Nos últimos anos, vimos despontar no cenário pop diversos artistas de ascendência indígena. Hora de conhecer, ouvir e apoiar
Atualizado em 19/04/2024
Dentre as maiores riquezas que temos, nossa herança cultural indígena é, ao mesmo tempo, a que sempre esteve conosco e, talvez por isso mesmo, a mais renegada. A atenção dos meios de comunicação geralmente vem quando algum artista branco se enfurna em uma tribo para gravar algum canto ou ritual ancestral no meio da floresta, caso de artistas como Sepultura e Alok.
O olhar mais cuidadoso para esta cultura foi revelando, em tempos bem recentes, diversos artistas de origem indígena que estavam ali, fazendo o seu som, soltando a sua voz — necessária, dadas as imensas injustiças cometidas contra essa população — e misturando gêneros musicais globais com os ritmos e linguagens que traziam no sangue, há inúmeras gerações.
Muito mais do que os traços físicos característicos, é na mistura sonora a grande beleza trazida por esta turma. É preciso romper a barreira do exótico, do “diferentão”, e focar na música que eles fazem, e nas letras que escrevem. Esta vidraça separa o transmissor do receptor, mantendo o artista no espectro da curiosidade.
Pode não. Artista indígena é para ouvir e para dançar. Por isso, listamos 15 nomes indispensáveis para você conhecer!
Nelson D
Nelson D foi levado ainda criança, de Manaus, para viver com pais adotivos na Itália. Voltou para o Brasil depois de adulto, em busca de sua identidade suprimida, e se estabeleceu em São Paulo, misturando rock alternativo, música eletrônica e a música que trazia em seus genes, resultando em uma música cativante!
OWERÁ (Kunumi MC)
Da Zona Sul de São Paulo para o mundo, OWERÁ (que assinou seu primeiro disco como Kunumi MC) mistura os tradicionais fundamentos do rap da região paulistana, recheado de soul e jazz, a letras em que mistura o português com a lingua original de seu povo Krukutu, em cuja aldeia vive até hoje.
Wescritor
Criado entre Santos e São Vicente, Wescritor viu sua vida mudar quando visitou a aldeia Tupinambá, onde vive seu avô, o Ancião Amaral. Ali, entendeu mais sobre suas raízes e meteu a sonoridade e a causa indígena em sua música, Rap de primeira, bem produzido e com letras que refletem toda a opressão que seus ancestráis viveram.
“Beirando a estrada onde meu ancestral foi aniquilado, desde a costa até a baixada!”
Djuena Tikuna
Dá pra dizer que Djuena Tikuna faz MPOB — Música Popular Original Brasileira. Em Saudade da Aldeia, por exemplo, canta na língua de sua aldeia, Umariaçu, chamada tikuna. Por estar localizada nas regiões fronteiriças amazônicas, tem sabores de música andina. Sua voz é sensacional.
Arandu Arakuaa
Arandu Arakuaa é um grupo brasiliense de heavy metal que canta em tupi-guarani. Isso mesmo, guitarrões, vocais guturais, e muitos sons ritualísticos de sua terra. A mistura resulta em algo único e muito interessante, trazendo mistério e relevância.
Katú Mirim
Katu Mirim é uma rapper paulistana de origem Boe Bororo. Atualmente, uma das artistas de maior destaque desta turma. Ativismo, resistência e denúncia são as maiores referências nas letras da artista. Em 2022, lançou seu primeiro álbum, Revolta.
“Somos netas das indígenas que vocês não conseguiram matar!”
Bro MC’s
Considerado o primeiro grupo de rap indígena brasileiro, o Bro MC’s reúne integrantes das tribos Guarani e Kayowá. Formado na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul, o grupo se apresentou na última edição do Rock in Rio, fazendo um som que mistura rap com ritmos originais.
Edivan Fulni-ô
Sonzão de primeira faz o Edvan. Seu single Meu Nome Não é Manuel já entrega a temática de sua obra. Afinal, os indígenas eram obrigados pelos colonizadores a trocar seu nome original para um português, uma das primeiras imposições para apagar suas tradições. O som é MPB ao violão, falando sobre a situação dos povos originários. Edivan é pernambucano, de origem Pataxó.
Eric Terena
Eric Terena é DJ, original do povo Terena, da região do Mato Grosso do Sul. Tem produzido remixes, ao lado de artistas como Djuena Tikuna e o paulistano Chris Pantojo. Aqui, vemos um set do artista, mandando ver no meio do mato!
Sonissini Mavutsini
Reggae com música da etinia Yawalapiti. Esta é a proposta do Sonissini Mavutsini, criada pelo músico indígena Lappa. A mistura traz um quê de afrobeat à banda, que compõe nas línguas karibe e tupi, faladas na região do Xingú.
Ademilson Umutina
Para muitos, a música sertaneja ainda é a mais genuína expressão da realidade brasileira. Apesar de dados do IBGE apontarem que apenas 15% da população vive em áreas “não urbanizadas”, existe uma distorção cultural na conta. Afinal, a área “urbana” de um pequeno município de 15 mil habitantes no extremo norte de Minas Gerais não tem um estilo de vida considerado, digamos, cosmopolita. Por isso o consumo desse gênero musical no país é tão desproporcional à porcentagem dos habitantes “rurais”. A cultura sertaneja está no modo de viver, pensar e trabalhar de muito mais gente. E é comum ver descendência indígena em muitas famílias do interior.
Adenilson Umutina vive na aldeia Balacana, em Mato Grosso, e usa a música sertaneja para divulgar a cultura de seu povo, os Umutina. Que sua carreira sirva para puxar muitos outros artistas para ocupar o cenário sertanejo brasileiro.
Rasú Yawanawa
Rasú Yawanawa canta e vive a música ancestral de sua aldeia Akasha, na divisa entre o Brasil e o Perú, no umbigo da floresta amazônica. Seu trabalho tem fortes raízes na música tradicional de seu povo, embora misture, aqui e ali, a língua mãe e o português. Yawanawá ganhou projeção ao gravar com o DJ e produtor Alok, que há tempos vem se envolvendo em projetos com povos indígenas.
Ian Wapichana
Ian Wapichana começou sua carreira rimando seu rap nas ruas de Brasília. Mas na música, recupera muito de sua terra natal. Wapichana é original de Boa Vista, em Roraima. O artista se mudou ainda jovem para o Santuário dos Pajés, no Distrito Federal. Filho de poetas e pensadores indígenas, Ian começou a gravar em 2020, com seu single de estreia A Viagem.
Matsipaya Waura Txucarramãe
Matsipaya Waura Txucarramãe vive no Parque Nacional do Xingú, é da aldeia Kayapó e neto do Cacique Raoni, mundialmente famoso por sua jornada de conscientização ecológica por diversos países do planeta, denunciando o desmatamento da Amazônia. O cantor segue a verve da família: sua música tem a função primária de chamar atenção para o avanço do agronegócio sobre as florestas, a repressão à cultura indígena e a luta por avanços na ecologia.
Suraras do Tapajós
Grupo de cantoras do norte do Pará, Suraras do Tapajós tem tudo o que a gente gosta. Coletividade, mulheres e cultura indígena. O grupo é um braço da Associação Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, uma organização que reúne luta e música. Suas integrantes são de várias etnias e idades, e a música, focada no carimbó, ritmo paraense com raízes sertanejas, africanas e indígenas.