Foto: Liliane Moreira/DivulgaçãoNat Esquema: “Em Belém, a gente aprendeu a ser muito independente”
Um dos nomes que vêm fortalecendo a cena noturna belenense e projetando a música paraense no Brasil, DJ conversa com Vitória Zane
Psicóloga por formação, a pesquisadora musical Nat Esquema coleciona a trajetória da música do Norte em vinil. E como DJ, ela vem contando essa história em diversas pistas, principalmente com sua festa autoral, Meta/Esquema, e com o coletivo de DJs mulheres em Belém, o Baile da Felina.
No último dia 24, ela foi responsável por dar o primeiro play na abertura do Festival MANA, o maior festival de mulheres da música da Amazônia, que rolou em formato conferência e contou com shows, oficinas, painéis e feiras. Num set 100% feito em vinil e só com músicas de mulheres, Nat deu uma amostra da atmosfera de conexão e empoderamento que emanaria pelo evento nos dias seguintes.
E já no dia 25, durante o painel A música da Amazônia não é só o Pará, a DJ esteve ao lado de Djuena Tikuna e Gabriê, com mediação de Trisha Guimarães, e comentou sobre as referências e influências que vem recebendo ao longo da vida:
“Eu acho que a gente tem falado muito sobre empoderamento, e a nossa música tem esse papel de fazer a gente se empoderar. Eu penso muito nessas divas amazônidas… Eles foram responsáveis por tanta revolução, por esse lugar…”.

Nat Esquema no painel do Festival MANA. Foto: Alexandra Tavares/Divulgação
E complementou: “Tem esse poder da conexão, que é muito genuína, e a gente foi aprendendo a performar com elas, a gente foi aprendendo a usar botão, a usar o brilho, a estética toda. É por isso que pega muito, sabe? A gente pensar que, poxa, imagina o Pinduca, imagina a Fafá, imagina a Dona Onete, que são pessoas que vieram do mesmo lugar que a gente, mas que têm esse poder. A Amazônia é muito emblemática, e aí tem uma ligação de energia, de espiritualidade, de plantaria real na música”.
O Music Non Stop conversou com exclusividade com a DJ paraense durante o Festival MANA. Confira:
Vitória Zane: Nat, na festa de abertura, que rolou na Cervejaria Cabôca, você disse que era um set só com músicas que traziam vozes de mulheres. Como foi fazer essa seleção musical?
Nat Esquema: Olha, eu quis brincar com artistas brasileiras que são pop e tudo mais, aquelas que a galera abraça gostoso, mas trazer também quem são as mulheres que fazem música aqui no Pará e na Amazônia. E tu sabes que esse não é um trabalho difícil, porque aqui a gente tem uma cena feminina na música, na cultura de maneira geral, muito forte. Então é algo que sempre tá na minha pesquisa, mas esse foi um set pensado mesmo para o Festival MANA.

Como é o cenário cultural aqui em Belém? Como o pessoal vive o que a cidade tem a oferecer?
Olha, eu sou um pouco suspeita pra falar que, se você quer fazer onda, se você quer viver uma noite em um cenário cultural efervescente, Belém é uma pedida. Exatamente pelo fato de a gente, em algum momento, ter um distanciamento territorial, a gente aprendeu a fazer o nosso rolê e a ser muito independente nesse sentido também. Então, Belém é um lugar que você vai encontrar festa todo dia. Segunda-feira, se você quiser ir para um baile da saudade e ver uma aparelhagem, você vai ver. Quarta-feira, se você quiser uma noite de lambada e brega, você vai ter.
E pensando que as pessoas estão dispostas a curtir todos os dias, como fica o cenário dos DJs por aqui? Existem muitos DJs que tocam nas aparelhagens e eles acabam sendo fixos daquela equipe, certo? Mas em determinado momento, rola de juntar esses artistas em algum rolê?
Sabe que o cenário dos DJs é muito semelhante a São Paulo? A gente estava até falando sobre isso com relação à valorização do DJ. Aqui, a gente tem muitas festas que são só de DJs. E a cultura de aparelhagem fomenta muito o DJ como realmente um showman, um artista e tudo. Mas também é uma cultura muito fechada dentro do seu próprio rolê. Então os DJs que geralmente tocam nas aparelhagens, eles tocam só nas aparelhagens. Agora, nos festivais, rola de misturar todo mundo.
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E quanto às mulheres DJs?
Quando a gente pensa em discotecagem feminina, a gente tem uma certa problemática de gênero mesmo, sabe? Quando a gente pensa num recorte de mulher fazendo qualquer coisa na arte, a gente vai ter uma série de obstáculos. Mas aqui a gente tem grandes nomes, como a Dyselma, que é a Rainha do Brega da Saudade, a DJ Méury, que foi a primeira produtora mulher de aparelhagem, a Cleide Roots, que é a Rainha do Reggae Paraense. A gente tem um cenário que as mulheres realmente encabeçam movimentos. Mas é aquilo, né? Quando você vai pensar em proporcionalidade e acessos, ainda é um cenário em que a gente tem que ralar e suar muito.
Você toca brega, tecnomelody, eletromelody… Como podemos classificar seu repertório? É algo mais open format?
Eu toco muitos gêneros, mas não necessariamente todos os gêneros. Aqui em Belém, a gente tem o brega marcante, que são músicas que foram muito difundidas, muito conhecidas por todo mundo. Então, eu brinco que eu sou uma DJ que toca música marcante, seja ela internacional ou regional.



