Planet Hemp em 2022 Planet Hemp – foto: divulgação

Marcelo D2 “culpa” governo pela volta da formação original do Planet Hemp. Grupo lança com Criolo primeiro single em 22 anos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Distopia, o primeiro lançamento em 22 anos, já foi apresentada em alguns shows, um aperitivo para o álbum de retorno da banda, em outubro.

E a culpa é do atual presidente. Segundo Marcelo D2, a pandemia e o “descaso do governo – que só foi crescendo e colocou o país numa situação de violência absurda – pareceu um chamado a criar algo e a nos posicionarmos por meio da música. Era como se cada um estivesse em um canto até o momento que recebemos o chamado do Batman. Esse foi o momento em que entendemos que era necessário tirar a poeira da capa e voltar para unificar o público”.

Explicadas as condições climáticas que ressuscitaram uma das maiores bandas do final do século no Brasil, vale contextualizar o momento em que o Planet Hemp surgiu e tomou conta da molecada a partir de 1993. Nascida na rua do Catete, no Rio de Janeiro, a partir de uma amizade entre os membros originais Marcelo D2 e Skunk, a banda surgiu dentro da cultura maconheira. Inicialmente pensada como um grupo de rock, o D2 e sua turma logo migraram para o rap graças à inabilidade em tocar direito um instrumento. Um movimento inspirado nos ídolos novaiorquinos Beastie Boys.

O nome, Planet Hemp, foi retirado da revista americana especializada em canábis, High Times. As letras usavam o hábito daquela geração em fumar unzinho para discorrer sobre, na real, sobre a liberdade de escolha. Na época, o Brasil governado por Itamar Franco enfrentava hiperinflação de 2500% por ano, gerando caos econômico e político. Não seria correto dizer que “as expectativas não eram as melhores”. Para o jovem brasileiro daquele tempo, não havia expectativa nenhuma.

O espaço para jogar música no ventilador também havia ganho um importante componente. A MTV Brasil, no ar desde 1990, estava ávida por novos sons, queria ter sua imagem totalmente atrelada aos jovens e tinha poder suficiente para não se preocupar com assuntos polêmicos.

 

 

Assim surgiu, do Catete para o mundo, a banda Planet Hemp, que reverberou em casas de shows,  casas dos adolescentes e também casas de detenção: a banda teve diversos problemas com a polícia que gozava nas fardas ao aparecer na TV enquadrando a banda por apologia ao uso de drogas. Em Brasília, tiveram de ser resgatados duas vezes por Fernando Gabeira das garras do sistema, em 1997.

O primeiro disco do Planet foi lançado em 1995, se chamou “Usuário” e contava com um dos grandes hits da banda até hoje, “Legalize Já”.  Logo após o segundo álbum, “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Para”, no ano seguinte, o grupo era assunto em todas as rodas, bocas de fumo, salões paroquiais, delegacias e estações de TV. Enquanto aproveitavam o sucesso absurdo, com shows agendados por todo o país, grupos religiosos, apresentadores de programas de TV populistas, promotores de justiça e qualquer outra turma interessada em um holofote pegavam firme na luta contra os “maconheiros”. Tentavam impedir shows a qualquer custo em seus municípios, emitiam ordens de prisão e bradavam em frente às câmeras.

A pressão e a divergência entre os rumos artísticos do grupo fizeram com que BNegão, um dos seus principais caracteres, deixasse o Planet Hemp, e a partir de então o banza carburava cada vez menos, até o fim do grupo em 2003.

Já dizia Chico Buarque: “e a gente vai fumando, que também, sem um cigarro, ninguém segura este rojão”. Planet Hemp está de volta com um novo single, Distopia, após 22 anos. O grupo convidou Criolo para fazer um feat e o alvo do disco, prometido para outubro, é a lutra contra o resultado do almoço conservador que alimentou o país nos últimos anos. O material digerido pelo consumo sem moderação hoje governa o país.

Melhor se tivessem fumado um.

O novo single, Distopia, será lançado às 20 horas desta terça, 20 de setembro. A apresentação da música durante o show surpresa que fizeram no Lollapalooza em 2022, no entanto, foi registrada por um fã e disponibilizada no Youtube. Por aqui, dá para sacar que esperar do primeiro álbum oficial desde 2001 (“A Invasão do Sagaz Homem Fumaça”), desta vez com a volta do original BNegão.

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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