The Weeknd indica encerrar projeto depois de novo álbum
Um dos nomes mais bem-sucedidos da música na atualidade considera ter “chegado ao limite” com sua persona artística
Para um artista, não há mais divertido e libertador do que matar seus alter egos. David Bowie, exemplo maior no mundo da música, era um verdadeiro assassino serial. Inventava um novo personagem para acompanhar um novo som, com uma nova estética, e depois colocava tudo abaixo, livre para criar algo novo. Eminem criou Slim Shady, um personagem desbocado e politicamente incorreto para falar merdas sem que as consequências recaíssem sobre sua pessoa. Também um alter ego que descansa a sete palmos desde 2024. Outro personagem com fim anunciado no mundo da música é, para surpresa de todos, o The Weeknd, nome artístico do produtor canadense Abel Tesfaye.
“Estou em um ponto onde quero deixar essa persona para trás. É como se eu precisasse matá-la para seguir em frente”, anunciou em entrevista à revista Variety. O funeral deve acontecer após o lançamento álbum Hurry Up Tomorrow, no próximo dia 24. Para Tesfaye, o disco é a parte final de uma trilogia que inclui After Hours (2020) e Dawn FM (2022).
Confirmando-se o fim do projeto, o artista, que considera ter chegado “ao limite”, encerra a fase The Weeknd no auge do sucesso, o que é intrigante e, principalmente, excitante para quem aguarda os seus futuros passos. Se deseja ser um novo Bowie ou simplesmente varrer a sala para levar sua música a outros territórios sem passar pela cobrança dos fãs (tipo, “o que aconteceu com o The Weeknd?”), ainda é cedo para saber. Mas uma coisa é esperada. A sonoridade que Tesfaye construiu em 15 anos, de absurdo sucesso e uma sequência de recordes, não deverá mais ser ouvida a partir de 2026.
Criar um avatar, ligeiramente distante da pessoa real, foi uma lição aprendida a duras penas na história da música pop. Muitos artistas acabaram carregando um baita fardo com as imagens que construíram em determinado momento de suas carreiras, que acabaram virando “tatuagens na cara”, por mais que eles tenham mudado sua forma de pensar.
Foi assim com Raul Seixas, que fez de tudo para se distanciar (sem sucesso) da sua aura de guru ocultista do “novo aeon”, com Ozzy Osbourne, que era obrigado a dar de cara com jovens vestidos como padres satânicos nas saídas dos shows, ou Jimmy Page, do Led Zeppelin, que também escalou o sucesso construindo para si mesmo uma aura mística, completamente diferente do cara que fugiu para o interior do Reino Unido para andar de bermuda e chinelo, longe da mídia e dos fanáticos. Já que os shows se tornaram espetáculos quase teatrais, por que não colocar em cima do palco personagens, assumidamente distantes daqueles que o interpretam?
Atos de coragem e desapego como esse, salvo uma safada de jogada de marketing, só devem fazer crescer ainda mais o respeito de Tesfaye no mundo da música.