Jesus cheio de dentes no país dos banguelas

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Jesus_light

Dizem que uma imagem vale mil palavras. O bonito aí da foto, agitando a galera e tomando champanhe, é o Jesus Luz, que, até a minha avó sabe, é o peguete da Madonna.

O carinha que aparece dentro do quadrado vermelho eu não sei quem é. Certamente você também não e nem vai saber. O que ele tá fazendo ali? Não precisa ser Sherlock Holmes pra entender…

Agora por que alguns ajudam esse tipo de farsa a acontecer é a questão. No caso do DJ que está mixando pro Jesus, quanto você diria que ele tá levando do cachê de R$ 18 mil que o Green Valley pagou pro “fuck toy” da Madonna. R$ 100? R$ 500? Milão?

Até agora eu achava muito divertido ver famosos atacando de DJ, porque é óbvio que os DJs de verdade se garantem e nunca vão temer uma concorrência do Bruno Gagliasso, por exemplo.

Mas esse esquema de farsa burlesca em que o Jesus Luz aparece como fantoche nem bem começou e já atingiu o ápice do ridículo. Cachês como o que ele ganhou pra tocar lá no Sul nem o Gui Boratto, nome mais bombado da cena eletrônica nacional, ganha de mão beijada.

Não bastasse isso, todo o esquema armado em torno dele – inflado pela proximidade da Madonna – que Jesus jura ser merecedor, já começou a deixar DJs de verdade putíssimos – leia noTwitter do DJ Tocadisco, que estava no mesmo line-up – com tanta mordomia, falta de noção, mil seguranças, Mercedez pra ir buscar no aeroporto e o escambau.

O que fica disso é uma sensação de vazio. É o show do creyço bonitão, sem talento nem pra tentar mixar e comandar seu próprio som. Cada mergulho é um flash, e atrás dele vem uma horda de puxa-sacos e entusiastas do talento do Jesus pra beber champanhe, bater palmas no ritmo da música e agitar muuuuito a galera.

Em tempos de Brasil em alta, Lula brilhando mais que o sol, Rio 2016, Jesus Luz surge como um brado retumbante de quanto os filhos deste solo gentil têm talento para serem levados no bico.

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.