
Brasil vive boom de shows e festivais, mas crescimento ainda esbarra na renda
Pesquisa mostra que o país já movimenta R$ 116 bilhões com música, mas só terá salto real quando houver mais equilíbrio econômico
Se você tropeçar atualmente em algum canto de São Paulo, cai de boca em um show ou festival. Artistas nacionais, gringos que vão de astros do rap a independentes dos anos 90, é agenda de espetáculos musicais para tudo quanto é lado — e muitos deles com ingressos totalmente vendidos. O Brasil atravessa uma época única na quantidade de opções em shows, e uma pesquisa recente, divulgada pela Associação Nacional da Indústria da Música (ANAFIMA), confirma a impressão empírica que cada um de nós tem, enquanto consulta o saldo da conta bancária para descobrir um jeito de comprar tanto ingresso.

Segundo o estudo, divulgado na feira Conecta+ Música & Mercado (que rolou entre 18 e 21 de setembro, em SP), o mercado brasileiro (o nono no ranking mundial) atingiu níveis recorde de faturamento no ano passado, totalizando 116 bilhões de reais. Isso significa 1% do PIB nacional. O dado mais relevante do fechamento é justamente a representatividade do segmento de shows e festivais no bolo: 86% do faz-me-rir vem da venda de ingressos, movimentando toda uma cadeia de profissionais que vão de artistas a técnicos de som e funcionários de casas noturnas.
Apesar do número bojudo, executivos da música acreditam que ainda há muito a crescer. Para isso, baseiam-se em dados de comportamento e consumo comparativo com os países que estão na frente. Segundo levantamento do instituto especializado em estatísticas de música IFPI, cada estadunidense ou inglês por exemplo, gasta dez vezes mais dinheiro com música do que um habitante do Brasil.
Somos musicalmente mais burros? Não mesmo. É importante lembrar que cada cidadão desses países também ganha dez vezes mais do que gente. Portanto, o departamento estatístico informal do Music Non Stop refez a conta: quanto o brasileiro, em porcentagem da renda média per capita anual, gasta com música em relação aos países que estão acima da gente? A resposta: 0,5% do que ganha. Praticamente o mesmo de Estados Unidos, Inglaterra e Japão e Alemanha (todos variando entre 0,4% e 0,8%), cruzando estudos sobre a renda anual média do cidadão e os dados da IFPI.

Portanto, aumentar o tamanho do mercado da música no Brasil, como anseiam todos os envolvidos, depende, necessariamente, de melhorarmos como país. Para ir a um show, antes é preciso comer, estudar, vestir-se e ter um teto decente para morar. Os músicos, produtores de show e festivais e, principalmente, o público, estão fazendo a sua parte, amando e consumindo música.