Jeff Mills Foto: Reprodução

Jeff Mills: por que é imprescindível assistir ao mago do techno de Detroit

Jota Wagner
Por Jota Wagner

“Machado de Assis nos ensinou que todo ser humano tem duas almas. Jeff Mills as domina como nenhum outro artista”

Jeff Mills está de volta ao Brasil. O mago do techno de Detroit já pisou nestas paradas em anos anteriores, e retorna como a principal atração do festival DGTL, sábado em São Paulo. Não importa. Ele poderia ter vindo 70 vezes ao país e, ainda assim, ouvi-lo seria imprescindível.

Até porque, desde sua última visita, em 2019, Mills vem lançando uma série de álbuns conceito que elevam o techno ao status de alta arte. O genial músico de Detroit se consolida com uma verdadeiro maestro de uma orquestra de humanos e máquinas. Lançou Think Again (2021), The Override Switch (ao lado de Rafael Leafar, no mesmo ano), The Universe: Galaxy 1 (2022), Wonderland (2022, com The Zanza 22), Metropolis Metropolis (2023) e os incríveis THE TRIP – ENTER THE BLACK HOLE e The Eye Witness, este ano. Passeou pelo espaço sideral e fez, simultaneamente, uma releitura da sociedade urbana. Este é o Jeff Mills que se apresenta em São Paulo no sábado, e que você ainda não viu.

Machado de Assis nos ensinou, em O Espelho, que todo ser humano tem duas almas: uma, que enxerga de dentro para fora, e outra, que enxerga de fora para dentro. Jeff Mills domina as duas como nenhum outro artista, alternando álbuns que exploram a galáxia e outros que olham para o universo que existe dentro de nós. Escarafunchando com batidas e sintetizadores os becos mais profundos do homem. Tudo sem sair de Detroit, cidade cuja fuligem circula em seu sangue.

Seu show passa longe de um DJ set convencional. O mestre traz seus badulaques eletrônicos para mixar, ao vivo, suas músicas em uma apresentação 100% autoral, épica e interestelar. E São Paulo terá mais uma vez (e musicalmente, pela primeira vez, já que o homem tem muita coisa nova a nos mostrar) a oportunidade de estar na frente de um dos grandes gênios da música eletrônica de todos os tempos.

Não bastasse a opulência histórica de seu headliner, o DGTL São Paulo ainda nos presenteia com excelente line-up, bastante atento para o cenário eletrônico brasileiro. Muita gente ali trabalhando pelo techno e pela house local há três décadas. Merecem, também, ser prestigiados e reverenciados. Todos, não duvide, têm um pouco de Jeff Mills em sua música.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.