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The Mönic no The Town: energia, feminismo e o poder do coletivo
Com dois álbuns lançados e uma trajetória internacional, a banda segue ampliando fronteiras e provando a vitalidade do rock
Formada por quatro mulheres — Ale Labelle (guitarra e vocal), Dani Buarque (guitarra e vocal), Joan Bedin (baixo e vocal) e Daniely Simões (bateria) —, The Mönic é um respiro na cena do rock nacional. Misturando vocais rasgados e melódicos, batidas aceleradas e lentas, a banda levanta pautas com temas sociais e feministas, e tem chamado atenção por onde passa.

Com dois álbuns de estúdio — Deus Pício (2019) e Cuidado Você (2023) —, o quarteto já se apresentou em grandes festivais do Brasil, como Rock in Rio e Knotfest, além de gigs internacionais, passando por Argentina, Chile e Colômbia, chegando a gravar o single Nocaute em espanhol, justamente para a ocasião.
O próximo grande passo da banda é a apresentação no The Town no dia 07 de setembro, no palco Factory, onde dividirá o espaço com Raidol, uma artista não binária amazônida com um pop moderno.
Prometendo uma atmosfera energética e de pura conexão com o público, Dani Buarque falou ao Music Non Stop sobre a trajetória da banda e a importância de promover a presença feminina na cena. Confira a seguir!
Vitória Zane: No momento da nossa conversa, o Instagram da The Mönic está exatamente com 66,6 mil seguidores. Achei isso curioso para uma banda com esse nome.
Não tinha visto ainda! E o meu telefone é 666 também. Eu tenho o mesmo número há, sei lá, 20 anos.
Dani Buarque (The Mönic): Achei muita coincidência. Mas eu também vi vídeos seus comentando que mentalizou coisas que deram certo. Vocês estão numa ótima fase em 2025. Foi sorte? Mentalização? Coincidência?
Mentalização não é um negócio que você pensa e a mágica acontece. Você condiciona o seu corpo, quando acredita em alguma coisa, lembra disso e repete todos os dias, é meio que um lembrete da sua mente. Aí acaba que todas as suas decisões e todas as suas concessões, porque a gente sabe que viver de música no Brasil é uma eterna concessão, acabam te levando para esse caminho. Eu acredito muito em mentalização, mas não de uma forma superficial.
E eu acho engraçado, porque por fora a gente é chamada de banda nova porque muitas pessoas não conhecem a gente. Só que de dentro, a gente não se sente uma banda nova, porque estamos há dez anos fazendo isso, sete com a The Mönic.
Embora as meninas tenham outros trabalhos, a banda sempre foi prioridade. Todo mundo aí já foi quase demitido todas as vezes para fazer turnê. Todo mundo perde o aniversário da companheira, dos pais, etc. e tal. Então a gente não sente como se tivesse acontecendo tudo rápido.

Dani Buarque. Foto: Divulgação
O rock sempre foi um cenário majoritariamente masculino e machista. Desde o começo vocês tinham a ideia de montar essa banda só de mulheres e reforçar essa valorização feminina nas composições e performances?
Com certeza. A gente tinha outra banda chamada BBGG. E quando a gente teve uma saída do único homem da banda, a gente teve essa escolha de procurar mulheres bateristas. Eu acho que tem o fato de ter pouca mulher, né? Se a gente pode escolher agora, a gente vai colocar mais um homem ou mais uma mulher?
E também o fato de toda mulher que toca já ter o sonho de ter uma banda só de mulheres. É outra vibe, bate muito diferente. Quando eu era só público, eu não deixava de apoiar as bandas de homens que eu gostava, mas ao mesmo tempo eu questionava esses espaços. Por que tem sempre só uma mina ou não tem mina? Que loucura. Então seria um pouco de traição eu ter esse espaço, ter o microfone na mão, e eu não falar sobre ou não fazer alguma coisa sobre isso.
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Sobre essa turnê que vocês fizeram fora do país, inclusive gravando a faixa Nocaute em espanhol. Como foi a recepção do público?
A gente só teve noção do impacto no dia seguinte, porque é um desafio quando você toca em outra língua. Não falo espanhol, fiz um intensivão de Duolingo em um mês e meio, quase dois. Fiz três aulas também com uma amiga minha que é paraguaia. Tinha essa barreira da língua, e tinha a barreira de ser uma banda que ninguém nunca ouviu falar ali, ocupando um puta espaço. Isso gera um pouco de desconfiança, que não é nada diferente do que a gente vive no Brasil, onde somos questionadas o tempo inteiro. Então, eu acho que a gente entrou com tanta confiança de que a gente trabalhou muito pra estar ali… E, cara, se a galera gostar, massa. Se não gostar, massa também, a gente tá ocupando um lugar internacional, vamos aproveitar! E foi muito mágico.
Em Bogotá, na Colômbia, a gente foi conversando durante o show, eu meio que sabia a situação política, um país muito polarizado, então eu não queria deixar de subir lá e falar sobre os artistas latinos, ao mesmo tempo que também era um risco. A gente não sabia que estava sendo transmitido na TV aberta numa segunda-feira às 17h. Foi ótimo. Quando descobrimos, eu pensei: “Mano, a gente se comportou que nem uns animais! Vão xingar a gente, caralho!”. Mas o impacto foi o contrário. Eu lembro de chegar no hotel e o cozinheiro que tava servindo o jantar olhar pra mim e falar: “Meu Deus, o show de vocês foi tudo!”.
No dia seguinte, eu entrei no elevador, tinha um casal no hotel que falou: “la chica de la banda”. E a gente foi saindo na rua e foi sendo reconhecida. Fomos entendendo o impacto do show ao longo dos dias. Na internet também. Bogotá virou a segunda cidade mais ouvida do nosso Spotify, tinha mais ouvintes que Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A gente soube dos shows internacionais dois meses antes. E eu falei: “cara, vamos lançar uma música em espanhol!”. Já peguei uma versão de Nocaute e fiz na hora, super encaixou. Isso mudou muito o curso das coisas. Hoje, a gente pensa em fazer uma carreira na América do Sul, em lançar mais músicas em espanhol, porque a gente viu que, pô, conectou demais. A gente saiu muito apaixonada dessa turnê.
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Falando de festivais e grandes palcos, vocês tocaram no Knotfest, no Rock in Rio, junto com a Skrota, e agora estão confirmadas no The Town com a Raidol, que é outro universo musical. Como vai rolar?
A gente vai trazer o universo da Raidol pro da The Mönic e o do The Mönic pro da Raidol. Não é só uma participação dela no nosso show, vai ter a banda dela também. A gente fez essa escolha exatamente porque rock é a nossa vida, é o que move a gente, mas todas nós temos inspirações diversas. E eu acho que a cultura musical no Brasil é muito rica.
Essa segmentação de “rock é uma coisa e pop é outra coisa” existe mais na cabeça das pessoas, num lugar fantasioso no qual se você gosta de um, você não pode gostar de outro. Nós, artistas, nos inspiramos em diversas coisas. E pode ter certeza: nunca a gente vai tocar num lugar grande, num espaço de peso, como o The Town, e vai apresentar o mesmo show que a gente apresentaria só para o nosso público.
Vocês que escolheram a Raidol?
Sim, foi a gente. Queríamos fazer um show com uma participação de algum artista e aí surgiram alguns nomes do Pará. A gente foi ouvindo e deu um match. Não conhecíamos a Raidol pessoalmente, não éramos amigas. Só conhecíamos o trabalho dela. Então, basicamente, nosso primeiro contato foi: “Oi amiga, tudo bom? Vamos tocar no The Town?”. E nossa, ela é muito maravilhosa! Quero realmente tê-la na minha vida!
Os lançamentos recentes de vocês são bem diferentes. Temos Bitch, Eu Sou Incrível com MC Taya, que tem uma pegada de funk com rock; Pressa, com Lupa, que é mais tranquila, e Lobotomia, um single solo, mais gutural. Como vocês estão selecionando o que vão lançar? Têm algum álbum em mente, já que o último foi em 2023?
A gente vai muito no flow. Estamos em fase de composição de novas músicas, mas as coisas vão surgindo e a gente não consegue não se envolver. Esse feat., Pressa, já era uma ideia de uma banda que a gente já queria trabalhar e que gosta muito. E aí com MC Taya também surgiu meio que ao mesmo tempo. Teve também com o Meu Funeral no começo do ano. São artistas com quem a gente acha que o nosso universo se encontra. A The Mönic é muito sobre colaboração, sobre o coletivo. Acreditamos muito nessa força que o underground tem, e eu acho que o underground mostra a força que ele tem quando artistas como a gente, como Black Pantera, como a MC Taya, como o Punho de Mahin, que estão todos no The Town, estão ali no underground e, ao mesmo tempo, ocupando esses espaços grandes.
Realmente, ninguém é uma coisa só, todo mundo tem influências de várias coisas. Mas muito se diz por aí que o rock morreu. Você concorda com isso?
Eu acho que no momento a gente vive uma pulverização das mídias, e se a gente olhar com os mesmos olhos que a gente tinha nos anos 90, é muito fácil parecer que morreu. A gente compara coisas que são incomparáveis. Antes, nos anos 90, você contava na ponta do dedo quais artistas iam tocar na rádio, na TV, que iam ser consumidos. Hoje a gente tem uma pulverização das mídias, não é mais o mainstream só que habita as coisas que a gente consome. A gente tem nichos, e quem não entende o poder das comunidades acha que o rock morreu porque consome ainda só Scorpions, Guns N’ Roses, Bon Jovi… Não sai de casa, não consome a nova cena.
Claro que gente não vai ter outro Rolling Stones, porque os tempos são diferentes. Mas acho que a cena é semiviva, ela nunca morreu. Dentro dos espaços que o rock tem, eu acredito que ele vai em breve tomar as ruas de novo. Durante muito tempo, o rock parou de falar com essa galera mais jovem, porque ele estava ali sobrevivendo nos nichos, entendendo como que essa transformação dos meios de comunicação estava acontecendo. A base vem bem forte.