10 erros e acertos do Rock in Rio 2024
Edição de 40 anos já mostrou que terá muita coisa boa — e algumas pisadas na bola
Faltando cem dias para a esperada (e polêmica) 40ª edição do Rock in Rio, a organização do festival já entregou a grande maioria das atrações que ocuparão a Cidade do Rock, no Rio de Janeiro, durante dois finais de semana. Mais do que isso, a Rock World, responsável pelo evento, já bateu a meta de vender todos os ingressos para a maioria dos dias de rolê. Restam apenas opções de compra para os dias 15, chefiado por Deep Purple e Incubus, 19 (Ed Sheeran e Gloria Groove, entre os principais) e o “dia brasileiro”, só com atrações nacionais, em 21 de setembro.
O anúncio do line-up da edição de aniversário foi flambado na polêmica, principalmente por admitir em seus palcos astros da música sertaneja, feijão com arroz musical do brasileiro desde o começo do século XX, principalmente fora das grandes cidades. Uma discussão, se olharmos profundamente, meio infundada. Se o RiR sempre foi um festival pop, não há nada mais popular no país do que a sofrência.
Analizando com calma a enorme quantidade de artistas dos sete dias de festival, coisa que fizemos para publicar nosso Guia Definitivo do Rock In Rio 2024, é possível apontar erros muito mais contundentes e acertos louváveis da curadoria do festival, sob a ótica da redação do Music Non Stop. Prepare seu modo xoxo ou de enaltecimento ao festival e solte o verbo nos comentários em nossas redes sociais.
1o erros e acertos do Rock in Rio 2024
Erro 1: Histórico, mas nem tanto
Uma característica bacana do poder de contratação do Rock in Rio sempre foi valorizar a história de um gênero musical, mesclando atrações da velha guarda, novinhos e o pessoal que fez o meio campo dentro dos 40 anos de sua história. O rock terá Deep Purple e Paralamas do Sucesso, por exemplo. A MPB terá Hermeto Paschoal; o samba, Fundo de Quintal. E até a geração 2000, que chamávamos de “emo”, verá NX Zero.
Mas o cuidado histórico da curadoria não vale para todo tipo de música. Diferentemente de anos anteriores, o palco de música eletrônica, New Dance Order, passou longe da história, se esquecendo de grandes nomes brasileiros e internacionais que ajudaram a esculpir o gênero tão amigo das pistas de dança. O mesmo vale para o hip-hop. O festival chegou a anunciar Mano Brown no dia dedicado aos brasileiros, mas foi desmentido publicamente pelo artista.
Acerto 1: Cyndi Lauper em fim de carreira
A diva da New Wave Cyndi Lauper revelou, de surpresa, que fará sua turnê de despedida dos palcos entre outubro e dezembro de 2024, rodando pelos Estados Unidos. A curadoria marcou um golaço, conseguindo trazer a cantora em setembro. Para os fãs, esta será a última oportunidade de ver um show de Lauper e cantar junto hits como Time After Time e Girls Just Want To Have Fun.
Erro 2: No Norte não tem favela
O Palco Favela foi uma grande sacada do Rock in Rio, a partir de sua edição de 2019. Um espaço dedicado à música feita, ouvida e dançada nas comunidades de todo o Brasil. No entanto, pelo que vimos na programação da edição de 2024, o Norte e Nordeste do país não têm música periférica, com raríssimas exceções. A curadoria ignorou a imensa massa de artistas que estão bombando lá do lado de cima.
Acerto 2: O dia das mulheres
Dia 20 é totalmente dedicado a artistas mulheres no line-up do Rock in Rio 2024, e os ingressos já estão esgotados. Apesar de o festival ainda não estar dando espaço igualitariamente entre os gêneros (as mulheres ocupam pouco mais de 30% da escalação total), um dia dedicado somente a elas cumpre o papel de levantar a discussão sobre o assunto. E o fato de ter sido uma das datas que mais rapidamente esgotaram, mostra que o público está à frente nesta discussão.
Erro 3: A salada de brasileiros
A escolha do formato de shows para o Dia do Brasil (21) joga mais contra do que a favor para a música feita por aqui. Os curadores dividiram os horários dos palcos com foco nos gêneros musicais, e não em nossos artistas. No show Pra Sempre MPB, por exemplo, BaianaSystem, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Gaby Amarantos, Majur, Margareth Menezes e Ney Matogrosso vão se espremer em um horário que um artista gringo fará sozinho, em outros dias.
Um erro, considerando que o Brasil tem uma coleção enorme de headliners que colocam muito gringo no chinelo quando o assunto é vender ingressos — fato comprovado na enorme quantidade de festivais dos últimos anos no país. Amontoar um monte de gente para uma jam session de luxo dá o recado de que o dia serve mais à política da boa vizinhança do que à valorização da música brasileira.
Acerto 3: A outra salada de brasileiros
Deixando de fora o dia brasileiro, no entanto, a curadoria mandou muito bem na escalação de artistas nacionais, contemplando diversas gerações e estilos, o que é mais uma prova de que nós merecemos mais. O público terá a chance de ver nomes como Paralamas do Sucesso, Amaro Freitas, Ludmilla, Katú Mirim, Luedji Luna, Alcione, Ney Matogrosso, Lulu Santos, Planet Hemp e Fundo de Quintal, dentre vários outros representantes da nossa terra. Tá bonita esta salada aí.
Erro 4: O rock morreu?
A impressão que a curadoria passa para os roqueiros nesta edição é a de que não existem mais novidades no gênero. Só tem figurão ou gente que explodiu em décadas passadas na música: Deep Purple, Incubus, Evanescence, Imagine Dragons… E entre os brasileiros, Paralamas, Barão Vermelho e Planet Hemp. Embora sejam todos artistas dignos de bons shows e reconhecimento histórico, tem muita coisa nova sendo feita e fazendo sucesso, principalmente no Brasil. Neste quesito, concorrentes como Lollapalooza e Primavera Sound estão ganhando.
Acerto 4: O Global Village
Não há como ignorar a qualidade da programação do palco Global Village, dedicado a atrações menos conhecidas, mais experimentais e cabeçudas. Todos os dias do evento reservam muita coisa boa no line-up e merecem uma passadinha por lá. É o momento de conhecer algo novo.
Erro 5: África e Ásia não existem
Se o Rock in Rio pretende ser um festival global “por um mundo melhor”, como se esquecer do berço da civilização, da música, do batuque e do groove em seu line-up? O continente africano tem um infinidade de artistas incríveis, muitos deles com com longas carreiras internacionais e (se é para incluir o colonialismo) participações e parcerias com grandes astros europeus e estadunidenses. Sobrou para a incrível Angélique Kidjo, de Benin, representar um continente inteiro. Salta aos olhos também a gelada que o festival tem dado no K-Pop, imensamente popular no Brasil. E voltando ao Global Village, trazer alguns artistas asiáticos para compor o conceito “global” só faria bem.
Acerto 5: O quarteto fantástico
No dia 20 de setembro, o Palco Mundo receberá um quarteto que está fazendo história na música pop. Uma depois da outra, o público verá Katy Perry, a colombiana Karol G, Cyndi Lauper e Ivete Sangalo numa cacetada só. Sensacional. Se fizermos um ranking considerando a escalação total dos palcos em cada dia, esse aí já ganhou o troféu de melhor sequência do evento — ao menos no quesito representatividade no universo pop.