
Após polêmica, fundadores se desligam do festival Sónar
Em sua última edição, conceituado evento espanhol sofreu boicote de artistas e público por vínculo com indústria bélica
Uma decisão que pareceu ser boa em 2018, aceitando um caminhão de grana da empresa Superstruct — fundada pelo criador do Creamfields, James Barton —, pode custar a vida de um dos festivais mais legais da história da música recente, o espanhol Sónar. Conforme te contamos aqui no Music Non Stop, o festival passou a ser boicotado após a revelação de que a Superstruct era controlada por outra firma de investimentos, a KKR, atolada até o pescoço na indústria bélica. A exposição fez com que diversos artistas cancelassem suas apresentações na última edição.

Em maio, com o início do boicote, a produção publicou um comunicado oficial avisando que não enviariam “um só euro” dos lucros do evento à KKR, e que a curadoria jamais aceitaria qualquer influência dos investidores em sua forma de trabalhar. Não foi o suficiente, nem para os artistas, muito menos para o público.
Agora, seus fundadores — e portando os responsáveis por toda a mítica em torno do conceito artístico do celebrado festival de mais de três décadas — Enric Palau, Ricard Robles e Sergio Caballero avisaram que estão saindo definitivamente do Sónar, abandonando seus cargos diretivos. O diretor Ventura Barba também anunciou seu desligamento, embora vá ficar por mais um tempo para “ajudar na transição”. Um pá de cal em cima da marca.
Sabe aquela cerveja artesanal superssaborosa que é vendida a uma grande multinacional e passa a ter gosto de água? Pois é, ao rolê espanhol, o mesmo futuro é esperado. Tão logo os fundadores anunciaram sua saída, a Superstruct avisou que François Jozic, executivo que já trabalhava na empresa, vai assumir o papel de CEO.

Após fundar a Superstruct recolhendo dinheiro de investidores para atuar no ramo de entretenimento, Barton passou a esfregar euros na fuça de vários festivaleiros. Não contou de onde vinha tanta grana, ou os empresários não quiseram mesmo saber. Fato é que muita marca mergulhou na piscina de moedas, como as conhecidos Boiler Room, Awakenings e Fields Day.
Até o rolo todo vir à tona, o Sónar era o festival que todo amante da música tinha de conhecer, pelo menos uma vez. Aliava divindades da música experimental e eletrônica a artistas que você, logo mais, iria descobrir. Tudo o que envolvia o evento era supercool, desde o lineup e a comunicação visual às locações, sediadas na hypada Barcelona, repaginada como a “cidade da arte” no final dos anos 90.
François Jozic tem um tremendo desafio pela frente, para aqueles que não se importam em apoiar empresa que lucra com a guerra.
