James Blake Vault Foto: Reprodução

Em guerra com o Spotify, James Blake lança sua própria plataforma de música

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Vault, novo serviço de streaming lançado pelo produtor britânico, oferece faixas inéditas, disponibilizadas diretamente pelos artistas

James Blake está levando a sério sua campanha contra os baixos valores pagos pelas plataformas de streaming aos artistas. Depois ter publicado uma série de postagens no X, que acabaram viralizando ao levantar novamente a discussão, o produtor britânico anunciou a criação de uma nova plataforma, que permite que artistas subam diretamente suas músicas para os ouvintes — e recebam mais por isso.

No novo Vault, usuários pagam uma assinatura de cinco dólares por mês para ouvir faixas unreleased, que ainda não foram lançadas em nenhuma outra plataforma. Ao acessar o aplicativo, já é possível ouvir títulos do próprio Blake, além de nomes como Anderson .Paak. A ideia, pelo menos no lançamento do serviço, é que fãs ouçam músicas que não estão disponíveis em nenhum outro lugar.

Mas o objetivo maior do novo aplicativo é, no futuro, reduzir intermediários e pagar mais aos músicos. James vem trazendo a público nas redes sociais a dura vida daqueles que querem viver de música, principalmente os que não conseguem arrecadar milhares de dólares em shows.

A maioria das plataformas de streaming (incluindo redes sociais como o TikTok) paga valores na casa dos milésimos de dólares por execução de uma música. O que significa que, para receber um valor equivalente a três mil doletas na conta bancária, um artista precisa ter mais de um milhão de plays em plataformas como o Spotify, por exemplo.

A facada não para por aí. Se o músico tiver lançado o disco através de uma gravadora, ela fica com metade do minguado valor pago pelas plataformas, e se estiver utilizando um serviço de distribuição (que faz o upload do disco em todas as plataformas disponíveis ao mesmo tempo), ainda tem de pagar mais 20% de taxa de administração.

Adicione a isso a gigantesca pulverização do mercado. Em uma de suas postagens no X, James Blake alegou que apenas 19% dos músicos no Spotify têm mais do que mil ouvintes mensais. O número nem de longe é suficiente para garantir uma remuneração que pague as contas, mas mostra o tamanho da concentração existente nesse cenário.

Recentemente, a Universal Music Group e o TikTok se envolveram em uma troca de acusações e ofensas públicas nas redes sociais em uma discussão sobre direitos autorais, resultando na retirada de todo o catálogo da megagravadora americana da rede social chinesa. A campanha de Blake só jogou mais pólvora sobre o assunto, que vem sendo discutido desde que as plataformas começaram a dominar o mercado.

O momento agora é de aguardar para ver se os fãs vão aderir à campanha, assinando o novo serviço disponibilizado pelo produtor, ou se seguirão preferindo a comodidade dos apps já estabelecidos no mercado, como Spotify, Deezer, YouTube Music e Amazon Music. Não há opção para aproveitar o Vault gratuitamente, em troca da disponibilização de anúncios publicitários.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

× Curta Music Non Stop no Facebook