Novo disco do DJ Marky, “The Time Is Right” foi inspirado em separação amorosa, Cazuza e covid. Mergulhe no universo do LP
2º álbum do DJ paulistano te transporta para as ruas de Londres, mesmo que você nunca tenha pisado na terra da rainha
Se existe uma uninamidade entre os DJs no Brasil, alguém que facilmente levaria o título de simply the best caso uma eleição permitisse apenas votos de outros disc-jóqueis, esse cara é o paulistano Marco Antonio da Silva. Do alto de seus recém-completos 50 anos, Marky não é à toa um dos DJs que mais colecionam fãs que são colegas de profissão.
O segredo desse prestígio é a combinação de uma técnica primorosa, um repertório irritantemente abrangente, uma memória inabalável nem pelos anos de noitadas mal dormidas (e muitos bons drinks) e um bom gosto que se refina como vinho com o passar do tempo, sem contar seu charme e carisma.
Em julho passado, Marky voltou a dar o que falar no universo dos DJs e das pistas pelo mundo afora com o lançamento do segundo álbum da carreira, o maduro e bonito The Time Is Right, lançado pelo selo inglês Shogun Audio — inclusive, claro, no formato vinil, que você pode encomendar neste link.
A sonoridade do disco transborda uma das grandes influências do DJ; a música de pista produzida em Londres. A audição do álbum vai te transportar direto para as ruas cobertas pelo fog londrino, como se você estivesse transitando num daqueles ônibus de dois andares, mesmo que você nunca tenha pisado da terra da rainha.
É fato que a vida do DJ paulistano foi marcada por sua relação com a Inglaterra, que começou em 1998 logo depois que o DJ inglês Bryan Gee o viu tocando em um clube em São Paulo. Espantado com as habilidades de scratch do garoto, ele o convidou para tocar em Londres, cidade que Marky já havia visitado um ano antes, quando conheceu por acaso na rua os DJs Hype e Goldie. Daí em diante, o love affair do Reino Unido com Marquinhos, e vice-versa, só aumentou e o consagrou como um dos DJs mais queridos entre os britânicos — e olha que a concorrência é cruel por lá.
Mas de volta a The Time Is Right. O disco transpira um misto de fish and chips e pints de cerveja ao longo de suas 15 faixas, com várias participações especiais. Até porque foi produzido, boa parte, enquanto o DJ estava em Londres, logo após romper um relacionamento de mais de seis anos.
“Eu queria fazer um disco diferente. A primeira música que eu fiz foi Spaceship Connection, que tem uma fala do Gary Bartz falando sobre a mistura de funk com jazz, além de ele falar também sobre como os jazzistas usavam drogas e tal. Também tem a Come Back, uma música que tem como inspiração essa vontade de voltar a viajar e tocar pelo mundo. Senti muita falta disso durante a pandemia”, diz o DJ, comentando algumas das faixas do disco.
“Trip to the Stars já é uma música um pouco mais intensa, porque quando eu fiquei internado com covid, os poucos dias em que eu conseguia dormir, eu via estrelas. E ainda ouvia muito uma música chamada Um Trem pras Estrelas, do Cazuza, que é uma letra do Gilberto Gil. Dance Again foi diferente, eu já tava mais alegre; Poetry é um pouco mais sentimental. Eu fiz com a [MC inglesa] Solah, ela escreveu a letra. É um trabalho bem maduro no geral, eu acho”, continua.
“Ele parece um disco feito em Londres”, eu comento.
“Ele é um disco feito em Londres, na verdade. Foram poucas faixas feitas no Brasil. Nessa época eu estava num relacionamento de seis anos e estava bem pra caramba, mas, quando eu fui pra Londres, depois da pandemia, o relacionamento acabou. Não por minha causa, mas por causa da pandemia e da pessoa com quem eu estava. E aí eu tive que tirar inspiração pra fazer certas músicas. Lembro que eu não conseguia dormir, passei várias noites assim”, relembra, antes de contar de onde veio a ideia para a música Colors on My Mind, letra escrita pelo amigo Sam Wills.
MNS – E esse álbum resolveu essa desilusão romântica que você viveu, afinal?
DJ Marky – Ele começou de uma maneira muito romântica e terminou muito triste, na verdade. Mas, no final das contas, o resultado foi fantástico. Em todas as coisas que eu faço, eu coloco muito de mim, coloco muito amor, eu demoro até pra fazer.
O remix da Rita Lee, o Latin Lover Song, eu demorei três meses pra fazer. Foi o mais longo, e na minha opinião, foi o melhor que eu já fiz. A música inspira nos bons e também nos maus momentos. É complicado, então às vezes você tem que saber lidar com isso. Tanto quando você tá muito feliz, como em LK, quanto nos tristes. Uma coisa meio Tim Maia.
No final das contas, o disco me causa impressão de que você está bem!
É isso! A primeira música tem sample de Dance Disco Heat, do Sylvester, por exemplo. A galera não estava mais fazendo drum’n’bass com disco, daí eu falei: “vou pegar essa lacuna”. E resultou na primeira faixa, Sliding & Gliding, que eu fiz com a dupla austríaca Dossa & Locuzzed.
O que rolou foi que eu estava tão triste nessa época que as pessoas me chamavam pra fazer música, e eu ía. Por isso tem tantas colaborações. Foi perfeito. Isso me ajudou muito. Nas horas em que a gente tá feliz, a gente precisa dos amigos. Na hora que tá triste, precisa mais ainda.
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Diz se não é pra votar no DJ Marky como melhor DJ pra sempre?
The Time Is Right
DJ Marky
Selo Shogun Audio
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