Ícone da cultura underground, produtor cultural e DJ André Pomba morre aos 59 anos.

Claudia Assef
Por Claudia Assef

TEXTO DANILO POVEZA

Na manhã deste domingo (23), o produtor cultural, DJ e baixista André Pomba Cagni foi cremado no cemitério da Vila Mariana, em São Paulo. Ele faleceu no sábado (22) aos 59 anos por consequências de um câncer de estômago diagnosticado há um ano e estava internado no Hospital Santa Maggiore, na Santa Cecília. Pomba foi baixista da banda heavy metal Vodu e sempre esteve ligado ao rock. Em 91, fundou a revista Dynamite (que circulou até 2008) e sempre cobriu a cena independente. Em Pinheiros, foi dono do bar Dynamite e como agitador de cultura desdobrou o selo numa ONG, num prêmio para o circuito indie e num site de notícias. Pomba foi militante na Juventude do PSDB, sendo um dos fundadores do núcleo Diversidade no partido, mesmo cargo que teve no PV; chegou a se lançar candidato a vereador pelos dois partidos e participou de núcleos de inclusão no governo estadual de São Paulo.

Para Gastão Moreira, jornalista e apresentador, Pomba foi “emblemático” no metal brasileiro. André Barcisnki, que também viveu o rock nacional produzindo dezenas de shows, o chamou de “figura marcante do underground”, impressão compartilhada pelo músico Luiz Thunderbird, que também postou sua homenagem pela conta do twitter, neste final de semana.

Ativista gay, Pomba criou no final dos anos 90 uma matinê de indie rock, no clube A Loca, o projeto Grind, onde tocou por 20 anos. Além de ponto de encontro dos jovens queer, o Grind foi palco para performers e desajustados do mainstream, um verdadeiro berçário para não-binaries antes da palavra ganhar músculo. Pomba era gentil e generoso, colocava parcerias de pé, botava gente para conversar e convidava para sua cabine de DJ as pessoas que desejassem começar a tocar, como um ainda novato DJ Paulo Tessuto, que credita às noites do Grind o começo da sua carreira.

Na comunidade LGBTQIA+, Pomba foi um “urso”, mas suas companhias eram sempre os jovens, que ele seduzia com bom humor e espírito livre. Advogava as relações não-monogâmicas desde os tempos da paquera online no chat UOL, palco onde também foi uma estrela.

André Pomba foi um agitador da cena underground, do metal à eletrônica. Foto: Reprodução Instagram

André Pomba foi um agitador da cena underground, do metal à eletrônica. Foto: Reprodução Instagram

Pomba era um conciliador e na fase do impeachment da presidente Dilma Rousseff muita gente discutia com ele sobre os rumos que preferia para o país. Mas nunca partiu dele uma decisão de cortar laços de amizade – ao contrário. Na argumentação é que amarrava ainda mais amizades. Nos tempo d’ A Lôca, a hostess Alisson Gothz conta que ele quem fazia o duro meio de campo entre a direção da casa e o staff.

A fervida pista de dança entupida de gente na festa Grind. No som, o DJ André Pomba. Acervo Anibal Aguirre

Como fã do Queen, encarnava todos os anos na ocasião do seu aniversário um Freddie Mercury à brasileira, cantando no palco da Frei Caneca a inesquecível I Want to Break Free. E depois de canções do Erasure ou Le Tigre, fazia espaço para agradar cada amigo do pop e lançar Livin La Vida Loca e Madonna antes de encerrar a noite. Agora, nossa noite encerrou um pouquinho sem o carinho do Pomba.

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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