Túmulo dos vagalumes Túmulo dos Vagalumes – foto: divulgação

Livro desvenda como os desenhos animados do Studio Ghibli lidam com o luto em suas histórias

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Escritor Karl Thomas Smith se debruça sobre a filmografia do mais cultuado estúdio de animação da atualidade para nos mostrar como sua obra ajuda crianças a lidarem com o luto

O estúdio de animação japonês Ghibli foi fundado por Hayao Miyazaki, Isao Takahata e o produtor Toshio Suzuki em 1985, na capital do Japão, Tóquio. Suas animações, cheias de lirismo e fotografia impecáveis, são amadas por crianças (e cultuadas por adultos) do mundo todo.

Os lançamentos do Ghibli criaram e seguem uma receita de sucesso: produção impecável na construção das paisagens e cenários, o uso da mitologia japonesa e, principalmente, a forma como retratam as crianças. Inteligentes, sensíveis e dóceis. No roteiro de seu maior clássico, A Viagem de Chiriro, por exemplo, a protagonista, uma menina que se perde dos pais em um mundo mágico, enfrenta resistência e maus tratos de quem a conhece. Chiriro persiste na doçura, e vence, conquistando a simpatia de todos conforme demonstra a serenidade de seu comportamento. O filme venceu o Oscar de Melhor Animação em 2003.

Outro ponto notável nos roteiros do estúdio: não há a simplificação (do “bem contra o mal”0 nas personagens. Suas personalidades são mais complexas, humanas, desconstruindo a regra de crianças não compreendem tais nuances.

O livro Now Go: On Grief and Studio Ghibli, que acaba de sair pela editora 404 Ink (ainda sem edição em português), escrito por  Karl Thomas Smith, se debruça sobre mais uma característica – de igual beleza, porém pouco percebida – das produções do estúdio: como ajudam as crianças a compreender e lidar com o luto.

Smith se debruçou sobre os principais longas de Miyazaki e Takahata para identificar que a perda de entes queridos, e aforma de suportá-la, é um ponto comum em seus roteiros. No já citado A Viagem de Chiriro, a trama gira em torno de uma garota que vê seus pais serem transformados em porcos. A partir desse momento, inicia uma jornada em um mundo sobrenatural, lidando com espíritos e entidades mitológicas japonesas. Em outro grande sucesso de Ghibli, Meu Amigo Totoro, irmãos se apegam a um amigo mágico (imaginário), que os ajuda a suportar o tempo que veem sua mãe ser internada em um hospital.

 

 

“Os filmes tratam crianças e jovens como seres humanos plenos, merecedores de respeito e honestidade, mas também de cuidado e amor. Não é preciso mentir para elas. Na verdade, elas conseguem e deveriam saber toda a verdade. Senão, quando a verdade finalmente chegar, elas serão machucadas de forma muito mais profunda do que quando podiam ter realmente lidado com ela” – disse Smith à revista Dazed.

Smith percorre, através de seu livro, o roteiro de cada filme de forma bastante pessoal. As histórias da Ghibli funcionam “como um espelho”. Ela ajuda a processar temas difíceis da infância usando como ferramentas a magia, a fantasia e o mito.

O livro já pode ser encomendado diretamente na loja da 404, por 7,50 libras (algo em torno de 47 reais).

Capa de Studio Gibli

foto: divulgação

 

 

 

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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