Desde a semana passada, o Castelinho da avenida Brigadeiro Luis Antônio, em São Paulo, virou um ponto de encontro do povo da noite. O prédio art nouveau da década de 20, tombado pelo Patrimônio Histórico, virou QG da exposição Smirnoff@Nightlife, que apresenta a noite a partir de um ângulo pouco usual, dando a ela um tratamento histórico e cultural.
Quando fui chamada para pensar numa lógica para a exposição, uma coisa ficou muito clara na minha cabeça: tínhamos uma página em branco pela frente e muito o que contar. Pela primeira vez neste país (Lula, eu?), a noite ganharia um enfoque cultural, e seus frequentadores poderiam se sentir quase que como peças de um museu.
Para montar o quebra-cabeças de forma coerente e contar a história da vida noturna dos anos 70 até os dias de hoje, mais de cem pessoas foram convidadas a revirar seus acervos pessoais e garimpar suas jóias mais valiosas. Memórias da noite materializadas através de fotos, flyers, roupas, objetos pessoas e até pedaços da cenografia de clubes.
A exposição foi dividida em salas temáticas dividas por décadas (70,80,90 e 00). Além dos objetos, os módulos cenográficos, desenvolvidos pela dupla dinâmica de arquitetos Guto Requena e Maurício Arruda, são um show para os olhos, dando a impressão de que estamos visitando uma joalheria.
Além das salas temáticas, o visitante também verá infográficos que ajudam a entender a hierarquia da história da noite no Brasil. Muito bem resolvidos (parabéns ao pessoal da Estúdia), os gráficos contam a história da evolução dos clubes noturnos e dos DJs brasileiros.
Há ainda duas paredes recheadas de vinis históricos lançados no Brasil. Tem desde o recente 16 Billion Drum Kicks, do paulistano Renato Cohen, até discos que ajudaram a inaugurar o nicho de álbuns de DJ no país, como o Maestro Mecânico, do Gregão, e a coletânea mixada New York City Discothèque vol. 1, de Ricardo Lamounier. Vinte desses vinis estão disponíveis para escuta.
Há também uma mostra de filmes e documentários focados na cena noturna brasileira. Entre os destaques estão Eu, O Vinil E O Resto Do Mundo (Karina Ades e Lila Rodrigues), 10 Anos de Música Eletrônica (Ruth Slinger), Meu amigo Claudia (Dácio Pinheiro), A Orquestra Invisível e Outros DJs pioneiros do Brasil (documentários inspirado no livro Todo DJ Já Sambou, de Keke Toledo e Ricardo Camargo Braga), além da animação Batalha: A Guerra do Vinil (Daniel Grego e Rafael Terpins).
Entre as muitos fotos espalhadas pela exposição, há imagens de grandes fotógrafos como Dimas Schittini, Fabio Mergulhão, João Sal, Célia Saito, Mujica, Mila Maluhy, Renata Chebel e Bia Guedes – que também assina o conteúdo de vídeos da mostra. Pra terminar, ainda há uma pistinha no subsolo do casarão, com uma programação esperta de DJs – e um bar, claro, com preços bem camaradas.
Se depois de ler tudo isso, você ainda não se convenceu, veja algumas fotos da Smirnoff@Nightlife. A exposição funciona todos os dias, das 17h às 24h, e vai até dia 17/10. O mais legal? A entrada é gratuita (mas atenção, como há venda de bebidas alcoolicas, não é permitida a entrada de menores de idade). O endereço é av. Brigadeiro Luis Antônio, 826.
NO RIO, DJ HUM FAZ EXPOSIÇÃO SOBRE VINIL
Idealizado por um dos ícones do movimento hip hop no Brasil, o projeto Vinil É Cultura termina neste finde no Rio de Janeiro, no CCBB. O projeto mistura exposição de vinis, com mais de 100 títulos do acervo do DJ Hum, debates enfocando o mercado musical e culmina no domingo com um workshop de dança conduzido pelo grupo Back Spin Crew.
Pouca gente seria mais gabaritada pra falar de vinis no país. O paulistano Humberto Martins de Arruda, o DJ Hum, fez dupla durante 17 anos com o rapper Thaide, com quem lançou nove álbuns, e é o produtor e idealizador do Coletivo Motirô, que lançou sucessos como “Senhorita” e “Ela é Sexy”.
Na mesa de debates, que rolam nesta sexta às 19h30 e sábado às 21h30, jornalistas, produtores, artistas e gente de gravadora enfocará o futuro da música (e do vinil) no Brasil. Entre os participantes confirmados estão João Augusto, da Deckdisc/Polysom, a rapper Nega Gizza, o colecionador Kid Vinil e o DJ Superflash, entre outros.
VINIL É CULTURA
Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro
Até 10 de outubro
Sexta e sábado, das 9h às 23h30, domingo, das 15h às 18h
Classificação etária: livre
Entrada franca