Marky e seu filhote fofo, Gabriel

DJ Marky: “vamos reerguer a cena de drum’n’bass”

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Marky e seu filhote fofo, Gabriel

Estou indo na BBC Radio 1 agora, posso te mandar as outras respostas em uma hora e meia?

A frase acima, que podia ter sido escrita por algum DJ gringo da moda, foi enviada para mim, por meio de mensagem do Facebook, pelo DJ Marky, paulistano que ajudou a colocar a música eletrônica nacional no mapa-múndi, mas que agora anda meio sumido do noticiário brasileiro.

Menino da Penha, de nome bem brasileiro, Marco Antônio da Silva ganhou fama no final dos anos 90, quando junto com outros representantes do drum’n’bass brasileiro (como Patife e XRS) começou a chamar a atenção na Inglaterra, não apenas por fazer músicas com tempero de bossa nova, como LK (Carolina Carol Bela), versão para o clássico de Toquinho e Jorge Ben que virou hino das pistas, mas também pelo jeito totalmente festeiro e carismático de tocar.

O reinado de Marky nas melhores cabines de som do planeta começou na virada de 97 para 98 e só faz crescer. O ano de 2011 começou particularmente especial para o DJ, que se tornou o único brasileiro a lançar uma compilação pelo selo do clube noturno Fabric, de Londres. O disco dele é o de número 55 da série FabricLive, que já botou na rua álbuns mixados por ícones como John Peel, Plump DJs, Krafty Kuts e DJ Yoda, entre vários outros. Marky foi convidado a lançar o disco depois de ter tocado regularmente (e sempre sob críticas elogiosas) no clube durante cinco anos.

Enquanto isso, no Brasil, com pouquíssimas noites fixas de drum’n’bass, nosso Pelé da discotecagem não tem o destaque que mereceria. Por isso, o DJ acaba passando um bocado de tempo fora do País.

Marky foi o último convidado da agora finada Discology, noite que mantive por quase oito anos com meu amigo DJ e jornalista Camilo Rocha. E foi vendo Marky tocar nessa derradeira noite, em dezembro último, que pensei que poucas vezes na vida tinha visto alguém fazer uma coisa com tamanha paixão. Não importa se ele está tocando diante de duas mil pessoas ensandecidas em Londres ou para um grupo de amigos num clube da Rua Augusta, Marky é sempre um DJ por inteiro, apaixonado e apaixonante. Até cantar usando o fone de ouvido ele cantou naquela noite. Essa soma de fatores me levou a perguntar um par de coisas a esse que é um dos maiores DJs que eu já vi tocar na vida. Com a palavra, Marky, falando diretamente de sua casa longe de casa… Londres.

Você acaba de lançar um disco por um dos selos mais concorridos da música eletrônica e tem tocado nas festas mais incríveis do mundo. Como explica que no Brasil não esteja na sua melhor fase?

O mesmo trabalho que faço na Inglaterra e no mundo eu faço no Brasil, conquistei e ainda conquisto prêmios, sempre sou citado pelos melhores DJs e produtores. Acho que não preciso provar mais nada a ninguém, mas tenho que admitir que no Brasil as coisas não estão fáceis. Muitos celebrity DJs, DJs promoters etc… Mas disc-jóqueis de verdade dá pra contar, né? Hoje no Brasil as coisas estão diferentes, mas ainda acredito que vai mudar!

O que você acha que aconteceu com a cena de drum’n’bass no Brasil?

Hoje não saio mais à noite e explico o porquê: todas as noites tocam o mesmo estilo de música, nada diferente e sempre os mesmos DJs. Parece até rodízio, pois os mesmos que tocam em tal clube na quinta-feira tocam na sexta-feira no clube vizinho. Tem as festa Tranqueira e noites de hip hop, que são exceções. Acho que as pessoas sentem falta de ter uma noite fixa de drum”n”bass como na época do Lov.e, mas hoje os tempos são outros. Acho que tanto eu como o Andy e outros meninos estamos batalhando espaços e tentando reerguer a cena e isso é positivo. A Tenda Marky & Friends no Spirit Of London é sempre lotada, o que acontece é que fica difícil fazer uma noite de terça, quarta ou domingo. Fiz algumas noites no (clube paulistano) Hot Hot e arrebentamos: público bacana, mais de 700 pessoas, mas o que quero é fazer a festa num dia legal: sexta ou sábado. Estou estudando algumas propostas, tenho fé que vai dar certo. O mundo não é só Panamericano (hit dance das FMs), acho que está acontecendo uma overdose de músicas comerciais. Também acho que as pessoas no Brasil valorizam demais o DJ estrangeiro. Sou valorizado em Londres, mas sei que aqui é a casa de outros DJs como Hype, Andy C etc. O mesmo público que me idolatra aqui idolatra ainda mais os caras locais, pois eles têm orgulho desses DJs, coisa que não acontece muito no nosso país, infelizmente! Mas como disse: amo o Brasil e não vou desistir, as coisas estão melhorando e com certeza vamos reerguer a cena!

Você acha que já atingiu tudo como DJ? Falta alguma coisa?

Acho que não tudo, mas o mais importante eu consegui: o respeito dos profissionais que sempre idolatrei. No Brasil, vovô Fieldzz, ou melhor, Iraí Campos, DJ Grego, DJ Vadão e minha maior fonte de inspiração que foi e sempre será Ricardo Guedes. Sou DJ por causa desses caras, quando escutava os programas na Bandeirantes FM, a Pool. Internacionalmente também não poderia deixar Fatboy Slim, Laurent Garnier, Fabio, Grooverider, LTJ Bukem, Yousef, Carl Cox, Claude VonStroke, 4Hero, Giles Peterson, Mixmaster Mike, Craze, A-Trak, Francois Kevorkian, Bryan Gee, DJ Die, Darren Emerson… a lista é longa, então, parece que eu sou mais ou menos bom no que faço, né?

Texto originalmente publicado no Estadão de 19 de fevereiro de 2011

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

× Curta Music Non Stop no Facebook