Exposições em SP e Rio retratam a cultura da noite

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Módulo em homenagem ao DJ Grego na exposição Smirnoff@Nightlife

Desde a semana passada, o Castelinho da avenida Brigadeiro Luis Antônio, em São Paulo, virou um ponto de encontro do povo da noite. O prédio art nouveau da década de 20, tombado pelo Patrimônio Histórico, virou QG da exposição Smirnoff@Nightlife, que apresenta a noite a partir de um ângulo pouco usual, dando a ela um tratamento histórico e cultural.

Quando fui chamada para pensar numa lógica para a exposição, uma coisa ficou muito clara na minha cabeça: tínhamos uma página em branco pela frente e muito o que contar. Pela primeira vez neste país (Lula, eu?), a noite ganharia um enfoque cultural, e seus frequentadores poderiam se sentir quase que como peças de um museu.

Para montar o quebra-cabeças de forma coerente e contar a história da vida noturna dos anos 70 até os dias de hoje, mais de cem pessoas foram convidadas a revirar seus acervos pessoais e garimpar suas jóias mais valiosas. Memórias da noite materializadas através de fotos, flyers, roupas, objetos pessoas e até pedaços da cenografia de clubes.

A exposição foi dividida em salas temáticas dividas por décadas (70,80,90 e 00). Além dos objetos, os módulos cenográficos, desenvolvidos pela dupla dinâmica de arquitetos Guto Requena e Maurício Arruda, são um show para os olhos, dando a impressão de que estamos visitando uma joalheria.

Além das salas temáticas, o visitante também verá infográficos que ajudam a entender a hierarquia da história da noite no Brasil. Muito bem resolvidos (parabéns ao pessoal da Estúdia), os gráficos contam a história da evolução dos clubes noturnos e dos DJs brasileiros.

Há ainda duas paredes recheadas de vinis históricos lançados no Brasil. Tem desde o recente 16 Billion Drum Kicks, do paulistano Renato Cohen, até discos que ajudaram a inaugurar o nicho de álbuns de DJ no país, como o Maestro Mecânico, do Gregão, e a coletânea mixada New York City Discothèque vol. 1, de Ricardo Lamounier. Vinte desses vinis estão disponíveis para escuta.

Há também uma mostra de filmes e documentários focados na cena noturna brasileira. Entre os destaques estão Eu, O Vinil E O Resto Do Mundo (Karina Ades e Lila Rodrigues), 10 Anos de Música Eletrônica (Ruth Slinger), Meu amigo Claudia (Dácio Pinheiro), A Orquestra Invisível e Outros DJs pioneiros do Brasil (documentários inspirado no livro Todo DJ Já Sambou, de Keke Toledo e Ricardo Camargo Braga), além da animação Batalha: A Guerra do Vinil (Daniel Grego e Rafael Terpins).

Entre as muitos fotos espalhadas pela exposição, há imagens de grandes fotógrafos como Dimas Schittini, Fabio Mergulhão, João Sal, Célia Saito, Mujica, Mila Maluhy, Renata Chebel e Bia Guedes – que também assina o conteúdo de vídeos da mostra. Pra terminar, ainda há uma pistinha no subsolo do casarão, com uma programação esperta de DJs – e um bar, claro, com preços bem camaradas.

Se depois de ler tudo isso, você ainda não se convenceu, veja algumas fotos da Smirnoff@Nightlife. A exposição funciona todos os dias, das 17h às 24h, e vai até dia 17/10. O mais legal? A entrada é gratuita (mas atenção, como há venda de bebidas alcoolicas, não é permitida a entrada de menores de idade). O endereço é av. Brigadeiro Luis Antônio, 826.

Detalhe da exposição de vinis, com disco da rainha do bumbum em audição

Fervo: Mauro Borges botou fogo na pista no dia da inauguração

Guto Requena e Maurício Arruda, arquitetos responsáveis pela expo

Eu com meu parceiro Camilo Rocha - é dele o infográfico esperto de clubes noturnos

Módulos dos anos 2000: muito electro!

Fanzine do Madame Satã de 1986: atualíssimo!

Um dos lustres do finado Lov.e Club pra fazer os mais emotivos chorar

Paulette Pink em imagem da fotógrafa Celia Saito dos anos 90

Claudio Careca (esq.) na New York City Discothèque, no Rio, anos 70

Xuxa dando pinta no Gallery nos anos 70, em foto de Dimas Schittini

NO RIO, DJ HUM FAZ EXPOSIÇÃO SOBRE VINIL

Idealizado por um dos ícones do movimento hip hop no Brasil, o projeto Vinil É Cultura termina neste finde no Rio de Janeiro, no CCBB. O projeto mistura exposição de vinis, com mais de 100 títulos do acervo do DJ Hum, debates enfocando o mercado musical e culmina no domingo com um workshop de dança conduzido pelo grupo Back Spin Crew.

Pouca gente seria mais gabaritada pra falar de vinis no país. O paulistano Humberto Martins de Arruda, o DJ Hum, fez dupla durante 17 anos com o rapper Thaide, com quem lançou nove álbuns, e é o produtor e idealizador do Coletivo Motirô, que lançou sucessos como “Senhorita” e “Ela é Sexy”.

DJ Hum é o cara!

Na mesa de debates, que rolam nesta sexta às 19h30 e sábado às 21h30, jornalistas, produtores, artistas e gente de gravadora enfocará o futuro da música (e do vinil) no Brasil. Entre os participantes confirmados estão João Augusto, da Deckdisc/Polysom, a rapper Nega Gizza, o colecionador Kid Vinil e o DJ Superflash, entre outros.

VINIL É CULTURA

Centro Cultural Banco do Brasil

Endereço: Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro

Até 10 de outubro

Sexta e sábado, das 9h às 23h30, domingo, das 15h às 18h

Classificação etária: livre

Entrada franca

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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