Mamba Negra, festa de rua ícone da resistência LGBTQIA+ em SP celebra 8 anos. Conversamos com a idealizadora Cashu
Conversamos com Cashu, uma das idealizadoras da festa independente Mamba Negra que completa 8 anos neste sábado.
Com uma história de inclusão artística LGBTQIA+ na cena underground de São Paulo, o aniversário da Mamba Negra, evento on-line e gratuito, comemora com artistas visuais, DJ sets, show da banda Teto Preto e da cantora Jup do Bairro com performances, incluindo a drag queen Kitty Kawakubo entre outras apresentações simultâneas em duas pistas.
Sete horas de evento é como um sample para quem acompanhou a trajetória da Mamba Negra ao longo desses oito anos quebrando paradigmas socioculturais na noite paulista e influenciando núcleos de todo o Brasil à valorização e inclusão artística LGBTQIA+. A festa independente foi das ruas à fábricas abandonadas explorando todo tipo de locação e formatos, cresceu junto com o sound system e evoluiu em um clima de afeto entre sua equipe que ansiava por liberdade de expressão em noites sem fim, se tornando a manifestação física da expressão jovem e do protagonismo feminino associado à arte.
Criada em 2013 pelas amigas Carol Schutzer (Cashu) e Laura Diaz (Carneosso), estabeleceram a Mamba como uma plataforma de construção e experimentação de novas linguagens artísticas, fazendo dela uma forte ferramenta de luta e celebração. Com carinho e o respeito adquirido do seu público cativado por seus ideais, a festa tomou proporções inimagináveis anteriormente por elas, como foi expressado por Cashu em nossa entrevista.
Nós não esperávamos que íamos crescer tanto, a gente foi abraçando as pautas que temos hoje e fomos evoluindo, sem imaginar que seríamos referência. Tivemos várias fases, passamos por várias coisas, a festa mudou muito, nós mudamos muito também e é legal ver essa trajetória de como ela foi se transformando e foi crescendo. Acho que conseguimos fazer com muito amor e carinho, de uma forma muito orgânica o êxtase realmente acontecia com a galera junto por conta da maneira que a festa é produzida, com nossa equipe toda unidade e que ama festa, é uma energia coletiva que passa para o público.
Nessa evolução e transformação constante, desenvolveram outras frentes como a gravadora MAMBARECS que tem seu próximo lançamento com Objeto Amarelo no dia 26/08, a agência MAMBAQUEENS que representa seus artistas sonoros e visuais, a Rádio Vírusss e agora se preparam para ampliar seu hub com um espaço de trabalho integrado com bar e cineclube. Tudo isso demonstra que por mais que muitos desafios tenham sido apresentados à elas neste país onde na maioria das vezes a cultura não é apoiada de forma eficiente para se desenvolver com facilidade no coração da cidade, o amor tornou inevitável este resultado. A Mamba carrega os propósitos de um coletivo e é essa a força motriz que impulsiona Carol e Laura, indo muito além dos próprios interesses pessoais e formando uma egrégora independente e autogerada ao culto do underground em sua essência, produzindo intervenções e articulação cultural do centro à grandes locações em São Paulo.
A gente sempre fez tudo na raça, principalmente no inicio, sempre dependendo da arrecadação da bilheteria. Com a legalização e crescimento do evento, tudo ficou mais difícil por conta de documentação, alvarás e alugueis caros. Muitas vezes ficamos sem lucro, priorizando o artístico e visuais, o que sempre acabava apertando o orçamento. Mesmo assim sempre tivemos muito cuidado para manter o público e não aumentávamos os valores de ingressos ou bebidas. – disse, Cashu.
O formato on-line para a comemoração que se aproxima não é inédito para a Mamba Negra, as cobras se mantiveram aquecidas com conteúdos exclusivos em seu canal no Youtube e com a constante participação do público em suas redes durante todo o período distante dos eventos físicos. No “glorioso” ano vinte-vinte, onde um vírus nos aproximou ainda mais dos recursos de streaming para uma pandemia de lives, a festa fez seu primeiro encontro virtual e Cashu nos revelou que “A primeira experiência no ano passado, foi uma descoberta. Não tínhamos experiência e encontramos alguns desafios de conexão, etc… Mas deu tudo certo! O maior desafio é fazer sem muito dinheiro, dependemos de patrocínio para fazer o evento acontecer.”
A transmissão do O-KULTO de 8 ANNUX no dia 7 de agosto é o reflexo dessa experiência adquirida e promete ser incrível, a gravação ocorreu em um galpão com ótima estrutura de palco de um de seus fornecedores e como o patrocínio da Beck’s, o que permitiu produzir um belo material audiovisual com a apresentação de artistas da Mamba e convidados de várias regiões do Brasil, com diversidade em gêneros musicais e artísticos, envolvendo DJs, bandas, performers e visual sets.
O-KULTO de 8 ANNUX
Totalmente o oposto de um culto convencional, ainda assim toda Mamba Negra tem caráter ritualístico em celebrações onde suas divindades tocam o que bem quiserem enquanto outras cantam ou dançam. A multilinguagem artística faz parte de sua identidade e não hesitam em trocar de pele. Enjaular a Mamba em gêneros musicais nunca foi opção para as idealizadoras e do corpo artístico da equipe que as acompanham. Onde o definido é o incerto e a surpresa, são todos unidos em respeito à livre expressão e isso que faz que público siga com identificação direta à este espaço que lhe é concedido como uma inserção social plural e cheia de diversidade igualmente como a cultura brasileira é.
A gente gosta de ter várias influencias, nunca quisemos fechar em uma coisa só, o Brasil é essa miscigenação total de vários sons com muitos estilos musicais dançantes. É importante trazer essas misturas, deixa mais leve o ambiente e deixa mais rico pra quem está participando, pra não ficar uma monótona. Desde o início nosso publico já se acostumou em se deparar com artistas novos que trazíamos e de corações abertos pra isso.
É no início da noite deste sábado, as 18h, que as notívagas saem da toca via internet para apresentações que transitam por dois palcos até as 3h da madrugada com muita música eletrônica. Sempre associada à arte, protagonismo feminino e LGBTQIA+, a programação percorre por sua pluralidade com apresentações musicais que agregam desde o funk ao brega além de performances e artes visuais únicas como disse Cashu:
A galera gosta justamente disso, indo pela festa como um todo e aberto a ouvir artistas novos com a garantia que a festa será boa, confiando em nossa curadoria, essa é a grande graça rolando uma conexão com os próprios interesses do público.
Com shows e DJs sets, estão as residentes da Mamba Negra, Carol Mattos e Cashu, que se apresentará em formato inédito de live act com Kakubo, compartilhando o espaço também com DJs de outros núcleos de São Paulo que são a BLACKCAT do Coletivo Bandida e a idealizadora da Festa BLUM, Nikkatze, entre vários artistas de outros cantos do Brasil estão as convidadas Miss Tacacá de Belém do Pará e N.I.N.A. do Rio de Janeiro.
O line-up é extenso, mas promete o mesmo dinamismo artístico das festas físicas em que as horas passam ligeiras, com performances das já queridas Alma Negrot, Trinitas e shows das Irmãs de Pau e Teto Preto, a banda que se faz presente com lançamentos na recorrentes na MAMBAREC se prepara para o novo álbum e apresenta sua nova formação já com o sabor de algumas dessas músicas inéditas.
Assinando os visual sets, temos Luzco na luz, Estúdio Margem nos artworks, vídeo arte por Guzafatia e RECREIOclubber e fotografia por Ivi Maiga Bugrimenko.
De escorrer o veneno da boca, já se estica para dar o bote com elas pelo site da Mamba Negra | https://mambanegra.org/ e confira a programação completa a seguir.
Apresentação: Paulete Lindacelva
PALCO 1
18h: Irmãs de Pau
19h: N.I.N.A
20h: KONTRONATURA com performance de Kitty Kawakubo
21h: Jup do Bairro
22h: Miss Tacacá com performance de Juana Chi
23h: TETO PRETO
00h: Cashu & Kakubo com performance de Trinitas
1h: BLACKAT DJ com performance de A TRANSÄLIEN
2h: Carol Mattos b2b Nikkatze com performance de Alma Negrot
PALCO 2
20h: grupo MEXA
22h: SYNTO