100 Mulheres incríveis na história do rock mundial que você precisa ouvir. Especial Mulheres na Música
Mulheres na música. Nossa nova colunista (e guitarrista e compositora e ativista e muito mais) Letty estreia no Music Non Stop com uma matéria especial sobre 100 mulheres incríveis na história do rock mundial. Aperta o play e divirta-se.
O ano é 2020 e as pessoas ainda se perguntam onde estão as mulheres na música e, no caso desta matéria, no rock. Mas a pergunta está errada. É preciso perguntar por que a história das mulheres no rock foi apagada durante tanto tempo. De Safo a Rihanna, mulheres estão fazendo música desde que o mundo é mundo. Mas quem sempre conta a história são os homens. Não mais. É hora de nós contarmos, em primeira pessoa, como chegamos até aqui e quem foram as mulheres que pavimentaram esse caminho. Conheça 100 das muitas mulheres que chutaram (e chutam) as portas para que estivéssemos aqui hoje.
Vale lembrar que listas desse tipo são sempre problemáticas; sempre parece uma competição (ainda mais se tratando de mulheres!), alguém sempre fica de fora e isso pode fazer parecer que certas mulheres não têm relevância. E não é essa a intenção. O objetivo é celebrar a história das mulheres, e nunca excluí-las ou tratá-las como mero objeto comercial. Afinal, enquanto mulheres musicistas, somos sujeitas e protagonistas da história. Todas nós fazemos parte disso.
Mulheres na música nas décadas de 30-50
Memphis Minnie (1897-1973)
Cantora, guitarrista e compositora de blues, Memphis compôs e gravou cerca de 200 canções entre as décadas de 20 e 50. Uma de suas canções mais famosas, When the Levee Breaks, foi regravada até pelo Led Zeppelin.
Elizabeth Cotten (1895-1987)
Guitarrista autodidata, canhota (tocando de ponta cabeça!) e mestra na arte do dedilhado, Elizabeth foi tão importante para o estilo folk que sua técnica foi batizada de “Cotten picking”. Embora tenha começado a tocar banjo aos 7 anos de idade, ela só começou a se apresentar ao vivo com seus 60 e poucos anos, após ser descoberta pela mãe da cantora de folk Peggy Seeger.
Sister Rosetta Tharpe (1915-1973)
Redescoberta recentemente, Rosetta finalmente tem tido seu devido reconhecimento como a mulher que inventou o rock. Foi uma das primeiras pessoas a acelerarem o blues e introduzir uma guitarra com distorção no estilo, ainda na década de 40. E deu no que deu!
Mary Ford (1924-1977)
A primeira mulher a empunhar uma Les Paul. Mary Ford acabou sendo ofuscada pelo ex-marido, mas sua carreira começou muito antes de seu casamento: em 1943 ela já dominava os palcos com seu trio de country Sunshine Girls.
Wanda Jackson (1937)
A cantora recebe o injusto título de “Primeira Dama do Rockabilly”; rainha seria muito mais adequado. Assinou com a Capitol Records em 1956 e ficou conhecida por sempre lançar estilos diferentes em seus singles: de um lado, uma canção country, do outro, uma canção de rockabilly. No ano passado, aos 82 anos, ela declarou aposentadoria dos palcos.
Janis Martin (1940-2007)
Janis foi uma cantora, compositora e guitarrista que enfrentou as mazelas do universo masculino do rock desde muito cedo: aos 15 anos assinou com a RCA, apenas dois meses após Elvis Presley ingressar na gravadora. Ela ficou conhecida por ser uma das poucas mulheres a resistirem na indústria masculina do rock dos anos 50.
Mulheres na música na década de 60
The Ronettes
Chegamos na década de 60, na qual grupos musicais formados só por mulheres eclodem, e fica difícil escolher apenas alguns nomes para integrarem essa lista. Mas as Ronettes são unanimidade. Em 1964, após o lançamento do hino Be My Baby, elas fizeram uma turnê pelo Reino Unido e quem teve a honra de abrir os shows foram os Rolling Stones.
Goldie and the Gingerbreads
Simplesmente a primeira banda de rock composta só por mulheres a fecharem com grandes gravadoras (Decca e Atlantic). Elas fizeram turnê na Europa ao lado de nomes como The Animals, Yardbirds, Kinks, e tocaram com os Beatles na era de Hamburgo. Mas, infelizmente (e por razões obviamente patriarcais), elas nunca foram levadas a sério.
The Shirelles
Seguindo a mesma linha de baladas orquestradas e em coro das Ronettes, as Shirelles foram as primeiras a terem um single na lista Hot 100 da Billboard. Foi em 1961, com a música Will You Love Me Tomorrow.
The Crystals
Mais um girl group de vozes extraordinárias que emplacou vários hits no topo das paradas, abrindo caminho para outras mulheres. Foram vários hits mesmo: entre 1961 e 1964 foram Then He Kissed Me, There’s No Other (Like My Baby), He’s Sure the Boy I Love, He’s a Rebel, Da Doo Ron Ron e Uptown.
Big Mama Thorton (1926-1984)
Ela foi a primeira pessoa a gravar a canção Hound Dog, em 1952. Dona de uma voz inconfundível, Big Mama é a autora da canção Ball and Chain, que ficou ainda mais famosa na voz de ninguém menos que Janis Joplin.
Ellie Greenwich (1940-2009)
Ellie é um nome que só encontramos nos créditos das músicas. Ela é a cabeça genial que co-escreveu e produziu várias dessas canções já citadas nessa lista, como Be My Baby. Produtora e compositora, trabalhou com Frank Sinatra, Phil Spector e Cyndi Lauper.
The Ace of Cups
Uma das primeiras bandas de rock formada só por mulheres que eclodiu no coração de São Francisco em 1967, durante o verão do amor. Mesmo tendo sido esquecidas e ofuscadas pela história do rock, a banda ainda está na ativa e, inclusive, lançaram um single esse ano!
Barbara Lynn (1942)
Cantora, compositora e guitarrista canhota de origem afroamericana, Barbara é conhecida por ter alcançado o número 1 da Billboard em 1962 com o hit You’ll Lose A Good Thing. Inovou por ter sido uma das primeiras mulheres a estarem à frente de uma banda cantando e tocando guitarra.
The Luv’d Ones
Precursoras do garage rock, pouco se fala sobre a banda liderada pela genial Char Vinnedge, que atuou de 1965 a 68. Além de compor e cantar todas as músicas da banda, ela foi a responsável foi trazer as pitadas de fuzz ardido ao som. Não tem como ser mais garage rock do que isso.
The Liverbirds
Mais uma banda apagada pela história masculina do rock que só foi resgatada pelo New York Times no ano passado, no minidocumentário Almost Famous. As Liverbirds foram as primeiras mulheres a formarem uma banda de rock na Inglaterra. Após fazerem uma turnê ao lado de nomes como Kinks e Rolling Stones, elas deram um pé em Brian Epstein por não querer levá-las em turnê na Alemanha. E ainda foram desdenhadas por John Lennon, que disse que mulheres não podiam tocar guitarra. Ledo engano.
The Continental Coets
A banda de garage rock, formada em 1963, era inicialmente instrumental. Quando começaram a chamar a atenção por suas apresentações únicas e timbres irreverentes, os invejosos Vultures as convidaram para uma “batalha dos sexos”. Isso as fez praticar cada vez mais e conquistarem um maior público, além de encorajar mulheres a montarem suas bandas e enfrentarem o machismo.
Dara Puspita
A história do rock também é imperialista. Por isso, é importante resgatar outros nomes para além do eixo EUA-Europa. As Dara Puspita foram uma de garage rock formada só por mulheres na Indonésia, em meados dos anos 60. Dispensa outros comentários.
Mariska Veres (1947-2006) – Shocking Blue
Antes de integrar o Shocking Blue, a cantora holandesa começou sua carreira na banda Les Mysteres, em 1963. Mas foi com “Venus”, canção de 1969, que Mariska e o Shocking Blue voaram pelo mundo.
Grace Slick (1939) – Jefferson Airplane
Dona do rock psicodélico, em 1965 Grace leu em um jornal de São Francisco que uma banda chamada Jefferson Airplane fora montada, gostou da ideia e formou a The Great Society. Ela então compôs Someone to Love e White Rabbit. Em 1966, ela recebeu o convite para integrar o Jefferson Airplane e eles regravaram as músicas de Grace para o primeiro álbum. E o resto é história.
Janis Joplin (1943-1970)
Não há muito o que se dizer sobre Janis; tudo já foi dito. Mas é importante lembrar dela para além do olhar masculino de uma mulher esquisita e que sofreu por amor. Janis foi ímpar. Uma mulher que, para além de sua música, se portava e se impunha de maneira única, totalmente contrária às regras de feminilidade da época.
Mulheres na música na década de 70
Betty Davis (1945)
Se Betty fosse simplesmente a mulher que inaugurou o funk já estaria ótimo. Mas ela era punk demais para ser só isso. Injustiçada e ofuscada, a cantora e compositora preferiu se retirar dos palcos para sempre a se curvar às imposições masculinas e brancas da década de 70; recusou-se a gravar com Eric Clapton e com Prince, sentindo-se sempre muito discriminada pela indústria musical. Seu segundo álbum de estúdio, They Say I’m Different (1974), é uma das obras mais lindas já feitas no planeta!
Fanny
Primeira banda composta exclusivamente por mulheres a ingressar em uma grande gravadora, a Fanny abalou as estruturas masculinas do rock. Elas assinaram com a Reprise Records em 1969, e no ano seguinte lançaram seu álbum de estreia. O álbum de 1971, Charity Ball, estourou na Billboard e rendeu a elas uma turnê pela Europa ao lado de Humble Pie e Jethro Tull. Apesar do sucesso, a banda foi proibida de tocar no London Palladium por serem “muito sexy”.
Suzi Quatro (1950)
As irmãs Quatro – Patti, Nancy, Arlene e Suzi – merecem um capítulo à parte por sua importância no rock devido às suas bandas anteriores, Pleasure Seekers e Cradle. Mas Suzi atingiu seu auge durante a carreira solo: a música Can the Can, de 1973, vendeu mais de dois milhões de cópias pelo mundo.
Sonja Kristina (1949) – Curved Air
A líder da banda psicodélica Curved Air ficou muito conhecida pela participação no musical Hair, em 1968, antes mesmo de entrar para a banda. Kristina é a única membra a integrar todos os álbuns da Curved Air. Além disso, ela lançou o álbum solo Songs from the Acid Folk em 1991 e atuou em outros musicais no teatro.
Poly Styrene (X-Ray Spex)
E finalmente chegamos ao punk. Não há como falar dele sem falar de Poly Styrene, a mulher que trouxe o ativismo feminista negro para o estilo. Em 1976, aos 18 anos e ainda usando o nome Mari Elliott, ela gravou o single bem reggae Silly Billy, falando sobre gravidez na adolescência. Mas foi com o X-Ray Spex que seu nome ficou tatuado na história do punk.
Lora Logic (1960) – X-Ray Spex, Essential Logic
Dobradinha de X-Ray Spex por motivos de: sem Lora Logic não existiria o saxofone no punk; não existiria X-Ray Spex e Essential Logic. Até hoje, o sopro de Lora em Germfree Adolescents causa um estranhamento delicioso e difícil de se encontrar em outras bandas e artistas. Após sair da banda, em 1977, ela fundou a banda de pós-punk Essential Logic.
Patti Smith (1946)
Dizer que Patti Smith é uma artista fundamental para o punk é chover no molhado. Mas arrisco ir além: foi ela que trouxe um outro olhar, um olhar poético e sensível (não por isso menos duro) ao punk. Patti é a visceralidade das metáforas, dos jogos de palavras; algo que transcende o punk e encontra a literatura da forma mais subversiva possível.
Kate Pierson (1948) & Cindy Wilson (1957) – B-52s
As fundadoras do B-52s são icônicas em todos os aspectos: musicais, visuais e de performance. A banda começou em 1977, tocando em casas clássicas como o CBGC e o Max’s Kansas City e já mostrando a que vinham. O álbum de estreia vendeu, de cara, mais de 500 mil cópias. Não bastasse, Kate e Cindy dublaram alguns filmes e Kate fez participações musicais maravilhosas ao lado de R.E.M e Iggy Pop.
ESG
A ESG surgiu em 1977 no coração de Nova Iorque. Influenciadas pelo funk e pela cena punk da cidade, as três irmãs fundiram tudo isso e trouxeram ao mundo um dance punk único. Apesar de a banda nunca ter conquistado sucesso comercial (por que será, não é mesmo?), a música UFO é uma das mais sampleadas da história do hip hop.
Alice Bag (1958) – The Bags/Alice Bag Band
Fundadora de uma das principais bandas da cena punk de Los Angeles, Alice Bag é uma fissura na cena branca e masculina do punk. Filha de mexicanos, ela encontrou no punk rock o ativismo pelas questões sexuais e raciais. E não parou por ali: hoje ela é educadora infantil, escritora e ativista da causa feminista, além de ter lançado dois álbuns solo em 2016 e 2018.
Debbie Harry (Blondie)
Debbie Harry é… bem, Debbie Harry. É a dona das performances mais emblemáticas do punk e da new wave. Quando o Blondie estourou, em 1979 com o álbum Parallel Lines, Debbie “já” tinha 34 anos, jogando no lixo a ideia de que mulheres têm prazo de validade para fazerem sucesso neste mundo patriarcal. Além de tudo, ela também atuou em diversos filmes e programas de TV. E está em atividade até hoje, mais maravilhosa do que nunca.
Chrissie Hynde (1951) – The Pretenders
De vendedora da boutique SEX, no auge do punk londrino, a moradora do centro de São Paulo nos anos 2000, Chrissie tem uma extensa lista de coisas que já fez e pessoas com quem já tocou. O primeiro álbum do Pretenders, de 1979, chegou rapidamente ao número 1 das paradas do Reino Unido. E desde então são 11 álbuns de estúdio e mais de 40 singles, com Chrissie sendo a principal letrista.
The Runaways
A banda que ensinou muitas meninas a se enxergarem no rock dispensa quaisquer apresentações. Formada em 1975, já no ano seguinte elas assinaram com a Mercury Records, lançando o álbum de estreia e fazendo turnê ao lado de bandas como Cheap Trick, Talking Heads e Van Halen. Em 1977, elas entraram para a cena punk londrina durante uma turnê pelo continente. Mas foi no Japão que o sucesso veio definitivamente. Joan Jett se lembra de como a histeria dos fãs lembrava a Beatlemania.
Gaye Advert (1956) – The Adverts
Uma das primeiras mulheres a se tornar ícone do punk, a baixista do Adverts influenciou o visual e a música de uma geração de mulheres. Após o fim da banda, em 1979, ela se retirou dos palcos e foi estudar serviço social, mas até hoje mas até hoje atua em exposições de arte.
Stevie Nicks (1948) e Christine McVie (1943) – Fleetwood Mac
Foi graças a elas que o Fleetwood Mac decolou. Com a entrada de Stevie na banda, em 1976, as composições mais geniais, como Dreams e Don’t Stop, foram escritas pela vocalista e pela tecladista.
The Slits
Punk rock, reggae, selvageria: assim são as Slits. A baterista Palmolive conheceu a vocalista Ari Up em 1976, na fila de um show da Patti Smith, quando Ari tinha apenas 14 anos. E assim surgiu uma das maiores bandas da história do punk.
Poison Ivy (1953) – The Cramps
Dona do timbre de guitarra inconfundível do punk e mãe do reverb do futuro garage rock, a guitarrista, compositora e produtora Poison Ivy eternizou sua singularidade musical e visual na história do rock ao lado do Cramps com a sua Gretsch 6120 laranja.
The Raincoats
A portuguesa Ana da Silva (vocal e guitarra) e Gina Birch (baixo) decidiram se juntar para fazer música após irem a um show das Slits, em 1977. Das várias formações que tiveram, Gina e Ana são as cabeças da banda. Elas criaram uma música que ultrapassou o punk e alcançou o que viria a ser o grunge nos anos 90.
LiLiPUT
Inicialmente chamanda Kleenex, a banda teve que mudar de nome após perder a disputa judicial para a marca de lenços de papel. Apesar de ter sido formada em Zurique em 1978 e já ter chamado atenção na época, a LiLiPUT só lançou seu primeiro EP em 1982. As atividades se encerraram logo em seguida, em 1983, mas a gravadora estadunidense Kill Rock Stars resgatou o som das suíças em 2001.
Ann (1950) & Nancy Wilson (1954) – Heart
As irmãs Wilson formaram o Heart em 1974, na Califórnia. Dreamboat Annie (1976), o álbum de estreia, passou 100 semanas no top 3 das paradas — todas as canções escritas por Ann e Nancy. Desnecessário dizer qualquer outra coisa.
Honey Bane (1964)
Começou sua carreira aos 14 anos com uma banda chamada Fatal Microbes, que gravou, em 1978, um single ao lado da Poison Girls. Mas foi na carreira solo, após assinar com a EMI e ir para um estilo mais new wave/pop, que a canção Turn Me On Turn Me Off alcançou o Top 30 das canções do Reino Unido.
Vi Subversa (1935-2016) – Poison Girls
Vi foi a mulher que provou que a maternidade não é o fim da vida das mulheres. Ela subiu no palco pela primeira vez em 1975, aos 40 anos. Quando formou a banda Poison Girls, já tinha 44 anos e 2 filhos. E isso nunca a impediu de ser punk; pelo contrário, foi a força motriz para suas letras radicalmente poéticas.
Nina Hagen (1955)
Provavelmente o maior nome do punk rock alemão, Nina foi pioneira ao trazer elementos da música lírica para o estilo. Depois de ter conquistado a Europa Ocidental, foi apadrinhada por Frank Zappa nos EUA e estourou pelo continente na década de 80. Obviamente, por aqui ela é conhecida por seu feat. com o Supla após ter feito um enorme sucesso no Rock in Rio de 1985.
Siouxsie Sioux (1957)
Siouxsie foi uma das primeiras mulheres a romper com a estrutura patriarcal do punk — e do ainda embrião pós-punk e gótico. Ela subiu ao palco pela primeira vez em 1976 e lembrou às mulheres que aquele momento também era delas. Siouxsie marcou para sempre as futuras gerações de mulheres dos mais variados gêneros musicais. Não à toa, sua canção Hong Kong Garden (1978) alcançou o top 10 das paradas da Billboard no ano do lançamento.
Mulheres na música na década de 80
Wendy O’ Williams (1949-1998) – The Plasmatics
Wendy é uma das figuras mais icônicas e sem limites do rock. Conhecida por subir ao palco praticamente nua (usando uma fita preta e creme de barbear para cobrir o que não podia ser mostrado), Wendy foi presa várias vezes após shows com os Plasmatics, ora por seu visual, ora pelas mensagens assumidamente anarquistas e antissistema das suas canções. E não somente: ela também era ativista da causa animal e dedicou boa parte da vida à reabilitação de animais selvagens.
Pauline Black (1953) – The Selecter
Rainha do ska two tone com pitadas de punk e reggae, Pauline é a fundadora de uma das principais bandas da segunda onda do ska, na década de 1980: o Selecter. Ao longo de sua carreira com inúmeras parcerias musicais como Gorillaz e Stiff Little Fingers, Pauline também é atriz e, 1991, ganhou o prêmio Time Out de melhor atriz por interpretar ninguém menos que Billie Holiday na peça All or Nothing at All.
Shonen Knife
Uma mistura maravilhosa de punk e pop dos anos 60, a Shonen Knife surgiu em 1980 em Osaka, no Japão. As três mulheres abriram as portas para o rock japonês ingressar no universo musical internacional. Exerceram grande influência no rock alternativo da década de 90, fazendo shows ao lado do Sonic Youth, por exemplo. Elas estão na ativa até hoje: o último álbum, Sweet Candy Power, foi lançado no ano passado!
Inger Lorre (1964) – The Nymphs
Líder de uma das bandas mais subestimadas do grunge, Inger é a cabeça e o coração por trás da genialidade do The Nymphs. Ela formou a banda no final dos anos 80 e eles lançaram um único álbum, homônimo, em 1991 pela Geffen. Inger também fez parcerias com Jeff Buckley e tem um álbum solo, Transcendental Medication, de 1991.
Lydia Lunch (1959)
Lydia surge na cena nova-iorquina durante a década de 70, no movimento avant-garde no wave, uma reação ao punk rock: a música era geralmente atonal, dissonante e com letras niilistas (apesar de isso ser bem punk, não é mesmo?). Lydia sempre manteve sua postura anticomercial, se recusando a assinar com gravadoras mainstream. Ela tem uma extensa carreira em várias áreas, como atuação, dublagem, escrita e palestras.
The Barbie Army
Uma das primeiras bandas de punk formada só por mulheres da região, a Barbie Army despontou na cena de Chicago durante os anos 80, precedendo o que seria o movimento Riot Grrrl da década seguinte. Pouco se conhece sobre elas, além de terem movimentado a cena punk local e fazerem um som inexplicavelmente subestimado.
Lunachicks
As cinco mulheres da Lunachicks sobem ao palco pela primeira vez em 1988 e imediatamente conquistam o coração de Thruston Moore e Kim Gordon. Eles enviam uma fita da banda para a gravadora Blast First e elas logo assinam um contrato. Em 1989, lançam um EP e no ano seguinte vem o primeiro álbum, Babysitters on Acid. Durante a década de 90 elas tocam pelo mundo e produzem músicas ao lado de Fat Mike, do NOFX. A banda, para nossa infelicidade, está em hiato desde 2000.
The Pandoras
Inicialmente uma banda que retomava o garage rock dos anos 60, as Pandoras se expandiram para um som versátil que dialogava bastante com o pop da década, além dos visuais extravagantes e dos mullets. Ambas as fases são maravilhosas.
L7
Banda que derrubou as fronteiras entre o grunge (que ainda era um recém-nascido) e o metal, a L7 mudou definitivamente os rumos das mulheres no rock. Foi a partir dessas canções ácidas, debochadas e seus riffs ardidos que as mulheres sentiram raiva o suficiente para entrar com os dois pés na porta na música e tomar o lugar que sempre lhes pertenceu.
Eve Libertine (1949) – Crass
Cantora e performer, Eve foi uma das vocalistas da banda anarcopunk Crass de 1979 a 1986. Escreveu a maior parte das letras do terceiro álbum da banda, Penis Envy (1981), pautadas exclusivamente em questões feministas. Depois disso, Eve se dedicou a performances e produções poéticas, além de exposições de artes visuais.
Girlschool
Em atividade há mais de quatro décadas, a Girlschool lançou seu álbum de estreia, Demolition, em 1980. Elas foram uma das várias bandas de mulheres que quase chegaram lá. Tiveram um relativo sucesso após um feat. com o Motörhead, mas foi passageiro. Eram muito punks para o rock e muito roqueiras para o punk. E muito mulheres para um mundo de homens.
The Go-Go’s
O rock dançante e oitentista das Go-Go’s foi figurinha marcada nas listas da Billboard. Elas já venderam mais de 7 milhões de discos, fizeram turnê pelo mundo e foram a primeira banda formada só por mulheres — que compunham e tocavam — a alcançar o topo das paradas nos EUA. E, com isso, abriram um caminho maravilhoso para as mulheres da sua geração e das próximas.
Tina Bell (1957-2012) – Bam Bam
Em 1983, em Seattle, uma mulher chamada Tina Bell monta uma banda de timbres melodiosos e riffs distorcidos acompanhados de sua voz incrivelmente doce, contrastando com o peso do som. Parece familiar? Pois é. Tina Bell é a mãe do grunge. E isso precisa ser dito em alto e bom som para que a história das mulheres negras no rock seja contada em primeira pessoa.
Sylvia Massy
É preciso contar a história das mulheres por trás dos palcos também. Sylvia é produtora e engenheira de som desde 1985. Seus trabalhos vão desde Red Hot Chilli Peppers a Julio Iglesias, passando por Johnny Cash, Prince e Tool. Durante a década de 90 ela trabalhou no Sound City Studios, e atualmente viaja o mundo mixando, produzindo e ensinando.
The Bangles
Uma das bandas de rock/power pop de maior sucesso na década de 80, a Bangles não demorou muito para ingressar nas paradas. O álbum de estreia, All Over the Place (1984) ficou por 30 semanas as paradas da Billboard. Elas estão em atividade até hoje e recentemente lançaram uma guitarra Daisy Rock, do mesmo modelo que a vocalista Vicki Peterson usa.
Jennifer Batten (1957)
E por falar em guitarra, não dá pra esquecer da mulher que levou o rock até o pop de Michael Jackson. Ela tocou com ele de 1987 a 1997, nas turnês do auge da carreira do cantor. No final da década de 90 também fez turnê ao lado de Jeff Beck. Tem três discos solo e atualmente se dedica a dar palestras e aulas, além de vir para o Brasil acompanhar o sósia do Michael Jackson em uma turnê!
Déc. 90
Skin (1967) – Skunk Anansie
Skin formou a Skunk Anansie em 1994. No ano seguinte, o disco de estreia, Paranoid & Sunburnt (produzido pela Sylvia Massy) já ocupava a oitava posição nas paradas do Reino Unido. Skin é uma das maiores letristas de sua geração e nunca deixou o sucesso comercial da banda engessar e endireitar suas letras fertilmente críticas ao racismo, machismo, às questões políticas e religiosas. Skin foi a primeira artista negra no headline do Glastonbury, em 1999.
Hole
Hole está nessa lista não apenas pela contribuição de Courtney Love, mas sim de todas as mulheres que passaram pela banda ao longo das duas décadas de carreira: Kristen Pfaff, Caroline Rue, Lisa Roberts, Patty Schemel, Leslie Hardy, Melissa Auf der Maur e Samantha Maloney. A Hole surgiu em 1989, lançando seu primeiro single, Retard Girl, de maneira independente e logo em seguida entrando em turnê nacional. Foi uma das bandas lideradas por mulheres mais bem sucedida da história, vendendo mais de 18 milhões de discos pelo mundo.
The Breeders
O Breeders é um projeto paralelo da baixista do Pixies, Kim Deal, e a guitarrista Tanya Donelly, do Throwing Muses. Estrearam em 1988, enviando uma fita demo (que contou com a participação da violinista Carrie Bradley) para a 4AD Records, com a qual rapidamente assinaram um contrato. Em 1992, ano de lançamento do EP de estreia Safari, Kelly Deal, irmã gêmea de Kim, entra na banda. No ano seguinte, lançam o álbum que levou o hit Cannonball ao topo da Billboard. O último álbum veio ao mundo em 2018, sob o título All Nerve.
Kim Shattuck (1963-2019) – Muffs, Pixies, Pandoras
Fica difícil mencionar o tamanho da importância de Kim para a música da década de 90 adiante. Além de tocar com as Pandoras (já mencionadas acima) na década de 80, ela participou ativamente da cena do rock alternativo, fundando o Muffs e tocando baixo no Pixies. As músicas de Kim eram de uma intensidade sonora e poética e uma variedade melódica e harmônica maravilhosa. O último álbum do Muffs, lançado em 2019 — pouco depois da morte de Kim, é uma preciosidade.
Kim Gordon (1956)
A garota da banda é uma inspiração para a geração de mulheres no rock desde a década de 90. Ela começou sua carreira artística no início de 1980, graduando-se em artes e participando de exposições e curadorias artísticas. Isso a colocou em contato com muita gente da cena musical alternativa, e desse contato surgiram várias bandas das quais ela participou. A principal, claro, é a Sonic Youth. Além disso, Kim também é dona da marca de roupas X-girl.
Sleater-Kinney
A Sleater-Kinney surgiu como um trio em 1994, em meio ao movimento riot grrrl. No ano seguinte lançaram o primeiro álbum, homônimo, mas foi com o disco Dig Me Out (1997) que elas se inseriram de fato na cena punk feminista. O último álbum, The Center Won’t Hold (2019), traz experimentações do pop misturadas num rock com mais camadas de complexidades e timbres. Essa descrição lembra alguém? Talvez seja porque o álbum tenha sido produzido por ninguém menos que St. Vincent.
7 Year Bitch
Formada em Seattle no ano de 1990, a história da banda de grunge é marcada por tristes acontecimentos. Elas lançaram o primeiro álbum, Sick’Em, em 1992, mas a morte da guitarrista Stefanie Sargent desestabilizou o grupo. Em 1993 elas retornaram com Roisin Dunne na guitarra, mas um outro incidente mudou os rumos do grupo: a amiga da banda, Mia Zapata, foi brutalmente assassinada após um estupro. A 7 Year Bitch, então, lançou o disco ¡Viva Zapata! em 1994 em homenagem à amiga. A partir daí, a banda começou a atuar num movimento de conscientização e acolhimento de mulheres vítimas de violência. A baterista Valerie fundou a Home Alive, uma organização que promove a autodefesa de mulheres e a proteção de vítimas de violência e a banda tocou no festival beneficente Rock Against Domestic Violence, em 1994.
Babes in Toyland
A Babes nasceu em 1987, mas merece estar nesta década pela contribuição que fizeram ao grunge e punk dos anos 90. Lançaram o primeiro álbum, Spanking Machine, em 1990, que foi produzido por Jack Endino, e logo caíram nas graças de bandas como Sonic Youth. O segundo álbum, de 1992, Fontanelle, vendeu mais de 200 mil cópias e lhes rendeu a participação no headline do Reading Festival, em 1993, e do Lollapalooza de 1994.
Mia Zapata (1965-1993) – The Gits
Mia formou o Gits em 1986. A banda se mudou para Seattle em 1989 e, em 1992 lançaram Frenching the Bully, seu álbum de estreia. A partir daí, eles conquistaram a cena grunge, fizeram turnês e prepararam o segundo disco durante 1993. Foi nesse ano que, ao voltar de madrugada para casa após um show, Mia Zapata foi vítima de feminicídio, aos 27 anos. Ela foi encontrada com marcas de brutais de violência, estrangulamento e estupro. O descaso das autoridades com o crime provocou a mobilização de amigos (como Nirvana e Pearl Jam) e fãs. O caso só foi resolvido em 2003, e o feminicida cumpre prisão desde 2004. A morte de Mia desencadeou a criação da Home Alive e a participação de bandas femininas da cena no festival Rock Against Domestic Violence.
Sista Grrrls
Se o Bikini Kill foi uma ruptura na cena masculina do punk e hardcore, as Sista Grrrls foram a ruptura dentro da ruptura. O movimento riot girl nasceu de mulheres brancas e, em sua maioria, de classe média. Por mais subversivo que fosse, as mulheres não-brancas não se sentiam completamente representadas. Foi nesse contexto que surgiu o Sista Grrrls: um movimento riot grrrl feito por e para mulheres racializadas. Simi Stone, Maya Glick, Tamar-Kali e Honeychild Coleman uniram suas forças e organizaram o festival Sister Grrrl’s Riot, em 1997, a fim de reunir mais mulheres não-brancas na cena punk/riot grrrl. Os registros desse show são raros, mas o movimento é mencionado no documentário Afropunk, de 2003.
Slant 6
O power trio de punk nasceu em Washington em 1991 e se inseriu na cena punk e riot grrrl da época (ainda que pouco lembrada). O trabalho mais conhecido é o EP What Kind of Monster Are You, de 1993. A banda teve curta duração, mas lançaram dois álbuns incríveis e que merecem ser lembrados: Soda Pop*Rip Off (1994) e Inzombia (1995).
Bratmobile
A Bratmobile é uma das bandas que inaugura o movimento riot grrrl. Allison e Molly se juntaram para fazer o zine feminista Girl Germs e acabaram formando a banda (que delícia, né?). O incrível álbum de estreia, Pottymouth, veio em 1993, seguido de The Real Janelle, de 1994 — ambos lançados pela Kill Rocks Stars.
Shirley Manson (1966) – Garbage
Shirley começa sua carreira cedo, aos 16 anos, em uma banda chamada Goodbye Mr. Mackenzie. Depois, ela entrou para a Angelfish e foi recrutada para o Garbage depois de os membros terem visto um clipe da banda de Shirley na MTV. Desde a gravação do primeiro álbum, o Garbage já vendeu mais de 25 milhões de discos e fez turnês pelo mundo todo. Além da música, Shirley atuou no seriado Terminator. Uma maravilhosa por completo.
The Donnas
As Donnas são uma banda prodígio formada por quatro adolescentes, inspiradas no Ramones, em 1993. O primeiro disco da banda, de 1997, foi um marco do punk rock da década de 90. Os álbuns seguintes trazem um hard rock que flerta com o glam, cruzando a fronteira com o punk. Elas assinaram com a Atlantic Records em 2002, e o disco Gold Medal, de 2004, as fez tocar pelo mundo e gravar músicas para filmes como Meninas Malvadas.
Bikini Kill
A mais lembrada das bandas da era riot grrrl dos anos 90, Bikini Kill surgiu de uma reunião de colegas de faculdade para escrever um fanzine feminista. A primeira demo, Revolution Girl Style Now, de 1991, foi uma ruptura na cena musical masculina e masculinista da década. Kathleen Hanna sabia disso e usava em favor das mulheres: durante os shows, o público masculino era convidado a se afastar, deixando espaço para as mulheres verem o show de perto e em segurança.
Alanis Morrisette (1974)
Antes de conquistar o mundo com Jagged Little Pill, de 1995, Alanis lançou dois álbuns muito pop na sua terra natal, Canadá. Tamanha foi a surpresa de sua evolução musical para o grunge, que Jagged é o álbum de estreia (feito por uma mulher) mais vendido da história. Ele esteve no top 10 dos EUA por 69 semanas e é o disco internacional mais vendido da década de 90 aqui no Brasil. Quem não tem um desse em casa, que atire a primeira pedra.
Fiona Apple (1977)
Incluir Fiona como artista imprescindível da década de 90 e vê-la lançando um dos melhores álbuns de 2020 mostra a sua potência radical e inabalável. Ela estreou muito bem com o disco Tidal, em 1996, e de lá pra cá tem apresentado trabalhos cada vez mais complexos, conceituais e sensíveis. Seu último álbum, Fetch the Bolt Cutters, lançado esse ano, é grandioso. Viva Fiona!
Louise Post (1966) e Nina Gordon (1967) – Veruca Salt
A dupla formou a Veruca Salt em 1992. Elas fizeram uma turnê como banda de abertura dos shows da Hole, despertando a atenção de algumas gravadoras. Com isso, assinaram com a Geffen, que relançou o álbum de estreia, American Thighs, de 1994. Após idas e vindas, elas lançaram o álbum Ghost Notes em 2015.
Justine Frischmann (1969) – Elastica, Suede
Justine fundou o Suede em 1989 mas, incomodada por ficar à sombra do namorado e vocalista Brett Anderson, saiu da banda para formar a Elastica em 1992. O primeiro single da banda, Strutter, já fez sucesso na Inglaterra. O grupo assina com a Deceptive Records no Reino Unido e com a Geffen nos EUA e, em 1995, lançam o primeiro álbum, homônimo, que já entrou para o top das paradas da Inglaterra.
Tribe 8
Banda de punk/hardcore formada por mulheres lésbicas em 1991, a Tribe 8 foi uma das precursoras do que hoje conhecemos como dykecore ou queercore. Elas abriram espaço para mulheres lésbicas e desfeminilizadas na cena masculinista underground. Apesar de a banda ter se dissolvido em 1995, os quatro álbuns lançados são uma preciosidade que influencia e acolhe as mulheres do hardcore até hoje.
PJ Harvey (1969)
PJ é uma artista difícil de se definir: desde o primeiro álbum, Dry, de 1992, ela passeia pelos mais variados estilos musicais — do indie ao blues, passando por canções sombrias e abstratas. Quando lançou Dry, PJ Harvey ainda era um trio. Mas a arte de Polly cresceu de tal forma que ela despontou como um ícone no mundo todo. PJ também tem um livro de poemas lançado, além de criar e expor artes visuais. Uma artista completíssima.
Team Dresch
Outra banda fundadora do movimento dykecore/queercore da década de 90, a Team Dresch sempre manteve seu estilo DIY, lançando discos através de selos e gravadoras independentes. Elas tocaram de 1993 a 1998, período em que lançaram dois álbuns, e depois se reuniram em 2000. No final do ano passado, elas ressurgiram com o single Your Hands My Pockets.
Dolores O’Riordan (1971-2018) – Cranberries
A mulher à frente do Cranberries é considerada a maior voz de seu país de origem, a Irlanda. E não é por menos. Dolores, ao lado da banda, vendeu mais de 40 milhões de discos no mundo todo. O álbum de estreia, Everybody Else Is Doing It, So Why Can’t We? (1993), já nasceu memorável. A canção Linger foi disco de ouro e platina nos EUA e no Reino Unido. Para além do Cranberries, Dolores teve uma bela carreira solo com dois álbuns lançados em 2007 e 2009. Que saudades dessa maravilhosa!
Luscious Jackson
Formada em 1991, Luscious estreou nos palcos abrindo para os Beastie Boys e Cypress Hill. Elas foram apadrinhadas pelos Beastie Boys (Kate Schellenbach, a baterista, também tocou com eles), lançando seus trabalhos pelo selo Grand Royal, da Capitol Records. O primeiro EP, In Search of Manny, veio (muito bem recebido) em 1992. Elas foram uma das primeiras bandas a transitarem entre o hip-hop e o rock alternativo com pitadas de riot grrrl.
Mulheres na música nas décadas de 00 a 20
Kittie
Por motivos estritamente pessoais, essa lista não contempla muitas mulheres no metal. A que vos escreve não tem muita familiaridade com o estilo. Mas a banda canadense de heavy metal não poderia ficar de fora. O primeiro álbum, Split (2000), inaugurou o novo milênio com os dois pés na porta, vendendo mais de 100 mil cópias em menos de 3 meses. O último lançamento foi I’ve Failed You (2011). Desde 2017, ano da morte da baixista Trish Doan, o futuro da banda é incerto.
St. Vincent (1982)
St. Vincent ainda era Annie Clark quando lançou seu primeiro EP, Ratsliveonnoevilstar, em 2003. O álbum foi gravado com alguns colegas que estudavam com ela na Berklee College of Music. Já adotando a persona St. Vincent, ela lançou o álbum Marry Me em 2007. Dali para frente, ela foi incorporando elementos (musicais e visuais) do pop, notavelmente em seu ápice no álbum Masseduction, de 2017.
Brody Dalle (1979) – Distillers, Spinerette
Aos 16 anos, Brody já se mostrava singularmente genial. Sua primeira banda, Sourpuss, lançou um álbum homônimo em 1995. É maravilhoso. O Distillers, formado em 1998, foi só uma alavanca para o sucesso de Brody. Ela é uma das poucas mulheres a ainda ter sucesso comercial tocando punk. Seu álbum solo, Diploid Love (2014), tem influências pop que se incorporam muito bem às suas raízes punk. Em 2019, o Distillers anunciou que estavam entrando em estúdio. Até agora, só expectativas.
Brittany Howard (1988) – Alabama Shakes, Thunderbitch
A maior voz do blues das últimas décadas. Brittany, ao lado do Alabama Shakes e Thunderbitch, resgata sonoridades das mulheres do blues clássico das décadas de 50 e 60 com pitadas de rock. Em seu trabalho solo, ela incorpora o pop ao blues de maneira única, como mostra seu primeiro álbum, Jaime, lançado no ano passado.
Meg White (1974) – White Stripes
Meg e Jack criaram o White Stripes em 1997. Dois anos depois, eles lançaram o primeiro álbum, homônimo, e começaram a tocar nos arredores de Detroit. A simplicidade ímpar da bateria de Meg acarretou-lhe muitas críticas; mais pelo fato de ser uma mulher tocando do que ser uma musicista que dispensava o virtuosismo. Meg foi muito diminuída por seu estilo de tocar e sua (suposta) falta de técnica. Mas ninguém foi capaz de superar sua singularidade. Muito pelo contrário: o estilo de Meg marcou — e o faz até hoje — uma geração de musicistas que, a partir dela, resgataram esses elementos medulares da bateria do rock.
Eva Walker (19??) – The Black Tones
Eva é uma das mulheres que está reescrevendo a história das mulheres negras no rock. Ao lado do irmão, Cedric, ela estreou com a banda de garage rock Black Tones em 2018 com o single The Key of Black (They Want Us Dead). No ano seguinte, lançaram o álbum completo, intitulado Cobain & Cornbread. Eva combina timbres ásperos de guitarra a melodias vocais (e que voz!) virtuosas de forma maravilhosa.
Dani Miller (1993) – Surfbort
A líder da banda estadunidense Surfbort já é um ícone. Ela é uma mistura explosiva e repaginada de todas as gerações anteriores de mulheres do rock. A banda está em atividade desde 2015 e em 2017 lançou seu primeiro EP punk-visceral, Bort to Death. Dani ficou conhecida mundialmente após estrelar uma propaganda de batom da Gucci. Mas, para além dos acessórios patriarcais e capitalistas, o que merece atenção é, de fato, é a energia e a atitude incansável da vocalista.
Beth Ditto (1981) & Hannah Billie (1981) – Gossip
A Gossip foi criada por Beth, o guitarrista Brace e a ex-baterista Kathy Mendonça (menção honrosa nessa lista!) em 1999. Os primeiros álbuns tinham a sonoridade de um garage rock bem típico. Com a entrada de Hannah na banda e o lançamento do terceiro álbum, o popular Standing in the Way of Control (2006), a Gossip começou a mostrar seu dance punk com rajadas de new wave. Beth anunciou o fim da banda em 2016 e desde então se dedica à sua carreira solo e à sua marca de roupas.
Amy Taylor – Amyl and the Sniffers
Amy faz parte da geração de mulheres que está repaginando o punk com maestria. À frente da banda australiana Amyl and the Sniffers, Amyl resgata e reinventa o punk de 77 com uma nostalgia deliciosa do que nunca vivemos. Formado em 2016, o grupo só lançou um álbum até agora. Os dois primeiros EP’s, de 2016/7, já entraram para as paradas do Reino Unido.
Big Joanie
Stephanie, Stella e Chardine formaram a Big Joanie, em 2013, para confrontar a cena masculina e branca do punk/garage londrino. Em 2014, lançaram o EP Sistah Punk e de lá para cá têm conquistado e inspirado cada vez mais mulheres da cena ao redor do mundo. Elas agora estão preparando o segundo álbum, que será lançado pela Third Man Records em breve.
Nikki Hill
Nikki é uma mistura de vários universos sonoros: R&B, blues, rock clássico e rockabilly. A vocalista e compositora traz muitas sonoridades do início do estilo, das década de 50 e 60, e adiciona a originalidade de seus timbres vocais extensos, rasgados e maravilhosos. O último álbum, Feline Roots, de 2018, é simplesmente incrível.
Lisa Kekaula (1967) – The Bellrays
A vocalista do Bellrays funda a banda em 1990, mas entra na lista apenas nesta década pois ela só melhora. Vinte e nove anos separam o primeiro do último álbum da banda, mas ouvir Lisa (que já fez backing vocal para o Stooges e para a reunião do MC5) é sempre como se fosse a primeira vez.
Joy Vay – TV Tramps
Joy Vay é uma figura conhecida da cena punk e underground de New Jersey desde 2010. Com a TV Tramps, lançou o álbum Rip It Off em 2014. O primeiro show da banda foi em 2010, como banda de abertura para ninguém menos que The Avengers. De lá para cá, a TV Tramps já abriu para bandas clássicas do punk de 77 como The Vibrators, Rezillos e Jello Biafra.
A.J. Haynes – Seratones
A.J é uma dessas musicistas maravilhosas que sabe misturar rock e soul de maneira única e atual. E muito versátil também. O álbum Choking Spirit (2016) é uma fusão de garage e punk, enquanto Power, lançado no ano passado, é um disco mais experimental com bastante soul e pop. A versatilidade de A.J é nitidamente deliciosa de se ouvir.
Alicia Bognanno – Bully
A banda Bully, formada em 2013, era inicialmente um trio com Alicia à frente. Mas após a ascensão ao assinar com a Sub Pop e lançar o segundo álbum, Losing (2017), o projeto acabou se centralizando na mulher que é vocalista, compositora, guitarrista, produtora e engenheira das canções. Alicia é uma artista completa e, apesar do sucesso, ainda se mantém na estética e sons mais LoFi.
Jack Torera – The Jackets
Jack é uma cantora, compositora e guitarrista suíça. Ela é conhecida principalmente por seu trabalho com a banda de garage punk The Jackets desde 2008. No ano passado, eles lançaram o maravilhoso álbum Queen of Pill pela Voodoo Rythm Records. Mas Jack também tem um trabalho solo muito interessante como one-girl-band. Dá para perceber como a estética desse projeto dialogam diretamente com a estética ímpar do The Jackets, reforçando a sensibilidade artística de Torera.
Olivia Jean (1990) – The Black Belles
A vocalista e guitarrista de Nashville é conhecida por integrar a banda Black Belles, unida por Jack White em 2010. Tanto na banda quanto em seu trabalho solo, Olivia sempre resgatou os ares, timbres e melodias de um garage rock cavernoso dos anos 60 que, somados à sua estética, remonta e reinventa o estilo para essa nova década.