Minas de ouro da eletrônica: falamos com as garotas que fazem a diferença no cenário nacional
Por Jade Augusto Gola. Ilustração: Amanda Mussi.
São vigorosas e criativas mulheres que armam, produzem, conceitualizam e divulgam festas e noites de clubes Brasil afora. Elas não portam apenas uma função ou outra – produtoras ou promoters, por exemplo -, mas estão à frente de muitas atuações dos acontecimentos notívagos, inclusive o DJing.
Nesses diversos papéis, qual a particularidade das minas no cenário nacional? Onde e como se empoderar num ambiente ainda tão masculino (e machista) como a música? Conversamos com diversas promoters e produtoras para saber de suas sensibilidades, opiniões e compreender melhor essa justaposições de funções na criação e na divulgação das festas. Vamos ler o que essas gurias têm a dizer? Featuring Andrea Gram, Claudinha Pinheiro, Kisy Momoli, Niketa, Suzana Haddad, Eli Iwasa, Anna Biazin, Monique Dardenne, Tay Nascimento, Cashu, Laura Diaz, Lala K e Amanda Mussi.
ANDREA GRAM
24 anos de discotecagem fizeram Dona Gram ser um emblema das mulheres DJs, destacada por muito tempo como algo fora da curva em um ambiente masculino, divulgando uma música eletrônica ainda incipiente lá nos anos 90 (ela contabiliza 1000 entrevistas, da Xuxa à TV Cultura).
-DJ e produtora
“Em 94 encabecei meu primeiro projeto solo, o Club Alien, convidando DJs + live PAs. A divulgação era via fax e flyer. Ao mesmo tempo, abri o leque para outras esferas: trilhas para desfiles, TV, direção musical e etc. Hoje na Dsviante somos um coletivo de DJs incríveis, uma produtora super artística e uma promoter maravilhosa. Fazemos festa na rua, em ocupações, lugares inóspitos e clubes também. A divulgação é feita no Facebook, e entre as festas coletivas no boca a boca”.
“O difícil é achar o lugar apropriado, com acústica, localização boa e uma arquitetura diferente. A divulgação vai pelo line-up da festa, direciono para quem quer ouvir aquele som, mas adoro novos públicos, mostrar o que está sendo feito”
-Intuição e o protagonismo feminino
“Existe sim o toque feminino, desde o visual até a escolha da música. Hoje em dia são várias meninas, uma lista sem fim, a maioria do cenário atual é feito por mulheres.”
-Atuando num universo masculino
“Há machismo mas eu não me importo, simplesmente faço o meu trabalho com muito afinco e maestria, pensando na pista somente. Mas sim, rolam até umas sacaneadas, do tipo, o técnico cortar a música, saturar o grave ou causar uma “pane”… Já tive esse desgosto, mas também já contei pra todo mundo hahaha”.
CLAUDIA PINHEIRO
Claudinha frequenta as festas de SP há 20 anos. Hoje produz e divulga a Dsviante, a Rebolado e colaborar com Mamba Negra e Carlos Capslock, sendo uma prova da rica interação e simbiose entre as festas de SP.
“2015 foi um grande ano para as festas independentes. Temos um diálogo aberto entre os núcleos, não fazemos uma festa quando tem outra marcada. Essas festas ajudaram a criar um público que vai atrás do que de legal acontece na cidade. Cada festa tem sua identidade musical, artística e cenográfica”
-Divulgação online
“As redes sociais são grandes aliados, mas ultimamente tá complicado divulgar pelo face. Temos pensado em novas formas de divulgação. Minha participação na festa vai muito além de somente promover: produzo, faço contato com artistas e o que for necessário para realização da festa. Inclusive a limpeza do local. Quanto à divulgação, a galera que vai as nossas festas gosta tanto que compartilha, divulga, se empolga mesmo”
-Quando você nota que a festa foi um sucesso?
“O sucesso de uma festa para além da bilheteria é o público e a maneira como se entregam na festa. Outro dia a Cashu comentou: você percebe que a festa foi bapho quando escrevem pedindo para retirar fotos comprometedoras (risos)”
-O machismo onipresente
“Não toleramos nenhum tipo de comportamento abusivo nas festas venha de quem vier, homem ou mulher. Estamos atentos. Tudo depende da forma como você se comporta e reage”.
KISY MOMOLY
Guria que deixou um sólido emprego na FGV para ser promoter do Warung, clube catarinense onde está há 11 anos; Kisy cuida ainda da Terraza, do RMC Santa Catarina, Creamfields Brasil, MOB e tantos outros agitos.
-O segredo para encher a casa
“O principio sempre foi e sempre será: quantidade não significa qualidade. Com a experiência, passa a ser fácil identificar qual tipo de cliente tem maior identificação com cada casa e atração e também quais são adeptos a experimentar algo novo”.
-Lidando com os VIPs
“Ser VIP é relacionamento e comportamento, não é status, fama ou dinheiro. E muito menos, má educação. Às vezes leva algum tempo para as pessoas discernirem esses valores. Um bom VIP é aquele que contribui para o evento. É acima de tudo educado, aberto às experiências e em sintonia com a proposta da noite. Ele entende o momento de ser VIP, entende as limitações de cada evento, a disponibilidade de acesso que cada evento permite sem que isso se torne uma ofensa no dia em que, eventualmente, ele receba um não.
“Virar DJ parece ser uma tendência comum, porém nunca tive essa vontade. Minha verdadeira aptidão é lidar com a outra grande estrela da noite: o público. Acredito que nós, promoters, tenhamos sensações parecidas às dos DJs durante uma festa: satisfação ao ver pista cheia e dançante, elogios pós-evento, observar a resposta ao set construído… Essa sintonia leva ao sucesso do evento”.
-Respeitem as minas!
“A representatividade feminina é muito alta e essencial hoje em dia. As mulheres não devem permitir seu estereótipo e as meninas promoters devem ter ciência da sua responsabilidade no momento em que se tornam comunicadoras de massa, exigindo um tratamento respeitoso e um diálogo de igual para igual.”
NIKETA (Nicolli Pentado)
Filha da nova geração hedonista da Vooodoohop, Niketa já esteve à frente da curadoria da Casa da Luz e hoje comanda a Blum, promissora festa do roteirão paulistano. Ela também produz e toca seus próprios sons.
-A era das festas livres, longe dos clubes
“Não tenho paciência para ir em lugares sistemáticos de muita visibilidade, pois o público acaba sendo muito novo, existem muitas regras, seguranças mal educados, não pode fumar dentro, não pode sair com bebida, isso realmente estraga a meu bem estar. Gosto bastante de festas na rua, proporciona um clima despretensioso, as pessoas estão muito mais livres e contentes pois não tem nem um vinculo financeiro com o que está sendo cedido, acaba sendo um presente pros convidados, a pista fica uma delícia. Para mim uma boa festa tem de ser em um lugar diferente, assistemático, com um bom som, boa cenografia, público agradável e intimista. Curto pistas pequenas.”
“Como trabalhamos com amigos, às vezes nem todo mundo é compromissado. Isso atrapalha um pouco. A divulgação é sempre complicada num todo, pois são vários detalhes: desde os patrocínios à linguagem e o formato do evento. Tudo deve ser analisado com calma, horários de postagem, imagens cativantes, e também muita caixa de mensagem”
-Todo mundo quer fazer festa
“Ano passado foi um ano difícil, pois além da crise, surgiram muitas festas ao mesmo tempo com propostas muito parecidas, então acabava acontecendo sim de ter mais de duas festas no mesmo dia. Mas acredito que exista espaço para todos, é sempre legal que a cena cresça, então a saída é sempre a criatividade e um bom trabalho, para que a ‘competição’ seja de bom resultado para todos”
ÉRICA ALVES
Produtora musical, voz do Drone Lovers e agitadora de eventos à frente de sua assinatura Baphyphyna, nome da Red Bull Music Academy 2016, Érica tinha que estar nessa lista do empoderamento feminino clubber!
-A intuição feminina existe?
“A intuição se torna forte quando se é forte, né? A palavra intuição dá uma abertura à ideia de que as mulheres são irracionais, sendo que não há nada de irracional nas escolhas e exigências que ousamos fazer. O mundo projeta uma maturidade na gente desde que somos bebezinhas, seja na expectativa de que sejamos boas donas de casa e mães, seja de sermos profissionais do cuidado como professoras, enfermeiras, prostitutas, faxineiras e etc. São funções que exigem muita sabedoria e muita força individual, temos que “segurar” a barra toda hora”.
“Eu uso essa sabedoria feminina o tempo todo para me guiar na vida pessoal e na carreira, fazendo escolhas que me energizam, que me levam a pessoas que estão interessadas em me apoiar não só como artista, mas como ser humano também. Pode chamar de intuição, mas eu vejo como sabedoria”
-A noite ainda é dos homens, e isso tem que mudar
“Percebo o machismo na noite atuar de diversas formas: colegas duvidando da minha capacidade, procurando falhas técnicas minhas, dando em cima, avaliando minha presença cênica, se importando com meu look, etc. Esse tipo de coisa a gente se fortalece depois de um tempo e aprende a lidar com isso, muitas vezes de forma positiva, artística e política. Mas o machismo que está mais precisando de atenção nessa onda do feminismo na música eletrônica é a questão trabalhista mesmo, o principal fator que nos impede de nos firmar na cena de forma consistente”
“Como trabalhadoras da noite é que podemos enxergar melhor a desigualdade de gênero no ramo. Os trabalhos mais precarizados como de limpeza, de recepção, de assistência de bar são majoritariamente feitos por mulheres. Ocupar um lugar de destaque nesse universo é ainda algo subversivo, porque mexe com a estrutura da balada.”
SUZANA HADDAD (Casal Belalugosi)
A mina do Casal Belalugosi, que surgiu tocando psychobilly e agora empunha o “techno vampiresco” que é tema da Vampire Haus, festa do centrão paulistano onde a dupla toca com vinil e preza pelo caos underground. Algo que parece incomodar quando se trata de uma mina…
-Divulgação e a busca por um diferencial
“A VAMPIRE tem um público bem habitual, específico dela, mas o legal da festa de rua é que ele abre público, não fica preso em um público específico, o limite da rua extrapola as dimensões palpáveis. Além disso, a VAMPIRE tem um conceito próprio do som Techno Vampiresco dos residentes que é diferente das outras festas”.
-Divisão das atividades com o boy
“Eu e o Loki somos na VAMPIRE HAUS o que somos na vida. A praça é a extensão da nossa casa. E a gente desmonta a casa e monta tudo na praça na parceria, dividimos as tarefas em dois, como fazemos no nosso dia a dia pra tudo. Um cuida da mesa de som, e o outro cuida mais dos acontecimentos na praça”.
-Mulher, ser invisível
“Tem muita gente incomodada com mulher tocando no vinil. Tem gente que só parabeniza a festa e a discotecagem para o Loki, e nem olha na minha cara por exemplo. Tem gente que só paga o cachê na mão do Loki. Tem muita mulher machista também. E tem muita mulher do underground que se diz feminista e no final se alia a homens machistas.”
ELI IWASA
DJ, agitadora de raves desde os anos 90, promoter da histórica festa Technova (Lov.e) e rainha da noite em Campinas (SP), onde cuida de 4 clubes, Eli é inquieta, sempre na busca pelas novidades musicais e do público.
-Montando uma festa, lotando um clube
“O maior desafio é sempre encontrar o local ideal que possibilite um evento 100% regularizado e com segurança, e que ao mesmo tempo seja bonito, acolhedor e tenha a ver com a proposta da festa. É sempre um desafio trabalhar novos artistas e nomes, ou quando eles são muito avançados para o público que divulgamos.”
“O mais importante é criar uma relação em que o público confie no que você faz – quando ele sabe que você vai entregar um bom evento, com boa música, e as pessoas certas. Num universo em que as opções são tantas, nada mais precioso que ter um público fiel, que aprecia, e acredita no seu trabalho.”
-Promoter ontem, promoter hoje
“Antes os clubes, a imprensa e os DJs centralizavam muito da informação. Hoje o público tem acesso a tudo, às vezes muito mais que você (risos). Além da divulgação ser quase que totalmente focada na internet, a velocidade em que as coisas acontecem, e em que tendências mudam é quase assustadora. Tenho a necessidade de me manter atualizada, seja como DJ ou como dona de club, mas sempre tenho a sensação de que não sei o bastante, que não tenho todas músicas que preciso. Sinto dificuldade maior em filtrar o público, em chegar às pessoas certas – mais do que conhecer ou ter o artista mais bacana.”,
-Lov.e: escola do empoderamento feminino
“Vim de um lugar que considero minha grande escola, o Lov.e Club, que teve figuras femininas muito fortes em cargos estratégicos, então eu sempre me senti muito fortalecida por ser mulher. Ao mesmo tempo tenho consciência que muita gente (homens e infelizmente, mulheres também) nos achava mandonas demais, bocudas demais e talvez independentes e livres demais.”
Anna Biazin
Quinta-feira na bombada noite Moving do D-Edge, quem você vai encontrar por lá? Anna Biazin, recebendo e se divertindo com o público. São 11 anos por lá, que lhe deram bom know-how de noite exitosa.
“Em mais de 11 anos de Moving a música mudou bastante e o publico também, não podemos trabalhar o publico antigo, as pessoas casam, seguem seus rumos e outras pessoas mais novas vem e frequentam. Assim acaba acontecendo um giro natural.”
-Os amigos, os convidados e os interesseiros
“Vivo rodeada de pessoas, muitas gostam de mim pela minha pessoa, outras já estão interessadas em VIPs, pulseiras, tocar e etc… Mas eu acho natural também, faz parte, ter jogo de cintura para saber lidar com todas essas situações”.
-Promoter-DJ
“Gosto muito de música, mas para que eu virasse uma DJ eu teria que ter um belo equipamento em casa e gostaria de saber tocar verdadeiramente bem. Além disso, todo mundo já é DJ, todo promoter já virou DJ. Meu foco é não misturar as coisas, como acaba acontecendo com muito promoter-DJ”.
-O machismo onipresente
“Sim, há machismo, ainda tem pessoas ridículas que ligam perguntando se na quinta frequentam pessoas normais ou héteros… Oi, né? Fico ofendida e bem irritada com esse tipo de pergunta infame! Respondo: aqui as pessoas vem para dançar, e não fazemos objeções sobre quem quer que seja”.
Monique Dardenne
Na outra ponta do glamour da noite e da produção cultural está Monique, moça de escritório e foi tema de um perfil por aqui: booker e manager de artistas, ela que faz o Boiler Room Brasil e é label manager do Skol Music.
-Lista e divulgação que acontecem por si só
“(No Boiler room) quem faz a lista são sempre os artistas ou um RSVP direto pelo site, a parte promocional é apenas levar as pessoas a assistirem a transmissão online. Mas essa também acontece bem orgânica pelas redes sociais.”
“Produzir um evento é uma coisa, e divulgar é outra. Às vezes a pessoa que produz só cuida mesmo da produção e contrata pessoas específicas para divulgar/promover, e quem divulga/promove não tem o dom ou não gosta da parte de produção – contratar serviços, checar a montagem – prefere ficar somente na parte de relacionamento com os convidados, fazendo lista, comunicando o evento. Mas claro que existem profissionais que fazem as duas coisas juntas e uma coisa completa a outra. “
-Empoderamento!
“As mulheres estão se posicionando, aparecendo mais fortes e cada vez mais mostrando igualdade na atuação de atividades que antes eram apenas atribuídas a homens. Felizmente a atitude da mulher mudou e isso faz todo um movimento acontecer e se abrir para mudanças.”
Tay Nascimento
Tay é engraçada e boa de papo, e a filosofia vai longe quando ela pensa na noite na produção cultural a partir do Rio de Janeiro. Moça de verve que ama música, festa e dançar, ela já cuidou de uma renca de festas: Chá de Fita, Quintavant Swing, Síncope, Creme, Bota na Roda, Ravegótica, GOTA e GIRA.
“Fazer festa é carregar tralha, saber falar com as pessoas, negociar, ficar telefonando, escolher DJs, abdicar de ser DJ muitas vezes, abdicar de se divertir, de usar drogas, pensar naquilo conceitualmente, escrever texto, ter que dar oi para mil pessoas que você nem conhece, encher o saco das pessoas por Facebook, e-mail, ficar cansado pra trabalhar e ainda por cima conseguir pagar todo mundo e desproduzir tudo – amarradão”.
-Rio de Janeiro, terra de particularidades
“No Rio a gente tem liberdade pra fazer o que quiser e ser aplaudido pela galera. Quanto mais despretensão e oba-oba houver, mais compram as ideias. São Paulo desenvolve, formaliza e consolida ideias e o rolê com a maestria do trabalho, mas também escraviza e zumbifica seus moradores. No Rio é difícil chamar as pessoas apenas pela música boa, pela curiosidade do novo. Se a gente não trouxer o Projac pra festa, der cerveja de graça ou um DJ gringo ou de SP, não rola. No Rio não adianta só a música”
“Meu processo de construção de uma festa normalmente se dá desenvolvendo um tema sozinha ou com os parceiros de cada festa e quase sempre sobre algo que estamos passando e sentindo em relação a cultura, comportamento e política.”
-Falta mina na cena…
“As mulheres não podem pensar, tocar ou participar de uma curadoria que os caras já morrem de medo. Eu mesma contos nos dedos de uma mão só as mulheres DJ e musicistas que conheço e chamaria pra tocar aqui no Rio. A ausência da mulher desses ambientes é cultural, pois é duro aguentar um monte de caras te julgando, querendo te comer, te colocando pra baixo e subestimando….”
“Eu tento estimular as girls que eu vejo que se interessam, pra que elas não precisem de caras pra legitimá-las ou protegê-las. As mulheres encaram as pessoas e as abraçam como filhos aprendizes com muito mais facilidade que os homens. Os homens, culturalmente, competem muito entre si e estimulam essa competição entre as garotas ainda”.
Cashu e Laura Diaz (Mamba Negra)
Estudante de arquitetura ciente da ocupação dos espaços e produtora, Carol Schutzer (Cashu) agora é DJ celebrada. Laura Diaz é cantora, ativista, videomaker e voz indefectível do projeto Teto Preto. Juntas, elas criaram em SP a festa de “multi-linguagens” Mamba Negra.
-Alternativas para fugir do Facebook
“O Facebook está dificultando bastante a divulgação e o alcance dos eventos, então esse ano teremos que pensar em novas alternativas para pegar públicos diferentes. Mas em geral o mais difícil é não deixar as coisas para última hora coisa que nas desorganizações Mamba Negra acabamos fazendo muito rs”
“Passamos por um período de mais oferta de festa do que procura. Mas acho que cada festa tende a aprimorar o seu público e construir uma identidade própria, fazendo assim a demanda crescer.”
-A importância do local das festas
“O espaço escolhido para atuar interfere totalmente no resultado artístico, e também não faz sentido nenhum irmos para lugares em que nada é permitido. Passamos bastante tempo pesquisando, é uma das partes mais cansativas. Estamos mostrando que estes prédios, enquanto permanecem fechados pelo poder público, não apenas retiram o direito à moradia das pessoas, como assassinam qualquer potencial que não se alinhe aos interesses do mercado num contexto de gentrificação e especulação imobiliária”.
-Produzir e se apresentar, tudo ao mesmo tempo
“Muitas vezes as burocracias aparecem durante as apresentações. É uma loucura mesmo, muitas vezes não dá tempo para preparar bem apresentações artísticas devido a correria de produção. Mas ultimamente estamos periodizando ter esse espaço e incluir mais pessoas na produção executiva”.
-Protagonismo feminino e igualdade
“Acreditamos que tudo é um processo e que as coisas já estão mudando com o tempo e com o esforço e profissionalização das mulheres no meio. Na Mamba tem muitas mulheres envolvidas e também homens, e não levamos isso como uma condição para trabalhar com essas pessoas.”
Lala K
Laiz Rodrigues aka Lala K é o grande nome do agito recifense. Ela é DJ desde 1997 e ofício de produtora de festas veio naturalmente, tendo feito seu nome à frente da Sem Loção, festa que comprova a vocação pernambucana para o fervo a partir das brasilidades e afins.
“Aqui em recife não tem grandes clubes. Nós produzimos nossas próprias festas em lugares que catamos pra fazer. E a escolha das atrações parte do púbico que já temos bem definido nas nossas festas”
-Promoter-DJ
“Quem toca e produz sempre tem que ter uma outra pessoa junto. Porque na hora que você for tocar o outro fica lá pra segurar a onda. E também tem que saber dividir bem o tempo para poder fazer as duas coisas: montar o set e fazer a produção”
-O machismo cotidiano
“No começo rolou sim um certo preconceito, mas bem pouco. Pelo menos comigo. Hoje acho já que está bem de boa, mas claro que sempre aparece um desavisado, né??”
Amanda Mussi
DJ de beats bem atuais, produtora das joviais festas Dûsk e Egrégora, ex-integrante do masculino coletivo Metanol e ilustradora, Amanda Mussi é uma das figuras femininas que porta mais predicados na cena paulistana hoje.
-Saudades dos flyers!
“Na hora de divulgar eu acho um saco que hoje em dia tudo se resume ao Facebook. É raro você ver flyers impressos e pessoas dando o mesmo valor que se dava antes. Email não acho é muito efetivo também, daí o facebook bloqueia o evento que não é patrocinado e você tem que ficar inventando mil maneiras de atrair o público para isso não atrapalhar – o que é bom, coloca a cabeça para pensar….”
“Eu mesma não sou promoter propriamente dita. Sem querer acabei sendo dos meus eventos, mas sou da época que em se distribuía flyer em porta de balada. Inclusive sou apaixonada por flyers, eu desenho todos os meus e acho que faz uma bela diferença no interesse pelo seu evento”
-Fazendo as contas
“O estilo DIY das festas rola muito por conta de grana também. Antigamente os clubs tinham uma verba destinada para cada coisa: pro DJ, pro promoter, para os flyers, e agora nas festas é quase tudo independente e com baixo orçamento. Normalmente as festas se pagam no zero a zero, raramente dão lucro e muitas vezes rola um prejuízo”.
-Os homens estão alerta
“Na música eletrônica os caminhos estão se abrindo bastante e tem cada vez mais mulheres, mas ainda não atingem metade da porcentagem de homens. Estamos no momento em que uma puxa a outra pra trabalhar com música, e uma nova geração de pensamento está aí. Muitos homens já estão cientes de que é preciso dar mais atenção ao numero de mulheres contratadas para trabalhar com música. agora é conscientizar quem não percebeu isso ainda…”