Nopon foto: Gleeson Paulino

Noporn comemora 20 anos de carreira com novo álbum e tour de lançamento na Europa

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Liana Padilha comenta Contra Dança, quarto álbum do NOPORN, e nos conta um pouco sobre cada faixa

O MNS convidou Liana Padilha, do NOPORN, para falar um pouco de seu novo álbum. Contra Dança é o quarto álbum do duo de Liana e Lucas Freire.

Surgido na virada do século, aurora do cenário eletrônico brasileiro, o Noporn se transmorfou de festa a projeto musical. Liana lançou (ainda com Luca Lauri na formação), inclusive, uma ótima faixa homenageando seu berço, o clubinho fashionista Xingu, em São Paulo.

Desde então, o NoPorn se dedica à produção musical e gigs estonteantes, como a turnê europeia que farão entre setembro e outubro.

Liana Padilha nos conta um pouco sobre o novo disco do NOPORN

“Contra Dança” nasceu da mistura de cenários, da confusão de assuntos. Da super informação. De uma praia paradisíaca, cheia de Ouriços no Rio de Janeiro e a energia feminina da cidade de Lisboa, onde as meninas são livres. Entre o drama e o horror que nosso país se transformou e a necessidade de fazer poesia em pleno centro de São Paulo, com o trem passando na janela, tudo atropelado por um Réveillon em Copacabana e depois o silêncio da mata no interior de Minas Gerais, onde gravamos alguns vocais e conseguimos pisar no chão.

A ideia do Noporn é expressar e mostrar a música em muitos lugares, para muitas pessoas, no mundo todo. Somos sonhadores, poetas e nômades nesses “anos 20” Bizarros.

 Nossos discos são como livros, têm histórias, pessoas, sentimentos variados. Cada disco fala de um mini mundo. Neste, em muitas letras a voz é feminina. A força feminina é uma pauta cara, uma poética rara e necessária nesse momento do mundo.

Pensamos em algo entre o Barroco e o fervo de um fim de mundo. Nossa poética musical é criada em noites sem fim na Barra Funda.

Não temos nostalgia. Apontamos nossa flecha pro futuro.

 

FAIXA A FAIXA

1. Ouriço (Intro)

Sobre oceanos, paixões e Ouriços. Esta música abre o disco com a lembrança do barulho das ondas do mar, misturado com os trens passando na nossa janela na Barra Funda, em São Paulo.

2. Sereia

Ainda no mar, a Sereia não consegue dormir sem gozar. Ela transborda e precisa viver as suas fantasias de rendinhas e derretimento puro.

3. Contra Dança

“Não consigo mudar, tenho que mudar, vou mudar”. A vida não é um programa de tv, você não está num filme. Você não é tão importante. Você está sozinho. “Sexo e solidão”. O mundo tem cada vez mais gente. O oposto da morte é o sexo. “Ninguém pediu a sua opinião”.

4. Lilith

A Lilith é uma entidade mitológica “do contra”. Nunca entendemos direito o que significa, mas adoramos o mito da mulher que não veio da costela de Adão.

A letra fala de astrologia e aspectos entre planetas. Um encontro de duas pessoas: uma tem Marte conjunto à lua da outra e as duas têm Lilith em escorpião.

5. Antropofagia do Amor

Tem a ver com paixão, também com o manifestos   Modernistas de 1922 (semana de arte moderna), Zé Celso Martinez Corrêa e seu teatro Oficina. Tem a ver com o amor e a mistura de átomos entre nós e os seres amados. Sobre cheiros, gostos, sentidos e movimento. E também sobre Não-Drama. “Tentando aplacar o desejo  com o cheiro do suor na camiseta que o objeto do amor esqueceu na sua casa.”

6. Estranha e Louca

E sobre a estranheza de ser Mulher. Para as mulheres livres, nuas, soltas e que ainda acreditam no amor como força de cura. A letra se apropria da pecha da loucura para tratar de uma liberdade ainda distante, para a maioria das mulheres. É um desejo de acolher a estranheza, loucura e mágica de ser mulher hoje no mundo. E dançar nua na chuva.

7. Adoro Djs

Tem gente que tem tesão em drinks, há os que gostam de loiras, os que amam pés ou carros. Pessoas que preferem inteligentes, falantes, calados.

Eu adoro DJs, adoro. Adoro.

8. Drinks Ruins

“Eu estava numa festa, um menino tomou um drink com uma bala dentro e a língua dele ficou AZUL!!! Ele me beijou e passou um filme na minha cabeça. As notas da música tocavam dentro do meu corpo.” Também fala de alguém que te domina sexualmente e vira um drink ruim.

9. Perigo

É sobre ser mulher e poder andar livremente pelo mundo, sem ter que encarar uma guerra diária de assédio e violência. Sem faca na bota nem canivete no bolso.

É sobre mandar no próprio corpo — sobre escolhas.

“Eu vi garotas num verão em Lisboa, andando pelos becos sozinhas sem medo, de top e shortinho, sendo sexy em paz.”

10. A Boca e Mais Nada

É sobre sexo, calor, suor e corpos se esfregando. É sobre desejo de uma parte específica de outro corpo, no caso a Boca. Muito tesão nessas noites quentes, de dormir pelada. Algum álcool e sei Lá….

11. Dezembro

Parece, mas não é dezembro, nem é carnaval.

Mas é sempre quente no lado debaixo do Equador.

Verões intermináveis e as festas do Rio de Janeiro.

Essa letra fala do Rio e de como lá é sempre verão. Festas de rua em lugares perigosos, vistas absurdas, tudo ao mesmo tempo, num looping de um eterno Dezembro.

12. Nome Sujo

“Qual o valor das coisas? Quanto tempo de vida te resta? Você fica esperando o futuro lá longe pra ser feliz?

O futuro é agora. Foge enquanto é tempo.”

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.