osgemeos Foto: Divulgação

osgemeos: “Amamos a magia de fazer as pessoas dançarem”

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Pioneira do hip-hop brasileiro e conhecida mundialmente no grafite, dupla toca na festa Reverso, que rola nesta sexta, em SP

O mundo é uma estante bagunçada. E o tempo, um meticuloso e atento faxineiro, parado à sua frente. Incomodado com aquele que bagunça, o tempo vai tirando a poeira das prateleiras, organizando tudo e, principalmente, separando as peças mais importantes e as colocando em evidência, para que todos, ao entrarem na sala, vejam primeiro o que dá mais orgulho naquela coleção, agora limpa e bem exposta.

O tempo reservou a Gustavo e Otavio Pandolfo, que assinam artisticamente como osgemeos, um lugar especial na estante, para ser enxergado logo de entrada às visitas interessadas em artes visuais e música. Pintores com reconhecimento mundial (já personalizaram até aviões), os irmãos (gêmeos, claro) nasceram na música. Mais precisamente, na cultura hip-hop.

Foram adotados, como gostam de contar, pela gangue de dançarinos de break Street Warriors, em São Paulo, ainda molecotes. “Morávamos em uma casa na rua em que eles ensaiavam. Ficávamos com a cara na janela, vendo. Foi a primeira vez que vi uma lata de spray.”

Conheçaram, ali, os quatro elementos daquela cultura: o DJ, o MC, o grafite e a dança. Se arriscaram no breakdance, entrando para a Street Warriors. Mas foi no grafite que desenvolveram um traço único, que os levou a exposições aqui e fora do Brasil.

Amantes de música, se aventuraram na discotecagem e, nesta sexta-feira (12), são parte do line-up da festa Reverso, que acontece no Central 1926, em SP. Além de osgemeos, a festa recebe ainda o duo alemão Digitalism, formado por Jens Moelle e Ismail Tüfekçi, e o DJ e produtor paulistano Phillipi (Fatnotronic) — e tem descontão de 40% pra quem usar o código MUSICNONSTOP (link na seção de Serviço, ao final da matéria).

Mandando som ou pintando muro, os manos são a full! E a massa brasileira, graças ao faxineiro tempo, vai se ligando das duas gemas que temos na arte brasileira.

Flávio Lerner, meu parça, conversou com os “meninos”.

Flávio Lerner: Poucos sabem, mas vocês têm uma relação forte com a música desde os anos 80. Como e por que começaram com essa faceta como DJs? Ela sempre esteve como um projeto paralelo/secundário de vocês?

osgemeos: Sim, começamos na cultura hip-hop em 1984, quando tivemos o contato com a dança break e, através dela, conhecemos os outros elementos da cultura: DJ, rap e graffiti. No final dos anos 80, decidimos treinar discotecagem pra entrar em um campeonato de DJs chamado DMC.

Nós já dançávamos break, cantávamos rap e fazíamos graffiti, mas mergulhamos também nesse universo da discotecagem. É uma paixão de longa data. Quando crianças, costumávamos ficar horas ouvindo os discos de ópera do nosso avô, os discos de rock dos nossos irmãos, reparávamos muito nas capas — a preocupação em criar uma capa elaborada, muitas vezes toda desenhada —, aí começamos nossa coleção de discos nessa época. Amamos a magia que existe na discotecagem, de fazer as pessoas dançarem.

E desde quando vocês estão levando a arte da discotecagem mais a sério, como uma manifestação artística e profissional mesmo? Até que ponto vocês querem ter uma carreira internacional e de muito sucesso também na música?

Como tudo que fazemos, sempre levamos muito a sério, com muito estudo e dedicação! Nós temos nossa carreira internacional dentro da arte, e achamos que, na música, as coisas vão acontecendo de uma forma mais orgânica. É sempre bom você ter outras válvulas de escape, respirar outros ares, e música é a base da criação! Sempre fomos movidos à música pra criar, e por que não criar a própria música?

Quem são os seus DJs e produtores favoritos? E quais as outras referências que guiam a sua arte musical?

Fica difícil falar de outros artistas. Somos muito abertos e ecléticos: ouvimos ópera, MPB, electro-funk, house, techno… Sempre acompanhamos os trabalhos dos artistas que admiramos — amigos próximos e pessoas que ainda não conhecemos, mas trabalhos como de Arthur Baker, John Robbie, Marseille, DJ Zegon, DJ Roger Dee, Fatnotronic, Phillipi, Ayzebuy, Júlio Torres, Eli Iwasa, Mochakk, Valentina Luz , DJ Jazzy Jay, DJ Qbert, DJ Mc Jack , DJ Ninja, DJ Nuts, Iraí Campos, Mix Master Mike, Vermelho, DJ Mau Mau, DJ Marky, DJ Hum, DJ Jazzy Jeff, Jellybean Benitez, K-Swizz, Kool DJ Red Alert, Gop Tun DJs, RHR, Nikkatze, Palms Trax, Black Coffee, entre muitos outros.

Poderíamos citar muitas pessoas, tanto da antiga geração quanto da atualidade. Sempre estamos antenados na cena atual. Achamos importante e respeitamos muito essa geração nova que vem produzindo e fazendo sons hoje em dia.

Vocês costumam percorrer diversos estilos, que vão do hip-hop retrô à house, passando por disco, boogie e electro. Diriam que seu DJ set tem uma identidade nítida, assim como as suas artes visuais?

Nós crescemos no meio do hip-hop , mas muita gente não sabe que existem muitas vertentes dentro desta rica cultura. Nos apaixonamos pelo electro-funk, que costumávamos escutar para dançar break nos anos 80: Afrika Bambaataa, Soul Sonic Force, Egyptian Lover, Man Parrish, entre muitos outros.

Nossa ligação na música eletrônica começa justamente quando decidimos estudar esse estilo e suas vertentes. Acreditamos que música é sentimento puro. Sabe quando você ouve uma música e ela te arrepia? É isso! Música e liberdade! Fazer as pessoas dançarem e você sentir a música e dançar, é um ritual mágico!

E quanto à produção musical, como andam as iniciativas de vocês nesse campo?

Estamos produzindo muita coisa que tocamos: house, electro-funk e techno. Achamos importante você tocar aquilo que você acredita. Hoje, estamos muito focados em produzir, tem muito a ver com a pintura — saber misturar as cores e ter um bom desenho e estar feliz com o resultado.

Pelo fato de envolver e pesquisar outros artistas, outras linguagens, às vezes um sample, um ruído, um barulho, ou a própria criação, uma voz, uma resenha com amigos… essa junção de energias geradas, muitas das vezes, se transforma em música. Tudo pode ser música, mas nem sempre o que é bom pra um é bom pra outro. O importante é estar feliz, tocando aquilo que você acredita, e transmitir essa energia. Quem estiver aberto, vai sentir!

Serviço

Reverso #1 com Digitalism na Central

Data: 12/01, sexta-feira
Horário: A partir das 22h
Local: Central 1926 – Praça da Bandeira, 137 – Bela Vista, São Paulo/SP
Atrações: Digitalism, osgemeos e Phillipi [Fatnotronic]
Ingressos: Lote promocional com 40% de desconto através do código MUSICNONSTOP

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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