Mykki Blanco na Glasslands Gallery, no Brooklyn, NY, em 2014 Drew Gurian / Red Bull Content Pool

O line-up do RBMA Festival é um tapa na orelha, com nomes que vão de Egyptian Lover, Theo Parrish, Honey Dijon e Mykki Blanco até Racionais e Arthur Verocai. Falamos com o diretor do festival

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Produtores e DJs do mundo já sabem o peso que tem o nome Red Bull Music Academy. Criada em 1999, a “academia”, como é chamada pelos íntimos, é uma residência itinerante de música com workshops dos sonhos e sessões em estúdios equipados com tudo o que se possa imaginar. Os alunos, escolhidos a dedo através de um extenso questionário, compartilham desse pequeno nirvana voltado para produtores musicais, compositores e DJs durante duas semanas, com tudo pago, acompanhados de outros gênios em formação de diferentes partes do planeta.

Robert Moog durante sua aula na Red Bull Music Academy em 2003, em Cape Town, África do Sul

Do Brasil, já participaram artistas como Rodrigo Coelho, Silva, ZopelarEli Iwasa, Ana Flávia, Érica Alves, Thingamajicks, Desampa, Daniel Limaverde e Luisa Puterman. Entre os palestrantes, aí sim fica embaçado, porque a RBMA não brinca nesse quesito. Eu mesma acompanhei workshops de mestres como Gilberto Gil e Carl Craig em 2002, em São Paulo, e em Cape Town, África do Sul, no ano seguinte, quase surtei com uma aula dada por Robert Moog (sim, o cara que inventou a parada) em pessoa. Alguns outros nomes que já palestraram na RBMA, só pra sua informação: Erykah Badu, Brian Eno, George Clinton, Björk, Debbie Harry, Derrick Carter, Derrick May, Eumir Deodato, Flying Lotus, Giorgio Moroder, Frankie Knuckles, James Murphy, Jeff Mills, M.I.A, Nile Rodgers, DJ Marky… ok, parei.

Debbie Harry & Chris Stein na Red Bull Music Academy em NYC em 2003

Desde 2014, a Red Bull Music Academy se tornou um festival e desde então já realizou cinco edições em Nova York e duas em Paris. Em junho, é a vez de São Paulo conhecer o Red Bull Music Academy Festival, um eventão que chega com uma programação pesada entre 2 e 11 de junho, celebrando a criação musical com performances ao vivo, festas, instalações de arte e palestras.

Com o Red Bull Station, no centro de São Paulo, como ponto central do evento, o festival ainda irá desvendar locações na cidade totalmente reconfiguradas para a ocasião. Os locais, datas de cada evento e venda de ingressos serão anunciados em breve pelo site sp.redbullmusicacademy.com.

A chinesa Pan Daijing ao vivo em Mayhem

Entre as atrações do Red Bull Music Academy Festival São Paulo estão alguns dos artistas mais instigantes e relevantes da música contemporânea brasileira e internacional. Entre eles, o pioneiro Egyptian Lover (que irá dividir uma noite com outro pioneiro, o carioca Grandmaster Raphael, o rapper americano Mykki Blanco (que irá tocar com MC Linn da Quebrada), a produtora de Chicago Honey Dijon, a chinesa Pan Daijing, o músico e selector americano Theo Parrish, além de um time de brasileiros tão da pesada que começa com o maestro Arthur Verocai e chega até Racionais MCs, que vai fazer um show revisitando suas três décadas de carreira, além de nomes superatuais da música eletrônica e discotecagem nacional, como Cashu, DJ Nuts, Selvagem, Akin, Tata Ogan, Érica Alves, Luisa Puterman. A lista completa você encontra aqui.

A DJ trans Honey Dijon, de Chicago, traz pra São Paulo seu som que mistura influência de sua cidade natal e techno

O Music Non Stop trocou dois dedos de prosa com Many Ameri, cofundador da Red Bull Music Academy (juntamente com Torsten Schmidt) e responsável pelo RBMA Festival.

Many Ameri é o responsável pela Red Bull Music Academy, que virou em festival em 2014 e vem pra SP em junho

Music Non Stop – O que vocês queriam atingir quando criaram o festival?

Many Ameri – Na academia, nós focamos em criatividade musical e reunimos artistas que querem fazer a diferença em termos de música. No line-up do festival, a proposta é a mesma: tentamos mostrar a música no contexto real em que ela foi criada. Buscamos mostrar heranças musicais e queremos revelar às pessoas músicas que estabelecem conexões com o que é produzido localmente e de forma global. É possível encontrar tudo isso na programação que montamos para o festival de São Paulo. Quando você vê artistas como Grandmaster Raphael e Egyptian Lover na escalação, é possível exemplificar o que falo. Teremos música local com uma identidade muito forte (o funk carioca) tocada junto a ritmos globais que a influenciaram. Colocamos os dois juntos para celebrar o funk e o electro. Este é um clássico exemplo do nosso foco na Red Bull Music Academy. Em resumo, nossa intenção é celebrar música local e internacional, criando contextos para explorá-las e tentando destacar artistas que estão fazendo diferença e transformando mentes.

Egyptian Lover no palco Red Bull Music Academy no Sónar Copenhagen, Dinamarca, em 2015

Music Non Stop – O que você diria que o RBMA Festival tem de diferente em relação a outros eventos musicais que existem hoje no mundo?

Many Ameri – Na maioria dos festivais de hoje a proposta é trazer o que há de mais novo ou de mais “quente”, para atender as vontades do público. Um diferencial do #RBMASP e da academia é trazer nomes que o público pode não conhecer diretamente, mas que são claras influências de outros artistas que essas pessoas acompanham, por exemplo.

A DJ Cashu, da Mamba Negra, é uma das artistas que irão representar o Brasil no RBMA Festival em São Paulo

Music Non Stop – Por que escolher São Paulo para sediar o festival no Brasil?

Many Ameri – Nós levamos a academia ao Brasil em 2002, há muito tempo. Foi uma ótima oportunidade para nós, e nossos colaboradores locais pediam desde então algo mais, dada a grande movimentação musical da cidade. Foi uma chance de estar em um lugar em que muita coisa acontece musicalmente, já que sempre acompanhamos o que rola. O Red Bull Station, onde ocorrem muitas gravações, happenings e eventos musicais, é outro exemplo da efervescência de São Paulo. Quando pensamos em levar um evento desses para outro lugar, especialmente na América do Sul, tinha mesmo que ser em São Paulo. Eu conheço bem a cidade, já fui diversas vezes (passei muito tempo em 2002, devido à academia) e estava procurando um motivo para voltar.

RBMA FESTIVAL SP
2 a 11 de junho
Mais informações no site

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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