Massive Attack Massive Attack ao vivo. Foto: Reprodução

Como o Massive Attack está mudando o jogo da sustentabilidade em festivais

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Grupo inglês vem há quatro anos trabalhando com a cientista climática Carly McLachlan

Ícone do cenário trip-hop desde a década de 90, o trio inglês Massive Attack, formado por Robert “3D” Del Naja, Adrian “Tricky” Thaws e Grant “Daddy G” Marshall, tem colocado há vários anos o ativismo ecológico como principal função de suas vidas. E usa a sua música como propulsor massivo das mudanças que quer provocar.

O seu mais novo ataque (desculpem pelo trocadilho irresistível) é um show com tantas inovações no cuidado ecológico, que faz os outros festivais verdes parecerem uma carvoaria a céu aberto. A banda levou 25 mil pessoas a seu festival em Clifton Down, um parque de sua cidade natal, Bristol. O chamado Act 1.5 Climate Action Accelerator serviu como uma verdadeira vitrine de boas práticas para grandes eventos. Sim, estão mudando o mundo.

A ideia começou a tomar forma quatro anos antes, quando o Massive Attack ajudou a produzir um estudo sobre a emissão de carbono em grandes eventos. Em parceria da cientista climática Carly McLachlan, mapearam tudo: da poluição produzida pelo deslocamento do público e dos artistas até o festival, aos geradores de energia e o lixo produzido durante o rolê. A partir dali, o grupo e sua equipe começaram a bolar regras para um evento até então nunca visto no que diz respeito ao cuidado com a baixa produção de lixo e emissão de carbono. O resultado foi testemunhado dia 25 em Bristol. As práticas usadas pela equipe se tornarão públicas, em um livrete online a ser disponibilizado.

Para começar, o primeiro inimigo a ser combatido foi o óleo diesel. Todos os veículos de transporte usados antes, durante e depois do festival são elétricos. Os geradores de energia usaram baterias de LED, no lugar dos barulhentos e fedidos geradores a óleo diesel. O resultado foi uma economia de incríveis dois mil litros de óleo em um só dia. A produtora do evento ainda fechou um acordo com a companhia de trens local para garantir que ninguém fosse de carro, nem mesmo os de aplicativo. A ação deu tão certo que a prefeitura de Bristol está desenvolvendo um plano de trabalho para que todos os eventos em Clifton Down funcionem da mesma maneira.

Toda a comida servida no festival era entregue em embalagens não plásticas e biodegradáveis que, ao invés de irem para lixeiras, eram jogadas direto em composteiras. Copo descartável? Nem pensar. O rolê tinha até mesmo postos para que os frequentadores lavassem seu próprio vasilhame. O resultado, ao fim da festa, foi deliciosamente assustador. O parque se viu limpo, ao contrário das montanhas de sujeira deixadas em sacos de lixo (ou no chão) dos eventos anteriores.

Governo, público e mídia viram o último show do Massive Attack como transformador. A banda subiu a régua do que é considerado um evento realmente “verde”. Ao compartilhar gratuitamente tudo o que foi aplicado em seu festival, a banda coloca a seus colegas a situação de que é possível fazer, basta ter vontade. Um modelo que deverá ser replicado no mundo todo, uma vez que os festivais de música têm sido a mola propulsora de boas ideias na questão ecológica.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.