Milton Nascimento Milton Nascimento e Esperanza Spalding. Foto: Reprodução/YouTube

Review: Com Esperanza e Paul Simon, Milton Nascimento entrega jazz genuinamente brasileiro

Jota Wagner
Por Jota Wagner

“Apesar das parcerias estelares, a composição nos apresenta um Milton Nascimento puro”

Os singles que Milton Nascimento vem nos apresentando dão a pinta de que Milton + Esperanza, com lançamento marcado para 09 de agosto, será um dos grandes discos de jazz de 2024. O álbum será lançado pela gravadora Concord Records, que tem em seu catálogo nomes como Ray Charles, James Taylor, Sérgio Mendes e Carole King — uma prova mais do que consolidada de que nosso Milton passeia no jardim dos maiores jazzistas do planeta. Mais do que isso, o mineiro é responsável por um jazz genuinamente brasileiro, muito além da bossa nova, desde Clube da Esquina, seu clássico de 1972.

Além de maestro criador de um som profundamente sofisticado, Nascimento também nos mostra que sabe cultivar boas amizades. A nova música que acaba de chegar às plataformas, Um Vento Passou (para Paul Simon), conta com a participação de Paul Simon nos vocais. Nascimento e Márcio Borges compuseram a música para Simon. A contrabaixista estadunidense Esperanza Spalding é parceira de longa data do gênio por trás de uma obra inabalável e eternizada por colecionadores de música de todo o mundo.

Em maio, Nascimento e Spalding já haviam divulgado o single Outubro, a primeira amostra de um lago sereno em meio a uma vegetação de sonoridades, a ser apreciado no tempo de Minas Gerais, cujas horas duram muito mais do que nossos mesquinhos 60 minutos.

Em Um Vento Passou, Milton mostra seu domínio sobre o cool jazz. Sua voz belamente enfraquecida (o artista tem 81 anos e já venceu várias batalhas contra problemas de saúde) se completa com versos cantados por Simon e Spalding, em português. O contrabaixo de Esperanza é um afago, e a gravação ainda conta com a condução do maestro Rodrigo Angelo Toffolo e a Orquestra Ouro Preto.

Apesar das parcerias estelares, a composição nos apresenta um Milton Nascimento puro. Sua representação é tão cristalizada que, não importa quem seja, seus colaboradores chegam no estúdio para compor mais uma canção dele. Isso é um prazer para eles, e uma honra para a música brasileira.

Muito desta banca que o compositor, cantor e multi-instrumentista sustenta vem do profundo respeito que tem com suas raízes e, principalmente, com sua própria obra. Por mais que tenha influenciado artistas em todos os cantos, ninguém pinta paisagens com sons como o homem faz. Por que então se curvar a modismos, tendências ou novas tecnologias?

Cada lançamento de Milton Nascimento é alucinógeno. Nos leva a visualizar um lugar que não existe, com ares de Jardim do Éden. Não à toa, sua música já foi resenhada como “angelical e assombrada ao mesmo tempo”. Em Um Vento Que Passou, não é diferente. Nem poderia.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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