Black Rio Black Power Imagem: Divulgação / Almir Veiga

Indispensável. Onde assistir ao documentário Black Rio! Black Power!

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Premiado documentário Black Rio! Black Power! entrou no circuito de cinemas de todo o Brasil. Saiba porque você não pode deixar de assistir

“Eu não sou comunista ou imperialista. Sou um negro em ascensão”, diz Dom Filó, líder do movimento Black Rio, que fez história no Rio de Janeiro nos anos 70 com bailes de Black Music espalhados pela periferia da cidade. A frase resume bem o tamanho da doença chamada racismo estrutural na época da ditadura militar brasileira. Um tempo em que, para justificar o indisfarçável incômodo de testemunhar uma classe social reclamando seus direitos básicos, bastava enquadrar na “turma dos comunistas”. Qualquer semelhança com os dias atuais não é, nem de longe, mera coincidência.

O depoimento, além de vários outros vindos de figuras chave do movimento Black Rio, como Carlos Dafé, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Carlos Alberto Medeiros, pode ser curtido no indispensável documentário Black Rio! Black Power! dirigido por Emílio Domingos e disponível em alguns cinemas brasileiros desde o último 6 de setembro.

Aliado ao também recente documentário Chic Show, dirigido pelo mesmo Emílio (ao lado de Felipe Giuntini), os dois filmes nos proporcionam um delicioso momento de valorização e documentação de um momento importantíssimo para a cultura brasileira, em que os negros tomaram para si o lugar de fala, transformando encontros regados à música e à dança em movimentos de transformação social, valorização da autoestima e a briga pela igualdade racial.

 

 

Nem de longe foi fácil. A turma tinha de lidar, tanto no dia a dia quanto na porta dos bailes, com os violentos enquadros das polícias militares de seus respectivos estados. Ver gente preta bem vestida, sorrindo e dançando era insuportável. E ver cada vez mais gente colando no movimento, se unindo e adquirindo senso crítico em relação ao status quo, um verdadeiro “problema de segurança pública”, na cabeça dos governantes. Afinal, ninguém com o poder na mão gosta de gente que reclama.

A edição de Black Rio! Black Power! mistura entrevistas com cenas clássicas dos bailes, onde é possível compreender toda a estética e a força do movimento que tomou conta do Rio de Janeiro. O filme está no circuito dos cinemas da Kinoplex, com 260 salas em 19 cidades brasileiras. Em São Paulo, Black Rio! Black Power também pode ser visto no cine Belas Artes e no Reserva Cultural.

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.