O Dia da Posse, afetividades e relações com a pandemia na Mostra Tiradentes
A sensibilidade da população brasileira, diante da pandemia, presente na tela de Tiradentes
Acompanhar um festival como a Mostra de Cinema de Tiradentes é uma aventura. Presencial ou não, podemos afirmar como a arte imita a vida. Um dos títulos exibidos, O Dia da Posse, aborda planejamentos e esperanças de alguém que enxerga um futuro possível.
Toda a programação se encontra disponível no site oficial, mostratiradentes.com.br
O Dia da Posse
Neste longa metragem do diretor Allan Ribeiro acompanhamos a rotina de Brendo Whashigton durante a pandemia. O rapaz, que também roteirizou o documentário, sonha em ser presidente do Brasil. Enquanto se mantém isolado em seu apartamento ele se planeja para um futuro possível.
Allan dividiu estadia com Brendo durante o período de isolamento social. Como consequência, suas lentes se transformaram em meios de observar o que passava dentro de seu apartamento e dos prédios no entorno. O que presenciamos são reflexões sobre presente, passado e futuro, ora nas janelas da vizinhança, ora nas reflexos do colega de apartamento.
O longa está mais preocupado em te mostrar a rotina do que em contar uma história, como boa parte dos filmes faz. Seu valor está na exposição do cotidiano durante a pandemia, como se aquela casa fosse observada. E, dessa maneira, acompanhamos o sonho do garoto pobre, hoje estudante de direito, que quer ser presidente e sonha acordado com o dia em que será empossado.
Seguindo Todos os Protocolos
Assim como O Dia da Posse, boa parte dos filmes realizados de 2020 até agora foram atravessados pelo isolamento social. Como a pandemia se tornou algo presente na vida global, nada mais comum do que vê-la representada também em ficções.
A motivação do protagonista do filme é simples: Francisco está isolado em casa e quer transar. Entretanto a abordagem de Fábio Leal, diretor, roteirista e intérprete de Chico transforma um filme que começa cômico e irônico em um belo drama sobre a solidão. Após dez meses trancado em seu apartamento, o homem decide receber um afeto casual com o objetivo de transar, mas seguindo todo o protocolo sanitário.
Chico representa a saúde mental de todos os que se isolaram. O efeito da solidão em sua vida aparece na forma de frustrações e medos. Mas, ao mesmo tempo o personagem está atravessando um momento em que se reconecta com o amor, seja por si ou pelo próximo. Um belo filme sobre amores gays, autocuidado, que abusa da nudez sem ser puritano ou vulgar.
Afetividades
Na Mostra Foco, série 1, cinco filmes abordam suas temáticas com experimentações visuais. Destaco dois títulos que retratam situações que envolvem afetos. Em Iceberg, de Will Domingos, a pandemia é pensada por meio da realidade de pessoas LGBTQIA+ que ficaram sem casa durante a crise sanitária. Em um casarão, pessoas se abrigam e formam uma rede de carinho e cuidado, trabalhando em uma cooperativa de costura. Tangente a vida dos moradores, pobreza e violências são assuntos tratados. Além disso, a própria casa é um ser que vive e exprime seu mal estar diante do que as personagens vivem.
Em Bicho Azul, um monólogo, Rafael Spínola, aborda o luto. O curta é a vocalização de um e-mail que esta sendo escrito, para comunicar um óbito e, ao mesmo tempo, resgatar uma memória. Afetuoso e tocante, a produção reflete na subjetividade da narração do eu-fictício dores individuais em tempos tão duros quanto o que vivemos.