gosta de música eletrônica mas não é muito fanático, talvez não entenda muito bem quando vê alguém comemorar o  “dia da TB” em 3 de março. Ou talvez não saiba o que aquela sua amiga clubber nerd esteja falando quando encontra com o amigo também clubber nerd e eles começam a falar de TB, TR, DX7, Electribe e outras coisas do tipo.

Bateria eletrônica Roland TR 808 – foto: divulgação

 

Todos esses nomes citados acima, tem algo em comum: são instrumentos musicais eletrônicos produzidos por marcas japonesas como Roland, Yamaha e Korg. E o fato é que nas décadas de 80, 90 esses instrumentos “dominaram o mundo”!

Após a 2 ª Guerra Mundial o Japão de certa forma renasceu. O país saiu do conflito muito enfraquecido, com cidades destruídas, e as décadas seguintes foram de reconstrução.

Ainda com todas as dificuldades, no final da década de 60 o país já era responsável pela segunda economia do mundo e a prosperidade que ali habitava  circulava entre uma classe média emergente, sedenta por consumo, o que tornou o país um ambiente propício para o crescimento de alguns setores.

Afim de preencher essa demanda desse mercado altamente consumista, as indústrias do país “copiavam” muitos bens de consumo importados incluindo em seu projeto melhores com um toque do perfeccionismo japonês, uma característica que foi grande responsável crescimento econômico da ilha: se o relógio Suíço era o melhor da época, a indústria nacional passava a produzir um semelhante e até melhorado e isso aconteceu com diversos ítens. Com os sintetizadores não foi diferente (e aqui eu me aproprio do termo “sintetizador” para assim chamar baterias eletrônicas, samplers, etc).

Dizer, portanto, que os engenheiros do país “copiavam”, pode realmente soar muito simplista.  A indústria japonesa melhorava processos de produção, mantinha times de pesquisa e desenvolvimento e o resultado era o laçamento ininterrupto de produtos bons e com preços competitivos.

Some tudo isso ao câmbio favorável e os produtos japoneses tornaram-se muito competitivos nos países do ocidente.

A-ha, Phil Collins, Kool and the Gang… é enorme a lista de músicas que têm o som do Yahama DX-7 – foto: divulgação

De fato, os sintetizadores japoneses eram bons e baratos e conquistaram  na Europa e América. Se popularizaram tanto que as pioneiras norte-americanas Moog, Sequential e ARP acabaram por fechar as portas na década de 80.

Então os instrumentos eletrônicos japoneses invadiram os estúdios e também se popularizaram entre as “pessoas comuns”, já que se tornaram muito acessíveis.

O icônico bassline da Roland, TB-303, foi criado originalmente para acompanhar um guitarrista, ou outro instrumentista, que precisasse de uma automação de um baixo, assim como a TR-808, uma bateria eletrônica também da Roland que tinha essa mesma finalidade. Esses dois instrumentos acabaram não fazendo sucesso no seu público-alvo, contudo caíram no gosto de artistas que estavam criando beats ou coisas parecidas, pois eram baratos. Ganharam notoriedade no mercado de segunda-mão, encalhados em lojas de instrumentos por não terem agradado seu público alvo.

A TB e a TR foram muito importantes para a criação do techno, por exemplo, e estão intimamente ligadas à cultura desse gênero da música eletrônica, que tem como um de seus berços Detroit. E aqui é preciso abrir um parêntese e a história fica ainda mais interessante: a “Motor City”, como ficou conhecida Detroit, era próspera e famosa por abrigar as fábricas das marcas de carros norte-americanas e com a chegada dos carros japoneses aos EUA, num processo similar ao que ocorreu com os sintetizadores,  deixaram a cidade  literalmente falida. Houve uma emigração maciça de Detroit: aqueles que puderam, deixaram a cidade que não tinha mais muita coisa a oferecer em termos de bem-estar social. foi nesse contexto (muito sucintamente explicando) que nasceu o techno de Detroit.

Porém, não foi só no techno que os sintetizadores japoneses estavam presentes, mas em quase toda a música eletrônica e na pós-produção das músicas orgânicas. Em pouco tempo, boa parte do que era ouvido nas décadas de 80, 90 passaram por algum instrumento eletrônico japonês.

Do início dos anos 2000 para cá o cenário mudou, a indústria mudou muito, os instrumentos japoneses já não são mais “tão” japoneses, já que montados muitas vezes por componentes de diversas regiões do globo, além do fato da popularização das DAWs (softwares de produção musical) terem levado boa parte do processo para dentro dos computadores.

No entanto, não há estúdio ainda hoje neste mundo sem um equipamento japonês no set up.  O acesso facilitado a estes instrumentos mudou os rumos da música no mundo.

Você já ouviu (e dançou) música japonesa.

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