
Massive Attack no Brasil: saiba mais sobre o projeto
Um dos live acts mais importantes da música eletrônica, dupla se apresenta no Espaço Unimed, em São Paulo, no dia 13 de novembro
Após tensas semanas de expectativa, os brasileiros receberam a notícia de que terão show do Massive Attack em novembro, dia 13, no Espaço Unimed, em São Paulo. O buchicho começou quando o festival chileno Primavera Fauna anunciou o duo britânico ao lado de nomões como Stereolab, Yo La Tengo e Weezer, todos com esticadinhas confirmadas para shows no Brasil. Só faltavam os caras.

Após um tremendo vai e vem de notícias (o duo chegou a ser anunciado há duas semanas e logo retirado do ar, sem explicações da produtora), agora a festa é oficial. O show ainda terá a presença de Max e Igor Cavalera, anunciados como “very special guests”, com um número de abertura que visa aumentar a exposição da luta pelos direitos dos indígenas da Amazônia. Tudo a ver com o duo britânico, atualmente uns dos maiores ativistas ambientais do universo da música.
O projeto já esteve no Brasil diversas vezes. Sua primeira apresentação por aqui foi histórica, durante o Free Jazz Festival de 1998, ao lado de ninguém menos do que Kraftwerk. A noite ficou divertidamente como o “show que ninguém lembra”, já que os alemães pediram, na última hora, para abrir seu primeiro show no Brasil e deixar os britânicos por último. “O show do Massive Attack serviu para as pessoas ficarem conversando sobre como foi legal o do Kraftwerk”, contou o engenheiro de som Cezar Maluf a este que voz escreve, em entrevista de boteco.
Maldade. O Massive Attack é um dos live acts mais importantes da música eletrônica, responsáveis pelo primeiro álbum de trip-hop da história (embora algumas experimentações no gênero tenham sido feitas anteriormente por artistas como The Wild Bunch, seus conterrâneos). Foram também os responsáveis por mostrar ao mundo o “som de Bristol”, cidadezinha portuária a oeste da Inglaterra que revelou, mais tarde, nomes como Portishead e Tricky.
Seu álbum de estreia, Blue Lines (1991) faz parte da seleta lista de essenciais para qualquer admirador das pistas de dança. Trouxe em si a verdade de uma cidade. “Quando íamos a Londres, víamos a cidade em alta velocidade. Em Bristol tudo era mais lento, relaxado”, contou Daddy G (Grant Marshall) no documentário Unfinished: The Making of Massive Attack (2016).
Na cidade pequena, pacata, povoada por imigrantes jamaicanos e economicamente fodida — qualquer semelhança com Detroit não é mera coincidência —, a única coisa que a garotada tinha para fazer, além de tomar cerveja em pub, era curtir o som dos soundsystems jamaicanos na rua. Robert “3D” Del Naja, Grant “Daddy G” Marshall, Adrian “Tricky” Thaws (sim, ele mesmo) e Andrew “Mushroom” Vowles, amigos que se encontravam em lojas de disco para ouvir punk, new wave e hip-hop, resolveram então eletronizar o reggae, embalando-o com a tediosa neblina fria de Bristol. Blue Lines é tanto um álbum quanto um quadro, repleto de músicas e paisagens.
Em uma cidade como aquela, onde os únicos lugares para um artista tocar eram as casas dos amigos ou em uma festa improvisada na rua, o único jeito de sobreviver era cair no mundo. Mas como fazer isso em um país dominado pela música eletrônica em grandes centros como Londres e Manchester? Contando a história da sua vila em paisagens sonoras. Massive Attack fez isso com maestria. Em poucos anos, o mundo (incluindo o Brasil) pagava ingresso para ouvir o “som de Bristol”.
Em 1995, o grupo já havia se tornado uma coqueluche musical, e arrastado os parças junto. Portishead acabava de lançar Dummy, outro clássico, e Tricky saiu para seguir em carreira solo, intrinsicamente ligado à cena trip-hop — um hip-hop viajante, como bem rotulou a imprensa musical britânica. Sem esquecer suas raízes, chamaram Mad Professor, lenda do dub reggae jamaicano para remixar seu segundo disco inteirinho, No Protection. Uma sacada que rendeu a eles o prêmio Brit Awards de performance do ano.
Com o prêmio, veio a grande gravadora, Virgin Records, e um contrato que assegurava total liberdade para seus próximos discos, sem interferência interna. O sonho de qualquer artista. Juntando a verdade de Bristol, o talento dos envolvidos e um orçamento digno, o Massive Attack lançou Mezzanine (1997), o seu mais bem-sucedido álbum. Teardrop, cantada por Elizabeth Fraser, do Cocteau Twins, se tornou uma das pedras fundamentais da música eletrônica e seu maior hit internacional.
Em 1999, Mushroom também deixou o grupo, alegando a boa e velha “diferença criativa”. Desde então, o Massive Attack seguiu como um duo. Continuou abusando da qualidade de escolher artistas incríveis para colaborarem com suas músicas, como Sinead O’Connor, os caras do Spiritualized, Horace Andy, Hope Sandoval, Damon Albarn e vários outros, provando que no quesito “direção artística”, 3D e Daddy G são nota 10.
O Massive Attack chega ao Brasil em um momento em que direcionaram sua metralhadora musical para a sustentabilidade, após promoverem, em sua amada Bristol, o show mais verde da história. Um evento no qual não se ia de carro, todos os veículos de apoio e geradores foram elétricos e o mínimo de lixo foi produzido, desde os bastidores até a área pública, gerando um manual público de boas práticas para futuros produtores. O posicionamento os manteve relevantes e atuais, e isso explica o tamanho do frisson causado pelo anúncio de sua vinda ao país, em novembro.