Porque o novo single do The Offspring está longe de ser o primeiro a puxar sardinha para o nosso país
A banda de hardcore californiana The Offspring acaba para entrar para o time de artistas que “puxam o saco” do Brasil e de seu público. Come To Brazil, single de divulgação do futuro álbum Supercharged (previsto para 11 de outubro), é mais uma canção gringa feita para dar uma massageada em nossa surrada autoestima e, por tabela, garantir mais uns shows da banda por aqui.
Recheada dos estereótipos e cartões postais que tanto nos orgulham, como Amazônia, Corcovado, mulheres de biquini e caiprinhas, toda a letra é dedicada ao enganjamento dos fãs do grupo. O título vem das centenas de comentários de brasileiros pedindo “come to Brazil” (“venham para o Brasil”) nas redes sociais.
Pelo jeito, a ação vai virar moda. Em julho, às vésperas de sua vinda ao país, o grupo conterrâneo Suicidal Tendencies lançou a música Somos Família (assim mesmo, em português), gravada com a participação de diversos artistas brasileiros, como BNegão, Dead Fish, João Gordo e Supla.
É quase unânime entre os artistas internacionais, durante papos de camarim, a alta temperatura com que o público recebe shows aqui no Brasil. Somos um povo que gosta de música, dança fácil, chegados em uma boa festa e que, sim, gosta de receber. Além disso, nosso país entrou há pouco tempo no circuito internacional de shows e, principalmente, de festivais. Antes da reabertura democrática, era uma tristeza para uma produtora conseguir trazer um grande nome internacional, diferentemente do circuito norte-americano e europeu, por exemplo.
Junta a fome com a vontade de comer, e temos uma relação de afeto e puxação de saco recíproca entre público e artista — relação essa que já virou música muitas vezes. Desde os artistas eletrônicos a ícones pop como Duran Duran, passando por deuses do rock alternativo (Violent Femmes e Morcheeba) e feras do soul, como a banda Chic, de Nile Rodgers.
Em 2016, o Music Non Stop passou o arrastão no catálogo musical em busca de 20 músicos que já declaram seu amor por nossa amada Pindorama. Confira uma palinha:
James Taylor – Only a Dream in Rio
James Taylor, herói dos primeiros Rock in Rio, criou esse clássico da Antena 1 contando como o Rio de Janeiro é inspirador e propício aos sonhos, o que não deixa de ser verdade. Tudo fica mais bonito com o tempero nacional de Milton Nascimento no backing vocal da apresentação.
Chic – São Paulo
Resumir o Brasil às delícias da Cidade Maravilhosa é um clichê. Nile Rodgers e o Chic concordam com isso, e em 1978 lançaram uma música-tema paulistana bem smooth e bonita, cheia de flautas, a cara de um rolê bacana por Sampa by night.
Morcheeba – São Paulo
Engraçado como o grupo de trip-hop Morcheeba homenageou São Paulo falando mal dos problemas da cidade, como bem se denota nessa entrevista de 2002. O refrão é meloso e irônico, a moça falando que se beber mais vai morrer, porque a cidade é assim. SP não é para os fracos.
Flying Lotus – São Paulo
São Paulo talvez combine, então, com essa track instrumental de Flying Lotus, de seu primeiro LP (1983, de 2006): tensa, porém rica em detalhes, contínua, persistente, rica de construções bem-pensadas. Mais noturna do que diurna e ensolarada.
Yes Wizard! – Ubatuba
A 200 km da capital paulista, Ubatuba é destino de lindas praias, montanhas e muito trânsito no Réveillon. A cidade também é tema de um minimal sombrio e percussivo desse produtor Yes Wizard!, que já lançou por selos como Tigersushi, é tocado por gente como Ewan Pearson e Joakim, mas ninguém sabe quem é. Ele diz ser de… Ubatuba.
Kenny Dope – Brazilica
Na house latina do Masters at Work, Kenny Dope lançou estudos de música brasileira. Brazilica é um samba tenso, com o breque na expectativa de sempre ser puxado, que nunca explode e só cresce em ritmo e envolvência, puro Carnaval. A faixa é de 2000, e em 2004 ele lançou um cd-mix Brazilika, com Marcos Valle, bateção de latas e afins.
Gold Panda – Brazil
Efeitos e percussões assimétricas, distorcidos e irritantes, sob uma cama de eletrônica synth grandiosa à la Chemical Brothers. Por cima, vozes repetem “Brazil” à exaustão. O Gold Panda fez o Brasil techno mais sem muito nem pé e cabeça e nada folclórico dos últimos anos.
Isolée – brazil.com/Floripa
O Isolée já tocou por aqui, e suas viagens por nossas cidades viraram música. Em 2003, ele já tinha lançado uma brasil.com, talvez prevendo nossa proeminências em comments da Internet? Rs. Floripa saiu em 2015 pela Pampa (de DJ Koze), misturando animação e alguma melancolia. Tipo pegar praia em Floripa no inverno, aquela água gelada…
Mike Simonetti – Bossa Nova Civic Club Bootleg
Belo DJ e ótimo produtor, Mike Simonetti largou o Italians do It Better, que virou indie, e lançou seu selo 2MR, pelo qual saíram pérolas recentes como Pale Blue. Um dos releases do selo é esse edit de Magalenha, do Sérgio Mendes, com a letra picotada e o batuque brasileiro acelerado na velocidade do techno. Tem tocado muito por aí.
Duran Duran – Rio
A faixa-título de um dos LPs de maior sucesso do Duran Duran, Rio teve o clipe gravado no Caribe, mas em entrevistas biográficas a banda já contou que o álbum se inspirou no clima festivo da cidade carioca. O tipo de paraíso cheio de mulheres lindas que os yuppies do synth-pop oitentista amavam.
Confira a lista completa, assinada por Jade Gola, aqui!