Liana Padilha Foto: Reprodução

Perdemos Liana Padilha, do NoPorn, figura-chave da música eletrônica brasileira

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Vítima de câncer no fígado, Liana celebrava a “estranheza da mulher” há mais de 20 anos; velório será hoje (21)

A noite paulistana recebeu ontem (20) com triste surpresa a notícia do falecimento de Liana Padilha, 60, metade do projeto musical NoPorn (ao lado de Lucas Freire), com mais de 20 anos de estrada e quatro álbuns lançados. A artista lutava contra um câncer no fígado.

Segundo a jornalista Nina Lemos, o velório será nesta quinta-feira (21), no Cerimonial Pacaembu (Avenida Pacaembu 1254), entre 18h30 e 21h30.

Liana, tanto na música quanto na vida, abusava da irreverência e da luta pela liberdade da mulher em suas composições. Seu último álbum, Contra Dança, foi lançado em 2022, e celebrou duas décadas do projeto que surgiu como um live p.a. no existo reduto fashionista Xingú, no centro de São Paulo.

O NoPorn ainda emendou uma turnê europeia para comemorar o aniversário do projeto. Este foi o assunto da última entrevista que fizemos com ela, há um ano e meio:

“A ideia do NoPorn é expressar e mostrar a música em muitos lugares, para muitas pessoas, no mundo todo. Somos sonhadores, poetas e nômades nesses ‘anos 20’ bizarros”.

Liana cantava o sexo, a liberdade e o hedonismo como forma de resistência feminina. “Nossa poética musical é criada em noites sem fim na Barra Funda. Não temos nostalgia. Apontamos nossa flecha pro futuro.”

Em Contra Dança, faixa batiza o disco, repetia: “o oposto da morte é o sexo”. Assim, Padilha celebrava a vida.

Durante essa quarta-feira, as redes sociais foram tomadas de depoimentos de colegas, jornalistas e amigos com mensagens de pesar e lembranças sobre a importância da DJ, produtora, ilustradora e cantora no cenário noturno paulistano.

Liana Padilha deixa a toda uma geração de artistas mulheres lições de como expressar a luta feminina com leveza, diversão e acidez. Uma espécie de feminismo festivo. A Barra Funda sentirá sua falta.

Criado em 2002 ao lado de Luca Lauri, que foi substituído mais tarde por Lucas Freire, o NoPorn consolidou sua carreira com músicas queridinhas das noite como Xingú, Baile de Peruas e Adoro DJs. O projeto se apresentou em festivais de renome, como Coquetel Molotov, MECA e Burning Man, nos Estados Unidos.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.