Nirvana foto: reprodução Youtube

Empresa divulga músicas “inéditas” de Nirvana e Amy Winehouse, composta por Inteligência Artificial através da análise de suas obras

Sergio Borin
Por Sergio Borin

Empresa de tecnologia lançou duas músicas compostas por sistemas de inteligência artificial analisando a obra passada de dois artistas mortos: Kurt Cobain e Amy Winehouse

Em parceria com a Orquestra Afrosinfônica, Russo Passapusso já mandava a ideia na letra de Fogo, “O futuro não demora!”. Talvez, já esteja acontecendo. Recentemente, o projeto Lost Tapes of the 27 Club (em português: as fitas perdidas do Clube dos 27), pertencente da Over The Bridge, lançou uma nova música do Nirvana (?), no aniversário de 27 anos de morte do músico Kurt Cobain

É confuso, causa estranhamento: como pode uma organização lançar uma música inédita de uma das principais e mais importantes bandas da história? Mas a resposta é simples, utilizaram todos os recursos já lançados pelo Kurt e seus companheiros de camisa flanela, colocaram num programa de computador e, depois de alguns segundos, PRONTO, uma música novinha em folha com todas as características vocais e harmônicas que Nirvana poderia oferecer em 2021. É claro, essa é uma explicação extremamente esdrúxula para entender que a Inteligência Artificial já está entrando com os dois pés no peito na rodinha gigantesca que chamamos de “universo musical” 

Mas como isso tudo funciona (ou vai funcionar)? O professor israelense de história e filosofia, Yuval Noah Harari explica no livro 21 Lições Para o Século 21.

Daqui a alguns anos, iremos presenciar a Inteligência Artificial e a robótica substituindo por inteiro alguns setores da economia, mas estará muito presente em trabalhos que requeiram um nível alto de especialização e que funcionem numa faixa estreita de padronização. Em trabalhos menos padronizados e que exigem diversas habilidades, a Inteligência Artificial terá dificuldade em substituir as mãos e cérebros humanos diante de inúmeros cenários imprevisíveis. Profissionais da saúde, por exemplo, serão de carne e osso por muito tempo. Outro segmento nada padronizado, que trabalha com diversas habilidades e que “se vira” muito bem em muitas situações imprevisíveis, é o segmento musical. 

Mas a longo prazo, nenhuma atividade permanecerá totalmente imune à automação. Levando em conta que a arte no geral é extremamente ligada à emoções humanas, e que essas emoções não passam de conexões químicas. Yuval Noah Harari afirma: “Afinal, emoções não são um fenômeno místico – são resultados de um processo bioquímico. Daí que num futuro não muito distante um algoritmo de aprendizado de máquina será capaz de analisar dados biométricos de sensores em seu corpo, determinar o seu tipo de personalidade e suas variações de humor e calcular o impacto emocional que uma determinada canção  – até mesmo uma certa tonalidade – terá sobre você!”

Ou seja, em algum lugar do futuro existirão empresas de tecnologias que oferecerão músicas exclusivas para você e seu mood, assim como as playlists que o Spotify cria só para você e para mais ninguém. Sacou que isso já está acontecendo? 

Enquanto os robôs não comandam as paradas de sucesso e também não criam nenhum clássico ou hinos de uma geração inteira, alguns artistas já estão brincando com essa tecnologia. Confira a seguir:

Taryn Southern x Amber 

Em 2018, a youtuber e cantora Taryn Southern utilizou a plataforma de inteligência artificial para criar um álbum, cujo o nome é bem sugestivo: I am AI”. Drew Silverstein, CEO e cofundador da Amper Music, concedeu uma entrevista ao Estadão e disse “ela fez um álbum fantástico. Além disso, dialoga bastante com o nosso objetivo de capacitar e empoderar qualquer pessoa no mundo a expressar sua criatividade produzindo música independentemente da sua experiência, recursos ou expertise – e a Taryn é um ótimo exemplo disso”

 

 

Clássico ao hyper-contemporâneo 

Em parceria com a Dell Technologies e Bachiana Filarmônica SESI-SP, o maestro e pianista  brasileiro João Carlos Martins compôs com ajuda da IA a música 20 Anos de Brasil.

 

 

100 vezes Arca!

A cantora, compositora, performance, produtora e dona de um dos melhores álbuns de 2020, Arca lançou no ano passado 100, isso mesmo CEM remix da mesma música usando o software de produção musical de inteligência artificial chamado Bronze. Ao ser questionada sobre a obra, ela explica:

“O processo tem como ponto de partida a produção de “Riquiquí” existente. A peça é reinventada em um estado performativo, que gera uma experiência única a cada escuta. Foi treinado para orbitar o caráter e estrutura da peça, ao mesmo tempo que permite diferenças significativas na forma e variações sutis e matizadas nos detalhes. Esse lançamento também destaca uma questão urgente na música moderna – há uma variedade crescente de ferramentas dinâmicas baseadas em aprendizado de máquina para os artistas explorarem no processo de fazer música, mas para lançar música nas plataformas mais acessíveis, elas ainda estão restritas, às novas formas”

A produtora, até o momento, não tinha deixado que nenhum artista desse a visão dele em cima de um trabalho dela, mas permitiu que o conjunto de números e fórmulas fizessem isso 100 vezes. 

 

 

Clube dos 27!

Como disse no começo do texto, o projeto Lost Tapes of the 27 Club não só criou uma música do Nirvana, mas também (re)construiu canções “inéditas” de Amy Winehouse, Jimi Hendrix e Jim Morrison — todos mortos aos 27 anos. Essas músicas estão disponíveis no Spotify 

 

 

Tudo isso é um assunto muito complexo, cabe diversos questionamentos. Ninguém sabe onde vai parar, mas torcemos para que a música continue profunda e tocante, como sempre foi.